Poemas do livro O diagnóstico do espelho, de Sarah Munck

 por Sarah Munck __





1988


É preciso nascer no outro

para ser vastidão.



panteão


Na morada dos deuses

onde se encontram as musas?

Debaixo do subsolo

escrevendo a vida.


Tenho um felino preto

dentro de mim:


o temor de sair à noite

e ser jogada na fogueira


o medo de encontrar na escada

os dias que varri

para debaixo do tapete


Tenho um felino preto

dentro de mim


a coragem de gastar

todas as vidas


em uma só.



A verdade sobre si mesma

precisa ser livre

pronunciada 

relembrada em monumento

à beira da cama

para que todas as noites

antes de adormecer

seja ela a real companhia

quando das lanças se despir.


escrever é resistir aos avanços do medo.




Trecho 6


o poema descriminaliza a dor.





da arte de não saber


Se escrevo porque sei

já não sinto

Escrevo para dar nome

às ausências desconhecidas.



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Sarah Munck (@sarahmunckv), natural de Juiz de Fora (MG), é escritora, pesquisadora e professora do Instituto Federal do Sudeste de Minas. Formou-se na Faculdade de Letras, Universidade Federal de Juiz de Fora. É mestre em Estudos Literários pela mesma universidade. Atualmente, está em processo de escrita de tese acadêmica para doutoramento em Estudos Literários. É autora de “O Diagnóstico do Espelho” (2023, 119 pág., Editora Mondru), além de “Digressões em meia-volta”, uma publicação independente divulgada em plataforma digital em 2022.