Formulo enredos, rascunho versos, persigo palavras | Entrevista com Mayanna Velame

por Divulgação__

Em sua mais recente obra, "Cactos e Tubarões", Mayanna Velame nos brinda com microcontos que capturam momentos efêmeros da vida, revelando dores e reflexões do cotidiano com uma sensibilidade ímpar. Transitando com maestria entre a prosa e a poesia, ela nos apresenta que a palavra pode ser tanto um veículo para significados profundos quanto uma perseguidora incansável de enredos cativantes. A entrevista abaixo nos oferece um vislumbre de sua trajetória criativa e das muitas formas pelas quais ela encontra beleza e sentido na escrita.

1 - Que tipo de trabalho criativo você faz?

Tento criar aquilo que poderia ter sido. Personagens que levam e trazem um pouco de cada um de nós. Formulo enredos, rascunho versos, persigo palavras. Ou seja, dou meu coração e senso para a linguagem.

2 - O que mudou na sua vida depois que começou a escrever?

Escrevo desde adolescente. Sempre fui muito tímida e vi na leitura e na escrita uma forma de me achar no mundo. Acho que hoje, posso ver o mundo de um jeito mais humano. Escrever tem disso: usar a linguagem como forma de expressar nossos sentimentos mais íntimos.

3 - Como é um dia na sua vida de escritora/professora/pesquisadora?

Acho que todo professor é ou deveria ser um pesquisador da Língua. Não digo isso apenas, no quesito acadêmico, onde tudo é mais frio. Mas no contexto mesmo da curiosidade, de utilizar a linguagem como sua aliada. Hoje posso dizer, que o ofício do magistério me ajudou e continua sendo meu grande triunfo na humanização da minha escrita. Trabalho com adolescentes e não existe laboratório maior para mim, do que a sala de aula.

4 - Quais são as maneiras pelas quais você estimula sua criatividade?

Gosto muito de ouvir música. Fico imaginando personagens, de acordo com as situações retratadas nas letras das canções. Também procuro ler bastante. Aprecio estudar a composição das narrativas, o vocabulário, as novas formas e possibilidades de se contar Literatura. E claro, amo viajar! É bom descobrir novos caminhos, sair de sua aldeia, desvendar lugares, ouvir diferentes sotaques. Isso tudo é o estimulante ímpar para a criatividade.  

5 - Fale sobre suas maneiras de se reconectar com a sua escrita quando vêm um bloqueio criativo? Ou isso não existe?  

Não sei ao certo se existe bloqueio criativo. Penso que tudo tem sua hora certa de acontecer. Aquela história ou poema, em algum momento vai se materializar. Hoje, eu permito que meu texto ou ideia descanse, adormeça. Até porque entendo que cedo ou tarde, ele vai despertar e me chamará para continuar.

6 - Como foi a experiência de escrita dos muitos microcontos do seu último livro - Cactos e Tubarões?

Foram quase dois anos de escrita, os microcontos surgiram como uma fotografia, um flagrante das dores que carregamos em nosso cotidiano. Escrevi boa parte deles em sala de aula, onde divido meu tempo. Gosto da narrativa de microcontos, em que o sugerir é a grande chave para todo o contexto da leitura.


7 - É fácil para você, como escritora, transitar entre a prosa e a poesia?


Na poesia eu busco palavra para ter um sentido. Na prosa, é a palavra que persegue o enredo...




*Mayanna Velame
nasceu em Manaus em 1983. É formada em Letras – Língua Portuguesa, pela Universidade Federal do Amazonas. Seu primeiro livro “Português Amoroso” (Editora Madrepérola/2020) se transformou em um projeto poético e educacional que conquistou um espaço especial no coração dos leitores brasileiros amantes da língua portuguesa. Foi finalista dos Prêmios Off-Flip nas categorias Conto e Poesia. Tem poemas, contos e microcontos publicados em mais de duas dezenas de revistas e sites de poesia brasileiros e portugueses.