por Laura Redfern Navarro__
Esses aspectos são explorados nos poemas e nas ilustrações de maneira visceral, em que o eu-lírico pode ser tanto uma pessoa quanto à natureza em si, sugerindo, assim, um encontro entre ambos. Neste encontro, não há espaço para hierarquias, julgamentos ou senso comum. Na verdade, Lorena personifica o mundo natural, como se vê nos versos "O PRAZER / Conduz-me ao centro da trama / De onde fluem finos raios / Por onde posso caminhar", do poema "Toque de teia" (pág. 17), que descreve o movimento de uma aranha.
Esse movimento de personificação em "8 Vozes instintivas - Poemas ilustrados" é aparente também nas ilustrações, que incluem olhos humanos em raízes de árvores e bocas de um vulcão. Além disso, a progressão dos poemas do livro une harmoniosamente as fases da vida (nascimento, juventude e velhice) aos momentos do dia (manhã, tarde e noite), podendo ser lido do início ao fim ou do fim ao início.
Em suma, a poesia de Lorena nos põe de frente com o autoconhecimento e com a alteridade, nos levando à reflexões essenciais aos nossos tempos: como nós nos relacionamos com os nossos corpos hoje? E como isso molda a relação que estabelecemos com um outro corpo, que é o meio-ambiente?
Laura Redfern Navarro é poeta, jornalista, fotógrafa experimental e crítica literária. Mantém a página literária @matryoshkabooks e integra a equipe de poetas da FaziaPoesia. É autora do livro e da plaquete homônimos "O Corpo de Laura" (Mocho Edições), ambos parte do projeto vencedor do edital de publicação em poesia do ProAC 2022.