por Carlos Monteiro__
Casinha pequenina
Quem não lembra da casinha pequenina, aconchegante e cheia de amor? Quem não passa pelas calçadas, em passos apressados, quase trôpegos, tal qual a rapidez que a vida demanda, mas ainda com tempo de admirar aquele lar pequenino, às vezes com cadeiras ‘fiadas’ em ferro e tranças coloridas em suas varandas. Qual passante não recorda das sacadas com vasos floridos ou plantas em latas de óleo? Será que ali nasceu um grande e eterno amor? Será que a vida seguiu e deixou memórias impregnadas naquele misto de saibro, terra, cimento e pedras?
As fachadas em uma paleta de cores indescritível, quem sabe as tais cores de Almodóvar ou as cores de Tarsila, quem sabe até as cores de Machado, não o Bruxo do Cosme Velho, mas o Juarez. Quem não admira o admirável?
Afetividade e pertencimento são os sentimentos. Lembro, ao passar por essas obras-primas de luz e amor, dos meus avós à porta de casa no final da tarde enquanto o crepúsculo avançava pelos céus suburbanos cariocas, refletidos no aço da linha férrea. As cadeiras ali, bem-posicionadas, observando ‘as modas’. Aquelas ‘boas-tardes’ dadas aos amigos e vizinhos no retorno à casa após mais um dia de labuta.
Memória dos apitos das fábricas, tonitruantes mensagens de mais um dia que vem ou que vai.
Aqui estão elas cheias de afetos, impregnadas de amor e vida; as casinhas pequeninas.
Carlos Monteiro é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.