por Ariel Montes Lima__
Considerações Para uma (Des)Filosofia da Vida Humana
(1) Sou terrivelmente pessimista em relação ao mundo e à experiência humana. E não o sou sem razão, pois a realidade da vida pós-moderna se poderia adjetivar facilmente como “desencantada”. Ecce a vida utilitária, capitalista e material do mundo burguês furtou de nós a única coisa que poderia agregar algum valor ao vazio de nossa humanidade: a organicidade da vida. Somos de osso, carne e sangue. A brita e o concreto das cidades cinzentas são como deserto de sal para a alma. A miséria, dessarte, e porque não poderia ser diferente, é atávica ao que somos.
(2) A Arte não serve para nada em meio ao caos, senão que para nos confrontar com o que a palavra mesma não possui condições de exprimir.
(3) O humano -curiosa criatura- com os pés na lama, sonha com as estrelas. Talvez desse hábito venha nosso especial interesse pelas fantasias; porque confrontar o real é insuportável. Porque a vida per se é desespero.
(4) A Modernidade foi nossa maior desilusão: a ruptura com toda a fantasia, por uma infelicidade do destino, rota justamente por uma outra ilusão. Nesse caso, de um mundo fraterno e igualitário, sedimentado sobre o poder mercantil da sociedade tecnológica.
(5) O pensar é fractal. A estrutura da cognição reproduz elementos reciprocamente circunscritos. Não se pode fugir do aparato que sustem a estrutura do difícil.
(6) Quando for escrita a última linha de nossa história, poderemos contemplar com serenidade o muro cinzento da existência.
(7) O desencanto com a vida é epítome da desconexão do eu com o mundo. Nihil solus est mundi. Omnia necesse habet altrum.
(8) Hoc modo: ego numquam dominus domi est. Allea jacta est: ecce vita nostra. Ecce bellum nostrum.
(9) Aceitar o caos é compreender o vazio da ordem. A mais sublime e mais bela forma do mundo é caos. Pobres de nós que, em vão, nos atiramos contra as correntezas.
(10) O pensamento humano é fractal. A imaginação -como a razão- se consolida mediante analogias. Por isso mesmo, é impossível um escape perfeito da contínua representação. O sujeito está, dessarte, condenado a interagir com a fantasia inerente. Isso nos deixa diante do paradoxo: a realidade em si mesma é fantasia e, por isso, inacessível em sua verdade. Ou seja: a ideia de haver uma Verdade Última, Veritas Veritarum é irreal. Por isso mesmo, a interação com ela é impossível.
(11) Toda boa filosofia é, in melior partem, uma contemplação da infinitude e do Abismo.
(12) Pouco importa o que há más allá. A única possibilidade observacional é o próprio limite da visão. Omnia est quid est.
(13) A humanidade inteira é fantasia. Que dolorida nossa existência, fadados estando a ver a perene ruína de nossos palácios de areia.
(14) Ich musste Philosofie in Deutsch machen. Alles Tagen, Ich brauche einen bischen auf Ewigkeit essen.
(15) Ora: toda palavra é vã. Todo pensar é nulidade. A Filosofia Mesma não existe. Somente haverá alguma verdade em nosso ser quando soubermos ferir a retina da alma com o ardor da realidade.