por Patricia Peterle__
II Fetos Fósseis
Delirante cena da vida
Você se vê vagando no meio dos cães
como vão para longe
cavam desesperadamente a terra
para encontrar uma proteção
afundar o osso naquele delírio
voraz de velar o osso
na vitrine da terra.
É também essa a tua tentação
frear a cena da vida
detê-la numa lenta ocasião
para sempre perdida
Rasgando a cena do real
Depois mexemos nas panelas
a casa é a tua
garfos e facas caem da mesa
cascata de metais
(eco)
rasga a cena do real
O corte incandescente de Burri
ferida aberta
não cicatriza
convida evoca
diante do tormento da matéria
Acordo viva
os pés se mexem
tudo anestesiado e sopros
tudo suspenso nas texturas dos cheiros
só o roçar no lençol
no escuro ao redor e sopros
ao longe poucas luzes
batem na cortinha vermelha
faz frio
neste parto desfeito
A poça na fossa
a fossa no poço
no fosso o nosso
osso nu
Fetos fósseis
Depois da frágil campânula
a baga começa a despontar
negra como pupila
caem as folhas ficam as gemas
Sob a lua são chifres de um imaginário animal
os galhos do pessegueiro perto da garagem
carregados de botões rosas
Do lado de cá nesse corpo outro
nesse pé despido pela estação
tecidos vasculares se articulam
o verde cresce retorcido
as espirais do tempo rodopiam
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