O Massacre da Faria Lima, de L.G Velani


por Lorraine Ramos Assis__




Inspirado em Rubem Fonseca e Carlos Drummond de Andrade, Luis Gustavo Velani lança “O massacre da Faria Lima”.


Em nova obra, autor explora as relações humanas sob a ótica do capitalismo


Lançado em novembro de 2023, "O Massacre da Faria Lima" (Editacuja/168pp/R$60,00) tem como pano de fundo um crime no centro financeiro de uma cidade do país. Dois funcionários e o diretor-presidente, paredes manchadas de sangue, uma katana e as consequências psicológicas do mercado são um dos tantos elementos da nova obra de L.G Velani.

O escritor paulista ressalta influências de autores como Drummond, Rubem Fonseca, Umberto Eco e Roberto Bolãno. Em relação às outras áreas, as humanidades foram uma de suas bases para o livro: Michel Foucault e Escola de Frankfurt.



Em seu processo de escrita, Velani focou nas técnicas da criação literária para aprimorar sua trajetória no romance (seus primeiros livros foram de poesia). Além disso, uma preocupação recorrente foi de ter uma linguagem acessível ao público não leitor.

“que aquilo que escrevo seja o menos hermético possível, que alcance pessoas que não estejam familiarizadas com a literatura, mas que carregue a mesma profundidade e arrebatamento que vislumbro nas obras que admiro.”, afirma.

“O ambiente dos investment bankers e equity managers era um microcosmo cujos olhares estavam voltados à cultura de Wall Street e, portanto, os assuntos e hábitos giravam ao redor dos shoppings marmorizados, camarotes em boates opulentas, academias de ginástica exclusivas, restaurantes de propriedade de chefs famosos e/ou jogadores de futebol, casas de prostituição em Moema, acesso VIP a espetáculos e corridas de Fórmula 1, atestados médicos falsos para compra de Ritalina e/ou Venvanse, contato dos dealers com a melhor cocaína da cidade, enfim, uma pantomima cafona e de baixo orçamento da mistura dos ideais vigentes no centro financeiro de Manhattan com os do Vale do Silício. It’s evolution, baby.”


Assim, o narrador, companheiro de trabalho e amigo do assassino, nos apresenta o ambiente dessa narrativa que, ao explorar a elucidação do crime, reflete sobre uma sociedade altamente capitalista, enquanto se apega a sua própria humanidade, ainda (quem sabe) salva pela avidez literária e musical, que unia os dois funcionários mais deslocados da Faria Lima.


Entrevista com o autor:


1 - Quais são suas influências?

Em relação à visão de mundo que dá origem à criação literária, sou influenciado pelos pensadores da escola de Frankfurt, especialmente Marcuse, além de Foucault e pensadores mais recentes da ideologia do capitalismo tardio, como Jameson, Gorz, Boltanski & Chiapello. Quanto às influências literárias, posso citar poetas como Drummond, Miriam Alves, José Paulo Paes, que me orientam quanto à relação da criação literária com o pensamento crítico, e romancistas como Thomas Bernhard, Italo Calvino, Rubem Fonseca, Umberto Eco, Paul Auster, Roberto Bolaño, Milan Kundera, Alejandro Zambra, Philip Roth, quanto às possibilidades da criação em prosa.

2 - Como foi o processo de escrita?

O processo de escrita do livro foi composto por um longo período em que escrevi trechos esparsos que eram como uma descarga mental em momentos de angústia. A partir de 2021 comecei a reunir esses trechos e percebi que eles funcionavam como uma narrativa. Como sempre desejei escrever um romance, me propus a criar um a partir desse material, e para isso me debrucei em estudos sobre a criação literária em prosa, no sentido de aprender a escrever um romance, aprender a canalizar meu processo criativo para esse formato (até então só havia escrito poesia). Fui gostando do resultado, especialmente da ampliação dos sentidos que a montagem da história produzia, ou seja, a história passava a adquirir vida própria, a constituir um universo. Durante todo o processo mantive uma preocupação que existe desde que comecei a escrever: que aquilo que escrevo seja o menos hermético possível, que alcance pessoas que não estejam familiarizadas com a literatura, mas que carregue a mesma profundidade e arrebatamento que vislumbro nas obras que admiro.


3 - Como você define seu estilo de escrita?

Diria que, neste momento, escrevo autoficção poética. 









L.G. Velani
nasceu e vive no interior de São Paulo. Mestre em Administração pela FGV-EAESP, trabalhou no mercado financeiro durante 6 anos e hoje, além de escritor e poeta, é advogado e servidor público. Publicou dois livros de poemas: ‘Pasárgada em Chamas’ (autopublicação, 2021) e ‘Poemas de Instagram’ (Lambrequim, 2023). Discute poesia e literatura em seu Instagram @lgvelani.




Lorraine Ramos Assis (1996) é crítica literária e socióloga. Foi publicada em diversas revistas/jornais nacionais e estrangeiros, tais como Jornal Cândido, Cult revista, Relevo, Granuja (México) e Incomunidade (Portugal). Colabora para São Paulo Review e Revista Caliban, além de integrar o corpo de poetas do portal Faziapoesia. Pesquisa sociologia da literatura na área de gênero.