Prosseguir costuma ser mais simples do que começar | Entrevista com Rodrigo Goldacker.

por Taciana Oliveira__



Desde cedo, a leitura e a escrita foram pilares na vida de Rodrigo Goldacker.  A partir dos cadernos de infância e o teclado do computador na adolescência, ele se dedicou intensamente à criação literária. A transição de sua autobiografia em uma ficção repleta de traumas e existencialismo, como em "Eu Só Existo às Terças-feiras", é  reflexo de sua trajetória pessoal e acadêmica. Após uma profunda crise em 2014, ele encontrou na escrita um meio de reconstrução, embasado por estudos em psicologia, especialmente os conceitos de individuação de Carl Jung. Essa teoria influenciou não apenas a construção dos personagens e a narrativa do livro, mas também a sua abordagem holística e metodológica narrativa. Mantendo a criatividade e a motivação ao longo dos anos, ele destaca que a experiência acumulada e o retorno positivo dos leitores são combustíveis para sua produção literária. Seus projetos futuros incluem lançamentos em vários gêneros, como ficção científica, poesia e ensaios, além de uma ambiciosa narrativa de terror. 


Abaixo segue uma entrevista com o autor:


 1. O que te inspirou a começar a escrever e como sua paixão pela escrita evoluiu ao longo dos anos?


A leitura e a escrita vieram da família. Para citar um exemplo de como isso se expressava na minha vida, desde bem cedo minha família tratava como um tesouro familiar a biblioteca de meu avô e eu desde criança fui avisado de que essa biblioteca era um patrimônio que quando meu avô morresse eu herdaria. Eu ganhava livros o tempo todo e peguei gosto pela leitura bem cedo por conta desse ambiente todo. Lembro que desde os oito anos eu já separava cadernos para tentar construir algum “projeto de livro”, mas não conseguia passar de algumas páginas. Quando ganhei um computador e parti da folha de papel para o teclado, comecei a digitar histórias e reflexões soltas, exercícios de escrita, ideias para contos/livros futuros, etc. Aos doze anos eu já brincava de escrever contos, poemas, novelinhas. E segui fazendo isso por todo o resto da minha adolescência, com cada vez mais investimento de mim nessa prática, até conseguir finalmente escrever meu primeiro livro aos dezoito anos. Eu já tinha certeza desde criança que queria viver de escrita e fazer isso pelo resto da vida, mas terminar o primeiro livro me deu a coragem de admitir isso para os outros. 


Durante a faculdade escrevi cada vez mais. Concluí mais alguns livros, fiz dezenas de poemas e contos, comecei a produzir conteúdo também no Medium e participar mais ativamente de um universo de leitores e escritores. Fui trabalhar como redator e desde então lido com a escrita diariamente, o que acaba mantendo a disciplina e o hábito constante. 

Sinceramente, não sei explicar de onde a inspiração partiu. Para além da inspiração da família, eu acredito que fui tragado pelas palavras porque elas realmente me fazem mergulhar em outro mundo, seja escrevendo ou lendo. É uma atividade de imersão que, nos melhores momentos, acaba me levando a sentir algo como existir fora de mim.


Tantos anos obcecado com isso, tendo começado a escrever tão cedo e trabalhando com escrita cada vez mais até hoje, acho que já tive várias fases de evolução. Nos últimos anos tenho tido um grande pico de produtividade criativa, algo que até então eu era pessimista em acreditar que não viveria de novo depois da juventude. Dessa vez, essa produção toda está vindo com certo método e uma fluência maior naquilo que me proponho a fazer. Tenho investido em transformar minha escrita numa espécie de “projeto temático holístico” separado entre diferentes formados – ou seja, por mais díspares que pareçam, quero que meu poeminha mais curto, meu livro de ficção mais ambicioso e meu ensaio acadêmico mais denso estejam todos reunidos sob uma certa coesão de assuntos e temas.  Sempre quis montar algo assim, acredito, mas é só hoje em dia que consigo articular essa vontade e ter a maturidade de construir tudo isso de um jeito que, ainda que ambicioso, seja suficientemente objetivo para se tornar viável.


2. Seu livro "Eu Só Existo às terças-feiras" aborda questões de traumas e existência. Fala um pouco sobre o processo de transformação de sua autobiografia em uma ficção com essas temáticas?


