Quatro coletivos promovem o movimento #LerÉColetivo em celebração ao Dia da Literatura Brasileira

por Taciana Oliveira__





No próximo 1º de maio, em celebração ao Dia da Literatura Brasileira, quatro coletivos de escrita promovem o movimento #LerÉColetivo. Durante 24 horas, eles disponibilizarão livros digitais gratuitamente ou com desconto, visando incentivar a leitura de obras nacionais independentes. Essa iniciativa destaca a importância do apoio mútuo entre escritores e leitores, evidenciando que a escrita pode ser colaborativa. Os coletivos não apenas fortalecem a produção literária individual, mas também oferecem um ambiente de troca de conhecimentos e estratégias para enfrentar os desafios do mercado editorial tradicional. Além disso, o #LerÉColetivo visa ampliar o alcance da literatura independente, aproveitando as oportunidades que a internet oferece para alcançar mais leitores. Essa ação representa uma tentativa de tornar a literatura fora das grandes editoras mais acessível, diversa e comentada, destacando vozes e perspectivas que muitas vezes são marginalizadas. O evento #LerÉColetivo é inspirado no #ExplodaSeuKindle, que reuniu mais de mil e-books nacionais. No entanto, o #LerÉColetivo é focado na literatura independente de coletivos, buscando ampliar a visibilidade e o engajamento com obras fora do circuito das grandes editoras. É mais do que uma simples promoção de vendas e downloads, mas sim um esforço para tornar a literatura independente mais reconhecida, lida e discutida.

Entrevistamos *Carla Guerson, coordenadora do Coletivo Escreviventes. Ela compartilha para os leitores da Mirada como o movimento busca não apenas divulgar, mas também incentivar a leitura de obras independentes, destacando a importância dos coletivos na troca de conhecimento, apoio mútuo e desenvolvimento das habilidades literárias dos membros. Além disso, discute os desafios enfrentados pelos escritores independentes e como os coletivos estão ajudando a superá-los, bem como a importância da diversidade de vozes na literatura, especialmente em relação às minorias.


Leia a entrevista com Carla Guerson abaixo:


1 - Qual é o propósito do movimento #LerÉColetivo e como ele visa promover a literatura independente brasileira?


O movimento #LerÉColetivo é um dia de divulgação da literatura independente nas redes. Queremos não só que nossos livros se tornem conhecidos, mas que sejam lidos, então vamos oferecer descontos ou gratuidades nas obras no formato ebook, que também é um grande facilitador da literatura independente no Brasil.



2 - Como os coletivos de escrita estão contribuindo para o desenvolvimento das habilidades literárias dos seus membros?


As atividades de escrita conjunta e o incentivo à leitura mútua contribuem para o desenvolvimento das habilidades literárias dos membros dos coletivos. No Escreviventes, por exemplo, temos provocações mensais a partir das quais as participantes escrevem e depois leem umas às outras, oferecendo devolutivas quanto aos textos. Também oferecemos oficinas gratuitas ministradas pelas participantes mais experientes, com objetivo de colaboração mútua e apoio à atividade literária independente.   


3 - Quais são os benefícios de participar de um coletivo de escrita em termos de apoio mútuo, troca de conhecimento e ambiente seguro?


Dentro do ambiente do coletivo podemos trocar ideias, ouvir o que deu certo e o que deu errado nas experiências prévias das colegas e assim tomar nossas próprias decisões. Além disso, temos a oportunidade de ter escuta e leitura qualificadas, de pares e de pessoas com mais percurso que a gente.



4 - De acordo com os organizadores, qual é a importância da coletividade na promoção e na publicação de obras literárias independentes?


As grandes editoras se ramificam em um conjunto de profissionais e recursos que fazem os livros chegarem a mais lugares e se tornarem conhecidos. A escrita independente tem muito menos condições de realizar uma distribuição maior das obras e também não temos uma grande rede de pessoas trabalhando no marketing ou mesmo em outros processos da produção e venda dos livros. Os coletivos de escrita são um ambiente onde conseguimos fazer trabalho de formiguinha uns para os outros na publicação e na promoção, o que, de certa forma, ajuda a impulsionar nossos livros, mesmo sem a grande estrutura das editoras.



