por Ariel Montes Lima__
Fonte: Bing Image Creator (2024) |
A CONDIÇÃO DE ESTRANGEIRO: AFORISMOS SOBRE INCOMPLETUDE E NÃO-LUGAR
EPÍGRAFE
Não sou de lá, nem de cá. Sou do caminho. Sou errante. Sou, de mim, aquilo que nunca fui. O que há de mais real é intimidade sem fim.
OUTSIDER
Quando regressei da Inglaterra, me percebi tomada por uma consciência até então ignota, embora suposta na intimidade. Trata-se da percepção de que, havendo estado em outro lugar, era outra para os daquela terra, uma estrangeira stricto sensu. Estando, porém, novamente no Brasil, também não era mais a mesma. Hic et nunc, ego alter inter meos. Ao fim e ao cabo, isso me fez perceber que sou muito mais estrangeira entre os meus do que entre aqueles, os outros ignotos de outra terra. É provável que isso não se deva a uma suposta evolução das sociedades europeias, mas à infeliz condição de embrutecimento e precariedade às quais estamos, nós brasileires, expostes.
INCOMPLETUDE
Um dos problemas de ser uma outsider é ter uma consciência de que estamos submetidos a uma permanente condição e incompletude. Afinal, ao retornar ao principium, o que somos é, antiteticamente, o que já não somos. Ser é não ser. E, dessarte, quanto mais nós nos tornamos, menos temos em comum com os que estão ao nosso redor.
Somos incompletude. Não há regresso ao ponto anterior. O que nos tornamos não se pode deixar de ser, ainda que a dureza da vida nos embruteça diante da asperidade. Tudo é doravante.
NÃO-LUGAR
Que liberdade! Isso me disse a minha psicóloga: o não-lugar é o que abre os caminhos para que esse seja o nosso lugar. O eu é o mais legítimo espaço para o sujeito: um eu sumamente e, paradoxalmente, outro.
Não se pode ser estanque. O imoto é perecido. A vida é, necessariamente, o fluir. A transformação é necessária.
UMA BUSCA...
Haverá caminho? Houvesse uma rota e a poderíamos seguir. Feliz ou infelizmente, somos -nas palavras do filósofo- condenados à liberdade. O caminho se faz caminhando.