por Davison Souza___
deeplek |
EU NÃO DEVO NADA A BRANQUITUDE
A BRANQUITUDE É QUEM ME DEVE
Tentam silenciar nossos corpos
Os espaços herdados pela branquitude
Naturalizados
Meu dissidente-corpo
Como navalha
Ingressou na brancura posta
E foi alvejado
Como Emicida
Eu proclamo:
“Eles querem que alguém
Que vem de onde nós vem
Seja mais humilde, baixe a cabeça
Nunca revide, finja que esqueceu a coisa toda”
Eu não esqueci
Minha memória insiste em lembrar
EU SOU COLETIVO!
Me acusam de ser neoliberal
I-N-D-I-V-I-D-U-A-L-I-S-T-A
Meu chapa,
De onde eu vim
A comunhão não nasce da branca-academia
Nasce com o filho da periferia
Comunismo na favela é a multiplicação de peixes e pães
Configuram o meu corpo como rígido
Tentando controlá-lo com palavras coloniais
Apontam minha existência nesse espaço
Como um favor concedido
Mas aqui eu não entrei…
Subverti esse espaço com meu corpo-ginga
Me disse que no Brasil
“O racismo no Brasil é diferente dos Estado Unidos
Lá o negro tem uma arma apontada na frente
Aqui, uma arma apontada nas suas costas”
Discursou para mim e atirou:
POU POU POU POU
Aqui, o racismo é polissêmico
Há armas apontadas em todas as direções
Na maioria das vezes, não se sabe
De onde o tiro veio
Mas falarão:
“FOI BALA PERDIDA, IRMÃO”
Suas brancas-palavras tentam amarrar meu corpo
Alma
Mente
Como as correntes de outrora
Mas nesse solo a (re)existência sempre se fez fértil
Nasce como uma flor
No branco-lixão-colonial
Brotando como a esperança do corpo-amarrado
Pelo branco-discurso
De quem sempre quis me ver de cabeça baixa
Limpando, cozinhando, servindo…
Meus ancestrais sopram no meu ouvido
“Eu já morri tantas antes, de você me encher de bala”
(RE)NASCI (Emicida)
Vindo como os meus ancestrais
Na calunga me banho com lágrimas-pretas
Subverto a lógica do opressor
Para que não mais passe em branco
E anuncio:
Eu não devo nada a branquitude
A branquitude é quem me deve.