Em dezembro de 2014, eu tive um processo bastante complicado de crise motivado por várias coisas: uma crise existencial de para onde minha vida estava caminhando, o luto ainda profundo pela morte recente do meu avô, uma falta de propósito, um incômodo com a pessoa que eu estava me tornando, minha primeira paixão que acabou não terminando bem e, ainda, a falta de alguma estrutura de apoio. De novo, o que me faltava era algum sistema de crenças que pudesse me confortar. Sem isso, também não tinha vínculos autênticos com amigos, já que até então eu vivia basicamente com máscaras para me relacionar e não tinha amizades muito honestas. E finalmente, também me faltava esse apoio na família, visto que eu tinha relações muito complicadas com todos meus familiares ainda vivos – o único com quem eu tinha uma boa relação, que eu sentia que realmente me compreendia, era meu avô, que infelizmente tinha falecido.


Tudo isso vinha se desenvolvendo e piorando já há meses (no mínimo desde que meu avô tinha morrido em fevereiro daquele ano) e em dezembro isso estourou num grande processo que basicamente me desfez enquanto pessoa até minhas bases para me reconstruir do zero. O processo foi muito sofrido, mas culminou numa epifania que não foi só muito gostosa de se atingir, mas que se tornou talvez o momento mais marcante da minha vida e a pedra de fundamento para toda a vida que construí dali pra frente, seja em como passei a me portar nas minhas relações, seja nos meus interesses acadêmicos, seja nas minhas visões sobre o mundo e meus projetos de futuro.


Sabendo que aquilo tudo era tão importante pra mim, logo depois desse processo escrevi, durante janeiro de 2015, um livro autobiográfico gigantesco sobre. Esse livro se chamava “Dezembro” e era literalmente um relato autobiográfico com cerca de cento e cinquenta mil palavras unicamente sobre o mês anterior e tudo que tinha acontecido comigo durante aquele período. 

No que terminei esse livro, comecei a estudar com mais profundidade do que nunca, especialmente questões de psicologia. Com esses estudos, descobri que muito da experiência que eu tinha vivido parecia conversar muito bem com a ideia de um processo de individuação como descrito por Jung, autor que descobri nessa época de 2015 e por quem fiquei fascinado. Ainda em 2015, comecei a frequentar também um psicólogo, para me aprofundar mais ainda em todo esse meu processo, também em parte pelo receio que tinha de estar ficando um pouco maluco depois de uma experiência tão intensa e de um livro tão alucinado como Dezembro me parecia.


No começo de 2016, eu já estava bem aprofundado nos meus estudos de psicologia e no meu processo com meu psicólogo. Eu sabia que meu livro Dezembro era basicamente impublicável devido ao seu formato e natureza, então queria tentar abordar a mesma história, falando sobre processo de individuação, especialmente, a partir de uma metáfora e com um enredo mais acessível. Foi assim que tive a ideia para o “Eu Só Existo às Terças-feiras”. Escrevi os dois primeiros atos do livro ali em 2016, numa época muito tranquila e gostosa da minha vida em que estava no penúltimo ano da faculdade, reconquistando alguma qualidade de vida e saúde mental após todos os desafios dos anos anteriores que mencionei, e conhecendo e me apaixonando pela moça que em 2016 virou minha primeira namorada e com quem hoje em dia sou casado. Nesse intervalo de alguns meses, durante o primeiro semestre de 2016, eu costumava fazer dois a três capítulos do livro por mês.


No final do capítulo 14, entrei num grande bloqueio criativo. Eu sabia como o livro precisava terminar, mas a cronologia dos acontecimentos e alguns detalhes em particular estavam me dando trabalho pela complexidade envolvida.


Uma questão importante que me travou foi a ordem dos eventos no calendário dos dias da semana: alguns eventos precisavam acontecer de uma determinada forma, num determinado momento, para que alguns personagens só soubessem deles em um momento e não antes ou depois. Por exemplo: o Terça, que só existe às terças-feiras, só poderia saber coisas que aconteceram na semana anterior quando lesse os relatos de suas contrapartes dos outros dias ou se acessasse as memórias das contrapartes com quem ele já tinha se vinculado. Mas outros dias da semana também acessavam Terça, como o Segunda, e o Segunda, por sua vez, era acessado pelo Quinta. Se o Terça soubesse de uma informação na sua terça-feira, o Segunda descobriria na segunda-feira da semana seguinte e o Quinta descobriria na quinta-feira depois disso. Eu precisava organizar toda a complexa ordem desses eventos para garantir que cada personagem, a cada momento da história, só soubesse aquilo que devia saber naquele ponto específico para o enredo se encaminhar na direção que eu queria.


