por Carlos Monteiro__
Era uma vez, numa floresta distante ‘pra’ burro, onde se reunia a bicharada provinda da Arca de Noé para sua convenção anual. Ali, felizes, alegres e contentes, embalados pela trilha sonora da Arca de Noé do inigualável Vininha, afinal, o brasileiro é musical e a bicharada não fica atrás. Toda primavera, pontualmente, estavam todos lá, em pares, para seu reencontro ânuo. Uma festa: muita água puríssima e abundante das cheias dos rios, mato verde, pasto copioso, frutas e muito mais.
Todo ano era assim
até que o homem e seu dedo, sua mão, sua mente, talvez até corpo inteiro de
pântano, resolveu queimar a mata. Papagaio, se o homem é assim, não devia, não
poderia, não pode.
O homem
conta histórias para o boi dormir enquanto a vaca vai para o brejo. Canta de
galo, dizendo ser sabedor do comportamento da natureza, mas, na verdade,
abraça-a como urso ou tamanduá. Vem cutucando a onça com vara curta, achando
que é cobra criada, sabichão, pai coruja, não percebe que Deus não dá asa a
cobra e que cobra a colheita da sementeira.
Está lá
em Eclesiastes (Eclesiastes 3:1-8): “Tudo tem o seu tempo determinado, e há
tempo para todo o propósito debaixo do céu./… tempo de plantar, e tempo de
arrancar o que se plantou;/… tempo de derrubar, e tempo de edificar;/... Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo...”.
Por que
o homem não louva-a-deus? Por que insiste em sacrificar sua criação divina?
Cuidar da natureza
não é nenhum bicho de sete cabeças, não requer prática nem, tampouco
habilidade, qualquer criança brinca e se diverte como diria qualquer bom camelô
da cidade grande —e viva Senor Abravanel. Por que está tão negligenciada?
Será que não percebe
que dará com os burros n’água agindo feito barata tonta, ou suas lágrimas de
crocodilo não o deixam ver? Os olhos de águia andam deficientes de te ver,
embotados pela fuligem e fumaça que sobe da mata? Mata que hoje é uma brasa,
mora ou não mais há como morar em suas ‘dependências’.
Sua cabeça de
bacalhau, a mente de passarinho e a memória de peixe são totais contrapontos à
memória de elefante do meio ambiente. Trata-o como amigo da onça não percebendo
que age como uma anta, tamanha é a asneira que vem praticando.
(continua...)
Carlos Monteiro é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.