Quem é hoje Mayk Oliveira, autor do Livro dos Delírios e Pétrino Astéri? Biopoética

 por Leo Barth, Wilma Amancio, Ricardo Santos e Wellington Amancio__



Foto de Edz Norton na Unsplash
                                                     
Poeta vivo, vivíssimo, do cerne do Sertão, Mayk Oliveira é um jardineiro literário que cultiva cuidadosamente suas histórias, plantando sementes de ideias para que a narrativa floresça plenamente novas tradições com habilidade singular. Em sua escrita, ele reverbera a anarquia lírica dos poetas Beat, infundindo o espírito revolucionário e a sede de liberdade que desafia os conformismos. Simultaneamente, suas obras ecoam os simbolistas, com uma atenção meticulosa para a nuance e ao poder evocativo das imagens, transportando o leitor para um reino quase místico de significados subjacentes.

Sua abordagem também bebe da fonte do realismo mágico, em que o comum se entrelaça com o fantástico, refletindo uma realidade onde o sertão respira magia e as leis da natureza parecem dobrar-se à vontade dos seus habitantes. Essa fusão é reminiscente da Geração Mimeógrafo, que, com sua irreverência e espírito DIY*, se faz presente na forma como o autor desafia as estruturas editoriais tradicionais, preferindo caminhos independentes que ressoam a liberdade criativa dos chamados poetas malditos, ao estilo Miró da Muribeca com seu verso visceral e direto.

Nas palavras de Mayk, encontram-se ecos de Manoel de Barros, pela valorização do pequeno, do insignificante que, sob seu olhar, ganha uma poesia redentora. Ele compartilha com Carlos Drummond de Andrade uma certa ironia e uma clareza terna que se debruça sobre as trivialidades humanas. De João Cabral de Melo Neto, Mayk herda o rigor estético e a precisão quase cirúrgica da palavra, enquanto de Bashô, o poeta japonês mestre do haiku, aprende a captura da eternidade em um instante, refletindo a impermanência e a beleza fugaz do Sertão.

Assim, Mayk Oliveira tece sua “contemporaneidade caatingueira”, uma tapeçaria literária que desconstrói e reconstrói a poesia e a prosa, permitindo que cada leitor descubra o Sertão por uma perspectiva revigorada e profundamente original. Em cada linha, Mayk desafia o leitor a ver além do visível, a pensar além do pensável, tornando-se um farol de inovação no panorama literário contemporâneo. 


Três inéditos passarinhos —  


Bilhar em decaída


Soube apesar do faro

O bar há tempo estava fechado.

Faleceu cedinho hoje. 

Acho até que já foi sepultado.

Sofreu pixação

A mulher o encontrou desacordado

caído de bruços

Andava adoentado.

Soube há pouco tempo.

O limo ressecou na porta do banheiro

Pregado na fechadura

O primeiro artista que entrevistei.


Moldura


Sombra oculta, sim,  

Enquadra a luz da cena —  

Vida além do viso.  

Moldura invisível,  

Vozes de histórias mudas,  

Silêncio que fala.  

Na borda, um sussurro,  

Detalhes perdidos clamam,  

Espaço não visto.


Rastros de silêncio


Passos ecoam,  

Sombra de ciprestes vigia —  

Silêncio atrás de nós.


Memória quieta,  

Lápides ao vento sussurram,  

Passado em repouso.


Flores esquecidas,  

O murmúrio da partida,  

Caminho se fecha.


Folhas pisadas,

Ecos de longevidade.




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* Do it your self. Faça você mesmo. Um dos axiomas autênticos do movimento punk e do underground.





Mayk Oliveira
 - Nascido em Delmiro Gouveia nas Alagoas o poeta e escritor Mayk Oliveira é membro do movimento artístico Arborosa situado alto sertão, músico e professor de História e Letras com especialidade em ambas as ciências. Escreveu três livros de poemas: “Livro dos Delírios” (Parresia,2020), “Pétrino Astéri” (Parresia, 2021) e “Alcatrão Com Grilos” (2022), um romance (a publicar) e um livro de contos “Molhados Enxutos” (2021), mas a produção escrita vem desde 2000. Ambientalista de espírito cultiva sua roça orgânica, plantas e flores nativas enquanto salva as pessoas dos riscos sanitários do mundo modern
o.