Em 2017, mais ou menos no começo do segundo semestre e já morando no cortiço para onde tinha mudado com minha companheira Jaque, tive um estalo e descobri como resolver todos esses imbróglios do enredo do Terça. O momento não era nada propício porque além do estágio, era minha época de entregar o TCC da graduação, mas fiz todas as coisas ao mesmo tempo. Entre mais ou menos quatro meses, fui escrevendo um capítulo do Terça por semana até finalizar o livro, coisa que aconteceu em outubro daquele ano.


O Terça ficou parado por anos, com somente alguns ocasionais leitores que gostavam muito dele quando me encontravam no Medium, onde eu tinha lançado os capítulos inicialmente. Em 2023, resolvi me inscrever no Prêmio Kindle, tirei o Terça de onde estava antes na Internet, revisei o texto com ajuda de uma amiga do trabalho (ela era do setor de atendimento e já revisava meus textos no dia a dia), outra amiga de trabalho fez a capa e finalmente publiquei o livro.


Não ganhei, mas o livro ficou lá disponível. Quando o Prêmio Amazon de Literatura Jovem saiu no final de 2023, vi que eles permitiam a inscrição de livros de 2022. Foi por isso que, inicialmente sem grandes expectativas, decidi que inscreveria o Terça. Era o único concurso que ainda o aceitaria porque, estando publicado na Amazon, não era mais um livro inédito. Foi só nesse momento também que percebi direito como o Terça era de certa forma um livro jovem-adulto que se encaixava no gênero do concurso.


Em 2024 recebi a notícia de que tinha sido um dos finalistas. Por conta disso, o Terça vai virar agora um audiobook pela Audible. Agora que o resultado saiu e sabemos que a obra vencedora foi o ótimo livro da Juliana Giacobelli, no que diz respeito ao futuro do Terça pretendo buscar editoras interessadas em uma publicação impressa da obra.


3. A influência do conceito de individuação de Carl Jung é citada como uma possível referência. Pode nos contar como essa teoria impactou a construção de seus personagens e a narrativa do livro?


Acho que acabei respondendo um pouco dessa questão já na resposta anterior. Mas recapitulando: foi totalmente inspirada pelo conceito de individuação a premissa de um protagonista dividido em sete personas que precisam buscar um caminho para uma síntese de suas características e contradições. Em certo sentido, a jornada do Viktor é uma versão metafórica e fantástica do que seria um processo de individuação real.   


4. Você escreve intensamente desde o início da adolescência.  De que forma você mantém sua criatividade e motivação ao longo de tantos anos de produção literária?


É mais fácil ser criativo e ter motivação hoje do que no começo. Primeiro porque tenho mais experiência e acervo de informações, daí fica mais fácil criar associações novas para novas premissas criativas. Por exemplo: em 2023 tive essa ideia de escrever um livro que misturasse um surrealismo absurdista à lá Kafka com uma escrita em diferentes vozes em que me inspirava em Roberto Bolaño, com um quê de narrativa filosófica de Camus (que se tornou nos últimos anos minha última referência fundamental). Em 2013, quando eu tinha ainda só uma primeira leitura ainda introdutória e superficial só das obras mais famosas de Kafka e não tinha ainda lido Bolaño nem entendido qual seria na minha vida o papel de Camus, esse seria um projeto que eu não teria nem como conceber.


A motivação também vai se expandindo com o passar do tempo, conforme os resultados e os retornos vão vindo. Era mais difícil me motivar a escrever no início da adolescência, quando eu ainda estava aprendendo qual seria minha voz e inseguro a respeito de quais retornos eu receberia. A escrita é um projeto de longo prazo e os leitores só foram começando a aparecer muito mais tarde. Eu consegui extrair leite de pedra ao cavar motivação na escrita quando jovem, ainda anônimo e sem nenhum retorno significativo de desconhecidos ou especialistas que fossem se dar ao trabalho de me dar uma chance. Hoje tenho uma base de leitores, mesmo que ainda pequena. Existe o alento de saber que algo que eu escreva terá alguma chance de alcançar alguém, de trazer com isso comentários de volta sobre o que achou da obra, etc.


O problema é sempre o ponto zero da escrita. Se você tem criatividade e motivação para fazer isso pela primeira vez, logo no começo, quando não há ainda nenhuma base de referências para saber o que vai partir disso, e se você tem força para insistir fazendo durante os áridos primeiros tempos de aprendizado e insegurança… Daí, quando você tiver a prática estabelecida e com mais experiência, o resto parece até fácil. Não que seja fácil, mas "prosseguir” costuma ser mais simples do que “começar”. 



