A arte permanece | Crônica de João Gomes da Silva

 por João Gomes da Silva___


Foto de pure julia na Unsplash


Há dias que acordo com essa sensação esquisita de impermanência. Sabe como é? Aquele pensamento de que a vida é uma passagem breve, um piscar de olhos cósmico. E aí, me pego refletindo sobre a única coisa que talvez tenha algum tipo de eternidade nesse mundão efêmero: a arte. 


Outro dia, fuçava algumas gavetas e encontrei um caderninho velho, daqueles que a gente compra cheio de boas intenções e depois abandona. Lá dentro, há uma coleção de rabiscos, poemas inacabados e ideias meio loucas que, na época, eu considerava geniais. Ri por dentro, porque, convenhamos, algumas coisas que escrevemos é puro delírio. Mas ali, naquele monte de papel amarelado, tinha um pedaço de mim. Um fragmento da minha existência, congelado no tempo.


Vivemos nessa correria doida, tentando deixar uma marca, um legado. E olha, vou te contar, o mundo não tá nem aí. A vida segue, as pessoas vêm e vão, e no fim, o que fica mesmo é aquilo que criamos. A arte é essa nossa tentativa desesperada de ser eterno, de burlar a morte, de gritar ao universo que estivemos aqui.


É engraçado imaginar que, enquanto nos esvaímos, nossas criações podem ganhar vida própria. Os quadros pendurados nas paredes, as músicas ressoando em fones de ouvido, os livros empoeirados nas estantes. Tudo isso continua, mesmo depois que já fomos. É uma espécie de imortalidade emprestada, uma extensão do nosso ser.


E não tô falando só das grandes obras, dos best-sellers, dos clássicos imortais. Falo aqui daquela poesia que você escreveu no guardanapo do bar, da foto que você tirou sem pretensão, do desenho rabiscado no caderno da faculdade. Pequenas manifestações de arte que, de alguma forma, capturam nossa essência.


Nós nos preocupamos tanto com o sucesso, com o reconhecimento, que esquecemos às vezes do prazer simples de criar. A arte, antes de tudo, é uma expressão do nosso eu mais profundo. E enquanto estamos aqui, nesse teatro maluco da vida, é a nossa forma de gritar ao mundo: “Eu existo! Eu sinto! Eu sou!”.


E tem mais, a arte tem esse poder incrível de conectar pessoas. De transcender tempo e espaço, de tocar corações desconhecidos. Quem nunca leu um poema de Drummond e sentiu como se ele estivesse falando diretamente com você? Quem nunca ouviu uma música e teve a impressão de que aquela melodia foi composta para embalar seus sentimentos mais secretos?


Essa é a magia da arte. Ela é um diálogo eterno entre almas, um fio invisível que nos liga mutualmente, mesmo sem que percebamos. E é por isso que, no fundo, o que criamos tem uma importância imensa. Porque enquanto seguimos, nossa arte persiste para inspirar, emocionar e transformar.


Então, amigos, continuemos a criar. Prosseguiremos deixando pedaços de nós espalhados pelo mundo. Porque, no fim das contas, é isso que ficará. Aquele conto que você nunca achou bom o suficiente, aquela pintura que você guardou no fundo do armário, aquela música que você compôs numa tarde chuvosa. Tudo isso faz parte de você e continuará existindo, mesmo depois que tivermos seguido em frente.


E que assim seja, com muita audácia, criatividade e uma boa dose de humor. A vida é curta, mas a arte, essa é eterna. E enquanto estivermos aqui, deixaremos nossa marca, nosso grito, nossa risada. Porque seguimos em frente, mas nossa arte, essa, sim, permanece.





João Gomes da Silva
 nasceu no Recife–PE em 1996. Autodidata, é escritor, poeta e social media. Publicou em algumas antologias, como Granja, Sub-21, Capibaribe vivoTente entender o que tento dizerNo entanto: dissonâncias e etc. Edita a revista de literatura e ideias Vida Secreta.