Morte e distopia: uma conversa sobre o novo romance do escritor mineiro Michael Maia

 por Divulgação___



O romance  “Entre a vida e a morte, há vários documentos” (editora Paraquedas, 192 pág.), do mineiro Michael Maia (@maicud), retrata a história de um país que legaliza e controla uma nova descoberta: “a droga da morte”. O seu problema ou fascínio é que ela permite que todos tenham uma experiência deslumbrante instantes antes de morrer: rever amigos e parentes falecidos e, até, quem sabe, Deus. 


Depois dessa descoberta e de um “Grande Surto” em que uma horda de pessoas decide tirar a própria vida através do uso da droga, o governo regulamenta o uso do narcótico (ou da ciência, dependendo do ponto de vista). Diante dos impactos disso na sociedade, o livro retrata também como a nova morte impacta diferentemente as diversas classes sociais, abrindo espaço para questionamentos. Como o governo escolhia quem a merecia ou não? Quem eles estavam tentando matar mais rápido? Por que um prédio de atendimento nunca era visto em bairros mais nobres? 


Em seu enredo, o autor traz o casal Luzia e Tânia que, após serem diagnosticadas com um câncer terminal, decidem interromper o tratamento e se candidatarem ao uso da droga. A  obra acompanha o impacto da decisão em seus familiares, principalmente, em Antônio, o irmão mais velho que trabalha justamente na empresa estatal que recebe e regula os pedidos de eutanásia.


Michael formou-se em jornalismo em 2014 pela Universidade Federal de Viçosa e se pós-graduou em Marketing Digital pela PUC. Porém, após trabalhar na área e sentir certa insatisfação, resolveu aceitar a proposta do pai de administrar os negócios da família: supermercados, ramo em que trabalha desde 2018.


1 - Por que você escolheu a morte e o luto como principais temas da sua obra? 


Em uma viagem intermunicipal estava ouvindo música e imaginei a história de duas pessoas tendo experiências individuais antes de morrer. Pensei que a história poderia ser sobre um casal após tomar uma substância alucinógena, e essa uma experiência boa antes da morte. Eu iria descrever as duas experiências diferentes uma da outra, mas com um mesmo final, o casal morrendo junto. Então pensei: por que não criar uma história onde uma sociedade convive com a existência de uma droga que permite uma morte feliz? Eu sempre tive medo de morrer e confesso que isso até me deu mais curiosidade em criar esta história, porém para descrever uma sociedade precisei estudar temas de sociologia para que o assunto não fugisse muito ou que eu não criasse algo tão inimaginável. 


2 - O que motivou a escrita do livro? Como foi o processo e quanto tempo levou para escrever?


A ideia apareceu em maio de 2022, criei um rascunho em tópicos no bloco de notas do celular e mandei para minha melhor amiga, que de prontidão disse que dali poderia surgir mais que um conto ou um roteiro para uma história em quadrinhos (que era até uma ideia inicial). De maio a novembro daquele ano, estudei temas sobre sociedade, morte e suicídio na perspectiva sociológica. Em novembro, ainda estava durante o processo de pesquisa quando recebi a notícia de que uma grande amiga, Rafaela, havia se envolvido em um acidente de carro e perdido a vida (é ela quem dedico o livro junto a várias pessoas que não me despedi). A morte da Rafa foi um processo um pouco doloroso, pois enquanto eu estudava sobre o luto, havia passado por dois temas nos quais eu frequentemente pensava: quando alguém da nossa idade e proximidade morre, perdemos um pouco de nós, ficamos desorientados principalmente pelo choque de que sim, somos todos finitos, nós podemos morrer também. E o outro que me preocupava, era se o luto poderia virar uma melancolia ou depressão. Durante o processo de luto pela minha amiga eu fiquei um pouco perdido, abandonei a escrita e fui vivendo a vida no automático, e acho que é um sentimento mútuo entre várias pessoas que passam pelo luto. 


Antes do processo de escrita eu criei duas fichas para as personagens principais, Luzia e Antônio, e logo depois criei um roteiro da narrativa contendo o que eu precisava apresentar em cada capítulo. Iniciei a escrita em janeiro de 2023 e terminei em maio do mesmo ano.


3 - Por que você escolheu o gênero adotado?


Sempre gostei de fantasia e temas relacionados com a sociedade, após me aprofundar um pouco nas obras do Saramago me peguei apaixonado por histórias que se passam em mundos diferentes do nosso, mas focadas em contar as relações humanas construídas.


4 - Existe alguma obra ou obras que ajudaram na construção da narrativa?


Dois livros me ajudaram a criar a ideia como um livro de distopia, “1984” do George Orwell por se tratar de uma sociedade em um governo totalitário e “As Intermitências da Morte” de José Saramago, livro que me tocou muito, tanto que o reli em menos de um ano. É incrível como o Saramago desenvolvia uma escrita, um ensaio, com apenas um “e se?”.


5 - O que esse livro representa para você? Acredita que a escrita do livro te transformou de alguma forma? 


Durante o processo de escrita, passando pelo processo de luto, eu tentava ao máximo identificar de onde vinha minha frustração e melancolia, até perceber que certos momentos eu virava o Antônio, personagem do livro. Terminei fazendo do livro como um processo de cura.


6 - Quais são os seus projetos atuais? O que vem por aí?


Quero trabalhar em um livro de terror-comédia com personagens LGBTs, brincar um pouco com temas da comunidade, puxar um pouco de nostalgia das músicas e vivências dos anos 2010-2015. Por enquanto estou apenas com a ideia e algumas abas em aberto para as pesquisas, parte que eu mais gostei de fazer durante o processo do Entre a Vida e a Morte, Há Vários Documentos.