A vida é saudade! , poema de Jonnathan Kauã

 por Jonnathan Kauã__


Foto de Jr Korpa na Unsplash


A vida é saudade! 




I


A vida é saudade! 

O refulgente brilho 

dos antigos tempos 

é como sonhos noturnos, 

que fazem decair o semblante 

ao rememorarmos 

sua improvável realidade. 

É como desfrutar da saciedade 

dos profundos afetos e necessidades, 

numa visão onírica, 

e acordar sedento. 

É como adormecer 

para aliviar a agudez da angústia,

todavia, ser arrebatado, 

em seu íntimo, 

por uma inextinguível dor 

que atormenta a alma. 

É como enlaçar-se no consolo de um desejo, 

em seus braços delgados, 

o qual é contemplado e apreciado, 

porém incorpóreo, 

que se dissolve em cinzas da inexistência 

e que habita no mundo das lembranças. 


II


A vida é saudade! 

São contos infantis, 

que exprimem a pureza 

e inculpabilidade do passado, 

como naquele Jardim; 

são estórias, boas recordações, 

que maravilham o espírito amargurado, 

os olhos submersos 

por lágrimas de infelicidade, 

o coração empedernido pela soberba, 

a alma flagelada por si própria 

através da obstinação, 

gerando, pois, uma singela risada 

e um desfalecido sorriso, 

que são pesados pelo remorso; 

são sussurros, vozes, passos 

e corre-corres das criancinhas 

numa sala escura e vazia, 

contornadas estas por silhuetas das memórias; 

são clamores e gemidos de dor e pesar, 

pela saudade dos tesouros dissipados 

por suas mãos incautas, 

desprezadas por chocarrices e outras ilusões. 




III


A vida é saudade! 

É sentir falta 

do que nunca sucedeu: 

ser inteiramente feliz consigo; 

ser integralmente apreciado; 

ser plenamente puro; 

ter conhecido o singular 

e intransponível vínculo amoroso; 

ter vivido tempos perfeitos; 

ter finalizado a época para anelar; 

provar perene satisfação; 

provar-se regente do seu “Eu”, 

na totalidade de suas obras; 

provar - pôr à prova a sua própria sorte, 

se aventurando na vibrante adrenalina 

de uma imprudência e diversão juvenil.  


A vida é saudade! 

É Potência de Viver; 

propósito elementar 

dos inúmeros desígnios vitais da vida

é o pulsar do coração, 

o motor que provoca o movimento, 

o choque que desperta o ocioso,

a aspiração por água, 

significação ao que perambula 

errantemente por suas próprias veredas,

preciosidade ao que busca o que é valioso. 

Justificação existencial para erguer uma espada e pelejar; 

para engolir a penúria do trabalho; 

para expor-se as dores; 

para erguer os olhos e objetivar algo; 

para achar a completude. 



IV


A vida é saudade! 

É um quadro paisagístico 

de tonalidades vívidas 

e de entranháveis sensações, 

carregado de sublimidade e beleza estética, 

projetando as profundas paixões 

por suas imagens nostálgicas: 

a inocência e veracidade de dois apaixonados, 

que adentram no íntimo do outro 

com olhares abrilhantados 

pela perplexidade e alegria; 

a magnificência das noites estreladas 

e dos bosques verdejantes 

e pigmentados por múltiplas cores; 

da marcante presença da figura honrada; 

do êxtase e a euforia em descobrir 

as coisas mais simples, 

porém, atribuindo-lhe significância; 

dar vida à vida.




Jonnathan Kauã
, nascido em 2005, delmirense. Desde cedo demonstrou interesse pelas coisas, sobretudo pelo sentido que nelas continha, como uma experiência existencialista que serviu para querer descobrir a razão do mundo e mapeá-la por meio da escrita. Inspirou-se com a estilística de Aluísio de Azevedo, especialmente em “O Mulato”, ao descobrir e considerar as características próprias da escrita e descobrir assim a Literatura.