Ópera Ori celebra a cultura dos orixás e reúne cantoras de diversos estados do Brasil

 por Taciana Oliveira__




Nesta sexta-feira, 31 de maio, Cyda Olímpio lança nas plataformas digitais e na Casa da Mãe, em Salvador, o projeto "Ópera Ori" e a música "Mãe D'água", interpretada por Stella Maris. O projeto reúne cantoras de diversos estados em um musical com arranjos de Jaime Alem. Com 12 músicas celebrando orixás, interpretadas por artistas como Jussara Silveira e Dicy Rocha, "Ópera Ori" começa com "Mãe D'água", celebrando Yemanjá. As gravações seguem, e a próxima faixa será uma homenagem a Oxóssi, na voz de Jussara Silveira.

Com 35 anos de carreira, Cyda Olímpio é uma multiartista cearense cujas músicas foram gravadas por grandes intérpretes. Ganhou prêmios em diversos festivais e continua a contribuir para a música brasileira com projetos inovadores como "Ópera Ori". Em entrevista pra a revista Mirada, Cyda nos revela as inspirações por trás do seu novo projeto.


1 - Cyda, você tem uma carreira de 35 anos como cantora e compositora. O que te motivou a lançar o projeto "Ópera Ori" neste momento da sua trajetória? 

Exatamente por estar há tanto tempo nessa trajetória, eu comecei a sentir a necessidade de misturar elementos sobretudo da cultura africana com estilos musicais contemporâneos. Esse projeto é o resultado dessa inovação artística, dessa minha nova forma, de me expressar musicalmente, em que trago para minha composição ritmos afro-brasileiros como o marabaixo, ijexá, aguerê, jongo… E há algum tempo queria montar um projeto coletivo e de protagonismo feminino. Esse projeto me dá oportunidade de realizar os dois planos. 

2 - "Ópera Ori" celebra a cultura dos orixás e reúne cantoras de diversos estados do Brasil. Como foram selecionadas as artistas para participar do projeto e qual é a importância dessa diversidade para você? 

As intérpretes estão sendo convidadas na medida que o projeto vai avançando, por ser novo, está sendo construído coletivamente, levando em consideração alguns critérios que nos ajudam a perfilar as artistas que estamos abrindo diálogo, com base na regionalização, na familiaridade com essa música que fala sobre ancestralidade, sobre o mítico, sobre a espiritualidade, sobre rituais e memórias. O Brasil é um país de grandes cantoras, não é uma tarefa fácil, embora seja extremamente prazerosa e riquíssima. 

3 - Jaime Alem, um dos maiores nomes da música brasileira, é responsável pelos arranjos do álbum. Como foi a experiência de trabalhar com Jaime e o que você acha que ele traz de especial para o projeto "Ópera Ori"? 

O maestro Jaime Alem é um renomado diretor musical e arranjador brasileiro conhecido por seu trabalho com grandes nomes da MPB e trabalhar com ele é uma experiência enriquecedora devido a sua vasta experiência e profundo conhecimento musical. Ter o maestro na Ópera Ori é ter arranjos que valorizam tanto os músicos quanto as cantoras. Sua sensibilidade artística e atenção aos detalhes, seu estilo de trabalho inclusivo, onde incentiva a contribuição criativa de todos os envolvidos, promovendo um ambiente onde a música é tratada com grande respeito, aliando a sua habilidade de extrair o melhor de cada performance, fazendo dele um dos mais respeitados profissionais da música brasileira. Na Ópera ele influencia a estética e ajuda a moldar esta identidade musical. 

4  - O projeto também será registrado em um especial audiovisual. O que o público pode esperar desse registro em termos de estética e narrativa? 

Não tenho como responder isso ainda porque esse conceito ainda não foi definido. Estamos gravando em alta definição, tudo o que é possível, fazendo todos os registros, mas ainda não concluímos quanto ao uso dessas imagens, como faremos.

5 - Você já teve músicas gravadas por grandes nomes da música brasileira e ganhou diversos prêmios. Quais são os maiores desafios e recompensas ao lançar um projeto tão ambicioso e colaborativo como "Ópera Ori"? 

Primeiro quero dizer que mesmo que eu tenha sido gravada por grandes artistas e tenha tido a honra de ser premiada em alguns momentos, a trajetória de uma artista brasileira é sempre de desafios, não importando quão menor ou maior o grau de dificuldade de seus sonhos. Mas nem sempre haverá recompensas. No caso da Ópera Orì temos vários desafios, que vão desde os mais comuns da maioria dos projetos independentes, como logística, finanças, etc., mas também o esbarro em posições conservadoras por questões de intolerância religiosa, afetando articulações até de possíveis patrocinadores. O que equilibra esse processo e nos impulsiona a continuar em busca da realização é que temos um grande elenco não só de artistas e equipe, mas também de pessoas que vem contribuindo para que o projeto avance cada vez mais potente.






Taciana Oliveira - Natural de Recife–PE, Bacharel em Comunicação Social (Rádio e TV) com Pós-Graduação em Cinema e Linguagem Audiovisual. Roteirista, atua em direção e produção cinematográfica, criadora das revistas digitais Laudelinas e Mirada, e do Selo Editorial Mirada. Dirigiu o documentário “Clarice Lispector - A Descoberta do Mundo” Publicou Coisa Perdida (Mirada, 2023) livro de poemas.