5. Qual é a sua abordagem para escrever em diferentes formatos como ficção, poesia e ensaios?


Considerando que eu escrevo em tantos formatos, eu acho que acabo escolhendo os gêneros mais de acordo com o que parece fazer sentido para cada projeto.


No geral, sinto que estou atacando mais ou menos os mesmos temas sobre comunicação e psicologia a partir de vários formatos, sejam os mais metafóricos e líricos na ficção e na poesia ou os mais analíticos e objetivos nos ensaios.


Em relação às poesias, sinto que realmente comecei a amadurecer mais da minha escrita depois que entrei pra Fazia Poesia em 2016. Especialmente de 2020 pra cá, sinto que atingi outro nível de maturidade nas minhas poesias e tenho ficado mais satisfeito e confortável no que escrevo nesse formato.


A ficção foi onde realmente comecei. Os primeiros contos que tentei montar (também péssimos) foram esses que comentei ter começado a brincar de escrever quando tinha mais ou menos uns doze anos.  Aqui, os tipos de histórias que trabalho costumam variar muito. Eu Só Existo às Terças-feiras é uma ficção psicológica pro público jovem-adulto. Verde Verdade é um romance beatnik misturando com thriller de suspense para um público mais adulto. O Prisioneiro e os Outros, um dos meus mais recentes, é um livro de realismo mágico/surrealismo para um público adulto também. Penso mais em termos de histórias que quero criar do que em gêneros particularmente.


Já sobre os ensaios, foi quando entrei no Medium em 2016 que comecei a tomar gosto por textos de opinião e análises mais aprofundadas. O primeiro ensaio que fiz foi em 2017 (e hoje acho ele também horrível). Daí fui evoluindo ao longo dos anos com vários outros ensaios no Medium e as dissertações na graduação e no mestrado também me ajudaram muito. Com meus ensaios mais recentes (o que foi publicado pela Casatrês e esse gigante de 2023) sinto que aqui também meu jeito de escrever atingiu um novo nível de maturidade e me estabeleci no sentido dessa linguagem didática, divertida, direta e até meio informal e conversacional que quero continuar usando nos meus textos desse tipo no futuro.



6. Você cita que suas principais referências são pensadores como Albert Camus, Carl Jung e Judith Butler. De que maneira essas influências se manifestam em sua escrita?


Cada livro que tenho é influenciado por autores em específico e cada gênero que escrevo também. Por exemplo, meu livro mais recente foi influenciado por Kafka, mas não são todos os meus livros que são. Meu primeiro livro foi inspirado por Kerouac, mas a influência dele em mim ficou por ali.


Num sentido mais geral de autores de ficção, eu sinto que o Bolaño tem se tornado uma referência importante pra mim nos anos mais recentes e que o Hermann Hesse é um dos meus principais fundamentos pela escrita com metáforas para individuação e psicologia. Na poesia, eu gosto demais de Pessoa, é meu autor favorito em português, e acho que sou influenciado por ele na minha voz. Em poesia especialmente eu leio muita gente contemporânea que é ou foi colega minha de Fazia Poesia, e acabou que fui influenciado por essa galera também. Eu gosto muito do estilo de escrita da Mariana Artigas, da Thaís Campolina e do Danilo Crespo que acompanho por lá. Também existe um autor meio obscuro no Medium, mas que gosto demais, chamado Täkwila. Também gosto bastante do jeito de escrever da Lispector, ela tem uma crueza profunda que eu gosto de imaginar que tento alcançar do meu próprio jeito.


Diferencio um pouco dessas minhas referências literárias, que acabam sendo mais ocasionais às especificidades de um projeto em específico, das minhas influências em pensadores que acabam presentes em tudo que escrevo de forma que é mais sutil, mas também mais abrangente e pervasiva. É nessa segunda categoria que Camus, Jung e Butler são três bases importantes pra mim em pensamento e que acabam aparecendo muito em tudo que produzo.


Isso quer dizer que eles estão presentes principalmente nos ensaios (e estou tentando aos poucos construir uma ponte entre existencialismo, psicologia analítica e questões de identidade), mas isso também “vaza” para as poesias e romances. A discussão que eu faço sobre identificação e desidentificação, precariedade e construção de personas acontece muito pela Butler e pelo Jung, só pra dar um exemplo, e isso é tanto a base do meu ensaio mais recente quanto do Eu Só Existo às Terças-feiras lá de trás. 


7. Seu livro será adaptado para audiobook. Como você se sente em relação a essa adaptação e como você acha que ela pode impactar a recepção da sua obra?


