por Carlos Monteiro___
No começo me punha como observador, depois passei a interagir de forma sociológica e por fim já fazia parte do time, trocando informações, cantando junto, fazendo terceira voz, comemorando aniversários – lembrem-se o quanto sou tímido. Os locais passaram a ser os mesmos, os encontros e desencontros também. Conheci muita gente boa pondo o pé na profissão, muita gente vinda de um caminhar muito além do mar. Muitas histórias de vitórias e derrotas. Histórias de uma vida inteira, de existências e sofrimento, histórias de recomeços e começares. Algumas delas muito marcantes e de superação, outras nem tanto, infelizmente.
Gente é para brilhar, não para morrer de fome. Gente absolutamente politizada, engajada, ciente de seu importante papel na sociedade. Conheci o Padre João Luiz da Pastoral da Terra e seu brilhante trabalho social-espiritual. Sempre nos encontrávamos pelos caminhos. Muitas vezes parei na estrada para assistir às suas missas, pregações e um café coado.
Conheci o mineiro José Eduardo que puxava cargas de café entre Minas e São Paulo. Após um acidente na empresa que trabalhava, passado o prazo legal, foi demitido por ‘incapacidade’. Sem muitas perspectivas, resolveu investir sua indenização num Mercedes e cair na estrada. Sujeito interessantíssimo, autodidata, com cultura muito acima da média, se dizia o homem mais feliz do Universo, pois fez, dos limões amargos da vida, uma doce limonada temperada com amor e mel – não fez caipirinha, pois álcool e rodovias não combinam mesmo. Fazia poemas, declamava Drummond e conhecida de cor, salteado e trás para frente a obra pessoana, cujo versos enfatizava durante suas falas.
Foram tantos os personagens que não cabem em uma só crônica. Com a roupa encharcada e a alma repleta de chão, seguirei amanhã esses caminhos de encontros e despedidas.
Mandarei notícias do mundo de lá.
Fotografias: Carlos Monteiro |