Poema de Grace Iwashita-Taylor traduzidos por Wellington Amâncio da Silva

por Grace Iwashita-Taylor__




Padrão Taupou 



aproxima-te

consideres minhas mãos fechadas, tremendo,

como as unhas que mordem a primeira camada da minha carne

observes romper a pele

vê o sangue

como um carmesim, dane-se isto,

perfeito para batom

tingindo os meus lábios


ouças enquanto eu mordo o interior da minha bochecha

o gosto do metálico

para selar a minha boca

num sorriso temporário


estas são minhas fantasias

feitas de sangue


eu sou uma anfitriã cerimonial da raiva reprimida


agora, me observa fazer as feaus*

e assim

tu me veja dançar com a vassoura

e o cesto de lavagem

o vácuo é minha amante

me observes de joelhos

rezando no vaso sanitário

para alguém se importar


esse é minha Siva**


assista ao meu

padrão Taupou***


elevado silêncio sagrado

empregada doméstica elevada

elevada para entreter e ser cordial por obrigação


envia-me aos teus inimigos

como um pedido de desculpas


tu me observas passar completamente despercebida


........................


à noite

depois do meu banho

levo um minuto

para olhar meu corpo desnudo

no espelho embaçado

imagina tu que estou expandindo

até flutuar


 

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*Palavra que em Samoa significa “serviços domésticos”. Tem conotação negativa, de tarefa indesejada

** Siva é uma dança tradicional de Samoa executada por mulheres.

 ***Taupou é uma virgem. Tradicionalmente em Samoa ela é filha do chefe supremo, selecionada para realizar a cerimônia.



TRADUÇÃO DE WELLINGTON AMÂNCIO DA SILVA




Grace Iwashita-Taylor
é uma artista de Te Moana Nui a Kiwa. É autora de 
Full Broken Bloom (Ala Press, 2017) e Afakasi Speaks
 (Ala Press, 2013). Ganhadora do Auckland Mayoral Writers Grant e do Creative New Zealand Emerging Pacific Artist Award, Iwashita-Taylor mora em Tāmaki Makaurau, Aotearoa ou Nova Zelândia.




Wellington Amâncio da Silva
 nasceu em 1979, em Delmiro Gouveia, Alagoas. É professor graduado em Pedagogia e Filosofia, e tem mestrado em Ecologia Humana. É músico, multi-instrumentista e produtor musical. Publicou-se: Ontologia e Linguagem (2015), Pensar a Indigência com Michel Foucault (2018), Gumbrecht leitor de Heidegger (2019) e Conceito de modo de convivência (2018), além de dezenas de artigos científicos. Em literatura publicou-se: Apoteose de Dermeval Carmo-Santo (2019), O Reneval (2018), O Quasi-Haikai (2017), Epifania Amarela (2016), Distímicos e Extrusivos (2016), Diálogos com Sebastos (2015), Primeiros poemas soturnos (2009) e Elegia da Imperfeição (2001). Editor das Edições Parresia. É membro da equipe editorial da Revista Utsanga — Rivista di critica e linguaggi di ricerca.