Tô me guardando para o carnaval, crônica de Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro_

       
Foto: Carlos Monteiro
                                                                 
         Tô me guardando pros dias de folia e de brincadeiras, tô me guardando para pôr meu bloco na rua, cheio de simpatia e muito amor, cheio de fogo e paixão e se me imprensar eu gamo, mas auto lá: não é não! Não chora; me liga! Vamos juntos, quem sabe sabe, conhece bem essa maravilha de cenário. 

Pode me beijar; eu sou cineasta, pode tirar a máscara negra porque estamos no cordão e já adivinhei quem é você e vamos espantar a angústia e a solidão, a bandeira é branca e quero arder em seu fogo, porque os atros se amam perdidamente. 

Eu sou do samba, sambista até morrer eu sou, nasci para sambar, modéstia é a parte que me cabe neste latifúndio sonoro. Eu sou bamba, sou do terreiro, natural dessa Cidade Maravilha, berço do batuque, altar dos nossos corações, que canta Pizindim, abrindo as asas sobre nós em um samba que ’indé na rua.

Ô, abre alas, pois eu vou me esbaldar lá pelas bandas de Ipanema, batendo na lata, porque não tenho tamborim. Alaláô que eu estou com calor e cada mergulho é um flash. 

Vou chamar a turma do funil para me acompanhar naquele corso com a cara de anos 1930, afinal a pandemia se foi. Agora é cuidar e vacinar e, principalmente, não dar mole para o Aedes, que está com tudo para entrar nessa avenida nada colorida.

E o que que eu digo em casa na quarta-feira? Que fechei a folia com chave de ouro. Estava com a cabrocha, que jurou e desfilou para mim, com a colombina, a bailarina, com a jardineira e a Aurora. Com o homem da meia-noite, o Zé Pereira, o Vadinho — que no ano passado morreu, mas neste não morre —, com o Cazuza Funil e o galo até a madrugada, aplaudindo com toda a emoção do Planeta a dona Vilma e o Sorriso, ao passarem pela passarela purpurinada, passos perfeitos na aquarela do asfalto... iluminados. Que eu quis é todo mundo nesse Carnaval.

O pierrô e o arlequim meteram o pé no jacá, afinal pensaram que cachaça era água e não deixaram uma garrafa cheia sobrar. Ficaram pelas ruas da cidade chorando suas mágoas, mas eu(?)... eu fui atrás do trio elétrico, fui ouvir a onça rugir, o cacique bradar os sons da floresta e a Tabajara encantar com o toque de Oxóssi.

Evoé Momo já é Quarta-Feira de Cinzas e vem o ano inteiro!

Até lá, lá, lá, lá-lá, ô, ô, ô, esquindô lê-lê... batam palmas para mim, eu vou ali, sair na Portela e um samba de enredo cantar...

Deixa a vida me levar!


Foto: Carlos Monteiro


Foto: Carlos Monteiro

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Foto: Carlos Monteiro

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Foto: Carlos Monteiro

Foto: Carlos Monteiro

Foto: Carlos Monteiro

Foto: Carlos Monteiro





Carlos Monteir
o
é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.