5 - Como a internet está sendo utilizada como uma ferramenta para ampliar o alcance e o impacto do movimento #LerÉColetivo na divulgação da literatura independente?


É através das redes que o #LerÉColetivo quer chegar a novos leitores, já que seguidores de outros escritores participantes vão conhecer a lista de livros em promoção ou gratuitos e vão poder saber que as obras de outros escritores independentes existem.



6 - Quais são os desafios enfrentados pelos escritores independentes em relação ao acesso às grandes editoras tradicionais, e como os coletivos de escrita estão ajudando a superá-los?


O maior desafio é a divulgação. O movimento coletivo ajuda a impulsionar uma divulgação que, se fosse feita de maneira individual, teria menor alcance.


7 - Como os coletivos de escrita estão debatendo e desenvolvendo estratégias para alcançar um público leitor quando se trata de publicações independentes?


Acreditamos no trabalho de formiguinha, e na divulgação boca-a-boca, quase individual. Quando uma autora é lida e tem a oportunidade de indicar para o seu público a obra de outra autora, que indica outra autora, e assim por diante, criamos uma rede de indicações que tem o potencial de ampliar o público de cada uma de nós.






8 - Quais são as principais características e temas distintivos das obras produzidas por escritores independentes em comparação com aquelas publicadas pelas grandes editoras?


Não há um tema ou grupo de assuntos específico. Mas arrisco dizer que, exatamente pela diversidade e pela possibilidade de escrever com mais liberdade, na literatura independente você vai encontrar temas que podem ser rechaçados ou deixados de lado pelas editoras tradicionais por talvez não terem potencial imediato de venda. Acredito que a literatura independente obedece menos aos ditames do mercado, exatamente por não estar submetido diretamente a ele.


9 - Além da disponibilização de livros em formato digital, quais outras iniciativas os coletivos de escrita estão adotando para promover a leitura da literatura independente brasileira?


Temos feito um trabalho contínuo de divulgação, aprimoramento mútuo e apoio aos membros do coletivo. Uma das iniciativas é a participação em eventos, seja virtual ou presencialmente, enquanto coletivo, que ajuda a promover a imagem do coletivo e de cada escritor ou escritora que participa.


10 - Qual é a importância do evento #LerÉColetivo para a diversidade de vozes na literatura, especialmente em relação às minorias, como mulheres, LGBT+, pessoas racializadas, neurodivergentes e PCDs?


Historicamente, são esses grupos minorizados que têm mais dificuldade de conhecer e acessar o sistema das publicações tradicionais, e são essas pessoas que encontram na literatura independente uma alternativa para fazerem suas vozes serem ouvidas. Os coletivos envolvidos na organização abraçam pessoas desses grupos, logo, as palavras autorais dessas pessoas é que serão majoritariamente promovidas no evento #LerÉColetivo.



Confira os livros em promoção ou gratuitos nas redes e páginas dos coletivos:


Coletivo Escreviventes

instagram.com/coletivoescreviventes

coletivoescreviventes.my.canva.site


Coletivo Escribas

instagram.com/coletivoescribas

linktr.ee/coletivoescribas


Coletivo Margem

instagram.com/coletivo.margem

www.escrevendopelasbeiradas.substack.com


Coletivo Poexistência

instagram.com/coletivopoexistência


O movimento #LerÉColetivo acontece nas redes ao longo do dia 01/05, trazendo dezenas de ebooks gratuitos ou em promoção.






*Carla Guerson é escritora, feminista, geminiana e a favor dos incômodos. Escreve contos, crônicas e poemas e tem textos publicados em diversas revistas literárias, coletâneas e  antologias.  “O som do tapa” (Editora Patuá, 2021),  é seu primeiro livro. Em 2023, lançou seu segundo livro, Fogo de Palha (poesia), fruto de um projeto premiado no Edital de Produção de Obras Literárias da Secult/ES.







Taciana Oliveira é natural de Recife (PE), Bacharel em Comunicação Social (Rádio e TV) com Pós-Graduação em Cinema e Linguagem Audiovisual. Roteirista, atua em direção e produção cinematográfica, criadora das revistas digitais Laudelinas e Mirada, e do Selo Editorial Mirada. Dirigiu o documentário “Clarice Lispector - A Descoberta do Mundo” . Publicou Coisa Perdida (Mirada, 2023) livro de poemas.