Esperançar | Crônica de Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro__









Fotos: Carlos Monteiro

Esperançar

Neste fim de semana, em entrevista à Renata Ceribelli para o Fantástico da Rede Globo, o cantor Ralf, irmão do recém-falecido Chrystian, com quem fizera dupla durante 40 anos, desabafou: “Esperei muito que ele me procurasse”. Com expressão consternada veio a narrativa explicativa do porquê. Haviam se separado em 2021 para carreiras solo, proposta pelo mano-amigo e não mais trocado qualquer palavra ou contato. Talvez uma mágoa velada, talvez um tempo de um para o outro.

As noites de domingo são bastante propícias para reflexões na solidão que vivem os pensamentos de um novo, e sempre, recomeço. Me encontrei exatamente nessa condição reflexiva e, porque não dizer, refletiva.

Quanta vezes nos colocamos acima de sentimentos maiores, por conta de nossas ‘vingancinhas’ bobas, diante de alguém que não nos retornou uma ligação telefônica ou uma mensagem; um simples bom-dia ou um parecer mais complexo; que não nos perguntou pela saúde ou nos trouxe uma notícia sabida por outrem? Quantas vezes ‘jogamos’ pessoas queridas no poço de nossas amarguras e as abandonamos em um tanque de gelo. Quantas vezes paramos para entendermos o outro, exatamente aqueles que, talvez, naquela hora mais precisem do nosso apoio? 

Procurar não é fraqueza, procurar não é se mostrar menor; muito pelo contrário, procurar é se colocar acima de qualquer outro sentimento que não seja o amor. Perdoar não é esquecer, perdoar é simplesmente tirar a mácula, que como um ponto ferino se mantém no âmago do ser, corroendo e, gonzagueando, acabando com todos os ideais. Nunca é tarde para dizer ‘eu te amo’, não espere para dizer que esta ali como um ‘colo maior’, um ‘ombro amigo’ incondicional, pedir desculpas ou desculpar. 

Não deixe que o perdão, o amor, a solitude fique azedado para a lápide gélida e sombria e seja um simples epitáfio: “Aqui jaz um arrependimento, pousado sobre esta lápide, arregimentado pelos falsos brios”.

Troque esperar por esperançar. Amanhã sempre será um amanhecer, sempre será um novo dia.

Quem sabe faz a hora não espera acontecer!



Carlos Monteiro é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.