por Carlos Monteiro__
Carlos Leonam |
Ficou a tradição até hoje. Não há quem não se admire, menos os cariocas, é claro, com uma praia de Ipanema lotada, em um domingo de verão nas areias escaldantes, daquela república das mais democráticas do Planeta, com a atividade ‘palmistica’, aquela louvação que emana dali e se estende até o Pontal, numa espécie de frenesi em total êxtase daquela gente bronzeada, daquelas meninas coloridas pelo sol.
Esta e tantas outras histórias encantadoras ouvi em nossos muitos almoços regado à umas (muitas) caipivodkas, alguns tira-gostos e uma carne de sol de comer rezando, no bar Palinha situado no bucólico Largo dos Leões, no bairro carioca do Humaitá onde residimos.
Sempre muito bate-papo que se estendiam pela tarde toda, piadas, discussões acaloradas sobre futebol, em que eu o provocava por ser tricolor ferrenho com o Anjo Pornográfico Nelson Rodrigues, histórias do jornalismo e da fotografia, histórias de vida do cara que foi um dos fundadores do Pasquim.
Uma delas me marcou profundamente pela sua poesia filosófica. Contou-me ele que um belo dia resolveu pegar seu intrépido Fusquinha e se arribar para as terras baianas de Arembepe, acompanhado de Glauber Rocha e Miguel Paiva. Oras tantas, como costumava dizer, Glauber olha para todos e diz: “Este carro é o mundo, é a essência da vida!”. Sem entenderem concordaram e o mago do cinema prosseguiu profetizando: “Aqui dentro é o presente, à frente, no para-brisa, está o futuro que chega e no retrovisor está o passado que se foi. Tudo em uma velocidade estonteante; assim é a vida, não existe o agora!”.
Meu amigo-irmão se foi, está pelo firmamento com Ziraldo e Millor preparando um furo intergaláctico: vão fotografar e entrevistar Deus num pôr do sol tipo exportação do Universo.
Fotografias de Carlos Monteiro |