por Lorraine Ramos Assis__
Em seu primeiro romance, “Enxofre”, o finalista do Prêmio Sesc de literatura 2018, Marcos Aquino, tem como ponto de partida a banda Enxofre do Canibal e seu baixista, Felipe. Através de seu ofício de Sociólogo, o autor busca retratar a juventude periférica da cidade do Rio de janeiro e seu ambiente, gostos e tradições alinhadas ao Heavy metal. Sua escrita, nesse sentido, é como o próprio gênero do rock: grandiloquente e estético, prezando por uma atmosfera em que suas personagens se deslocam pelas diversas zonas da cidade, seja de ônibus, a pé ou de carona.
Ambientado no bairro de Piedade, mas se desdobrando para outras áreas da cidade, a exemplo da zona sul, "a piedade de Marcos Aquino é outra - dura e pesada como o som do enxofre do canibal.", afirma Fernando Molica na quarta-capa.
Aquino desejou preencher uma lacuna entre os romances literários brasileiros, que não têm tradição em retratar juventudes urbanas e os gêneros musicais associados a elas. "Lado a lado, o rock e o samba, classe média e miséria, desejo de amar e pura revolta, as facetas do movimento estudantil e das mais variadas ações de protesto, a cachaça e o vinho, as convenções religiosas e o gosto de tudo que é blasfema.", escreve Fernando Vugman na orelha do livro.
Luva editora/160 páginas/R$ 44,90
Leia a entrevista com o autor:
1 - Quais são suas influências?
Jack Kerouac, Marcel Proust, Clarice Lispector e Luiz Antonio Simas.
2 - Como você descreveria o processo de criação do livro?
Utilizei minha experiência na escrita experimental em blogs literários, aliada à minha formação em Ciências Sociais (tenho doutorado em Sociologia), para escrever esse livro. Quis preencher uma lacuna entre os romances literários brasileiros, que não têm tradição em retratar juventudes urbanas e os gêneros musicais associados a elas. Quis celebrar também filosofias contra-hegemônicas que podem funcionar como recusa artística a uma imagem do Rio de Janeiro como cidade do sol, da praia e da alegria, mais atraente aos turistas do que à sua própria população. Tive a felicidade de ser finalista do Prêmio Sesc de Literatura em 2018 com essa obra, que se chamava Carnaval Dark.
3 - Como você caracteriza seu estilo de escrita?
Como um heavy metal literário. Minha linguagem é construída de modo a trazer para a literatura o sistema de composição do heavy metal. Os artifícios linguísticos da obra (excesso de figuras de linguagem, inúmeras orações subordinadas, ambientações, alongamento das frases, etc.) emanam a estética e os artifícios melódicos da música pesada (virtuosismos, grandiloquência, exibicionismo, número exagerado de notas nas frases musicais, etc.), o que permite uma sólida adequação entre forma e conteúdo. Nesse sentido, a minha escrita é como a música. Minha voz de escritor me constitui como resultado da minha conexão com um gênero musical, o heavy metal, e um território específico, o subúrbio do Rio de Janeiro.
Lorraine Ramos Assis (1996) é crítica literária e socióloga. Foi publicada em diversas revistas/jornais nacionais e estrangeiros, tais como Jornal Cândido, Cult revista, Relevo, Granuja (México) e Incomunidade (Portugal). Colabora para São Paulo Review e Revista Caliban, além de integrar o corpo de poetas do portal Faziapoesia. Pesquisa sociologia da literatura na área de gênero.