por Wellington Amancio__
Ô Brumadinho
I —
Brumadinho
em todo lugar
Ainda eles estão ali
presentes nas ruas
nas praças nas lojas no cinema
Sua memória a fixidez
a eterna reprise
Vejo-os passearem por sobre a
imagem de um tempo
num lugar que fora
arrastado pelas águas
Os sobreviventes dizem
— nós estamos... nós somos
Resistem nos laços
não soltam as mãos
E as raízes das casas/
longas/ abraçam-se
aos fundamentos
Lutam ainda contra a lama
o metal e o fogo que
passou engolindo o rio
II —
Seus olhos
cerrados
no meio do cheiro úmido
da madrugada
E é atiçada a propriocepção
nesta geografia dos olfatos
em que tudo se
enreda de orvalho
E ali havia liquefeito
nos sulcos profundos
da palavra-da-memória
o sabor da presença
dos seus avós
Também de outro modo
eles eram o Lugar
III —
Antes do baque,
olhava este lar onde nascera
Lugar não mais
de todo familiar
Alguma coisa nova ali
a ser bem ou mal vista,
a ser negada ou aceita,
a ser dita e talvez entendida/
pairando na casa deste mundo
Havia sempre uma
sombra pequena
à contraluz da passagem
Uma mancha na parede,
uma presença que
não se anunciava
O telhado vermelho
em ripas escuras
Mil passos na sala
e a falsa calmaria
das perenes ausências
IV —
Um homem argiloso
numa camisa de força/
condição de figurante
no meio desta coisa toda informe
É que as paredes
necessitavam de pintura
nova
somente para
nos sentirmos bem
aqui
Dentro desta casa
que simula a resistência
menos cimentada e infirme
contra o fim do mundo
...................................
O aqui é o ponto mais elevado
onde um bípede escuro de argila
pode subir e laborar com certos
pensamentos
dentro da sua camisa de força
IV —
No tempo
em que fui feliz
Havia um sorriso
no meio da gente
Um sorriso verde
e por um triz