por Manoel Tavares Rodrigues-Leal_
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Um poema inédito de Manoel Tavares Rodrigues-Leal evocando a lendária fadista de Lisboa
"A pobre rapariga foi uma fadista interessantíssima como nunca a Mouraria tornará a ter!... Não será fácil aparecer outra Severa altiva e impetuosa” Bulhão Pato
“[…] mas a era da Severa / já não a contemplo. Ouço fado, jogos de centro e de tanto / obscuro trabalho e a minha tua (de teu) era.” M. T. R.-Leal
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Madrugada dentro, surge o fado de Severa.
E entre a embriaguez de tanto mestre no antro,
ouço fados, bebo vinho, mas a era da Severa
já não a contemplo. Ouço fado, jogos de centro e de tanto
obscuro trabalho e a minha tua (de teu) era.
.Lx. 3-9-1976 — caderno sem título – há uma outra versão publicada (Caliban)
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A Severa — Romance de Júlio Dantas — 1901 |
Nota sobre o poema e último verso
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Os dois últimos versos |
“a grammatica é um instrumento, e não uma lei” Bernardo Soares, Livro do Desassossego
Nesta versão agora publicada, a caligrafia é difícil, parecendo trepidante. O poema parece ter sido escrito num meio de transporte ou de noite com pouca luz, conforme supõe o autor nestes casos. A construção do último verso é estranha, como acontece em outros poemas que temos publicado. A tal “estranha sintaxe”: “e a minha tua (de teu) era.” Veja-se, por exemplo, o último artigo com poemas do autor nesta revista:
https://www.miradajanela.com/2024/02/estranha-sintaxe-em-manoel-tavares.html
De facto, esta caligrafia, muito frequente nos “quatro cadernos vermelhos” deste período (capas vermelhas), nada tem a ver com a meticulosidade da escrita que lhe era característica, sempre praticada e grafada com lentidão e cuidado, qual escriba de si ou, diríamos: escriba de escriba. Esta palavra é várias vezes empregue em relação ao seu fazer poético: “Escriba de dúbia beleza, que errada escrita…”.
Por esta altura, o poeta atravessava um período crítico decorrente da iminente ruptura do seu casamento, com vários internamentos em casas de saúde mental antes e depois (“época de loucura”, escreve neste caderno).
Entre outras dificuldades de leitura, tentámos decifrar e aproveitar uma palavra rasurada (“tua”), enriquecendo ainda mais a complexidade do verso.
Trailer do filme “A Severa”, de Leitão de Barros (1931):
Maria Severa, o primeiro ícone do Fado em Portugal:
Artigo com uma outra versão do poema de M. T. R.-Leal:
https://revistacaliban.net/madrugada-dentro-surge-o-fado-de-severa-692f79056551
PESSOA, Fernando (2014). Livro do Desassossego. Ed. de Jerónimo Pizarro. Lisboa: Tinta-da-china. 2ª ed.
* Coligido de um caderno sem título por Luís de Barreiros Tavares