Ainda é um pouco irreal pra mim, sendo bem sincero. É muito maluca essa experiência de ver um livro que escrevi lá atrás tendo tantos desdobramentos recentes. Faz com que eu pense no que pode acontecer no futuro com o que escrevo no presente. 


Por enquanto, eu ouvi só um trecho muito rápido da narração do livro no evento de premiação do Prêmio Amazon de Literatura Jovem. Mas essa “palinha” já foi mais que o suficiente para me deixar feliz com duas coisas: o quanto o audiobook me pareceu bem-produzido e o quanto a voz do narrador combina completamente com o texto. Não vejo a hora de ouvir a versão completa e de ter a oportunidade de indicar essa alternativa para quem quer saber “do que eu tanto escrevo”, mas tem preguiça/dificuldades para ler.


8. Você trata de temas complexos como crises existenciais e famílias disfuncionais. Como você equilibra a profundidade desses temas com a acessibilidade da sua narrativa?


Parto da premissa de que temas profundos e complexos não são necessariamente inacessíveis. Podem, na verdade, engajar mais, criar uma conexão de interesse maior, do que algo que pareça superficial e protocolar. Simplificar pode representar um reducionismo das ideias, o que paradoxalmente acaba tornando mais inacessível a riqueza de certos assuntos.


O problema nunca foi a complexidade e a profundidade dos temas: sempre foi a linguagem árida e burocrática com que esses assuntos costumam ser tratados. Então tento partir de um projeto conjunto entre: primeiro, explorar sem medo nenhum os temas que mais me atraem independentemente do quão complexos, densos, profundo e/ou desconfortáveis possam ser; e segundo, falar desses temas de uma forma que seja direta, conversacional, interativa e lúdica.


Essa proposta vale para algo como o Terça, que empacota uma discussão sobre individuação, que é por si só algo complexo e denso, numa metáfora criativa e num estilo narrativo que deixa a leitura fluir. E vale também para um ensaio em que eu possa deixar minhas ideias voarem nos lugares mais complexos e inusitados, desde que mantenha uma interação com o leitor na escrita e consiga manter esse tom de conversa, como se estivesse explicando meus posicionamentos de um jeito direto para alguém que está na minha frente.

Acredito de verdade que ser acessível é mais uma questão de formato do que de tema. E é por isso que me permito brincar e testar com todos os formatos para tentar deixar mais acessíveis todos os temas que quero explorar.


9. Quais são seus próximos projetos?


Estou numa fase muito boa: ano passado escrevi três livros e agora em 2024 já escrevi mais dois. Nesses últimos dois meses finalizei dois projetos de livro: um deles é uma ficção científica que tinha começado a escrever lá atrás também e resolvi finalmente finalizar. Chama-se Éramos Deuses e é o meu próximo lançamento, a sair agora em julho ou agosto na Amazon para ser minha obra inscrita na edição deste ano do Prêmio Kindle. O outro livro que terminei recentemente é uma saga familiar. Além desses dois tenho novos projetos de ensaios no forno, um livro de poemas com o NADA∴Studio Criativo a sair em breve. Pro ano que vem, acho que vou lançar o livro de realismo mágico que mencionei sobre um prisioneiro (que escrevi em dezembro de 2023) e talvez esse livro de temas familiares que terminei recentemente. 


E isso é só dos livros que já estão com seu primeiro esboço finalizado. Tenho vários outros projetos inacabados que gostaria de retomar. O próximo projeto que pretendo atacar é uma narrativa de terror que é provavelmente a coisa mais ambiciosa que já tentei fazer. Dessa história, já tenho o primeiro ato feito e ele sozinho é maior do que alguns dos meus outros livros completos. No melhor dos casos, quero prosseguir pro segundo ato dessa história e tentar terminar esse pedaço até meu aniversário de 30 anos, em fevereiro do ano que vem.





Rodrigo Goldacker
(@rodrigoldacker) vive de palavras. Trabalha como redator há
sete anos e é Mestre em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero. Já publicou dois romances pela Amazon (com um deles, “Eu Só Existo às Terças-feiras”, sendo um dos cinco finalistas do primeiro Prêmio Amazon de Literatura Jovem) e mantém um blog no Medium onde escreve um pouco de tudo. Tem 29 anos, mora em São Paulo e no tempo livre gosta de fofocar com sua esposa, passear com sua cachorra Sunna e de sentar na varanda para ler.







Taciana Oliveira - Natural de Recife–PE, Bacharel em Comunicação Social (Rádio e TV) com Pós-Graduação em Cinema e Linguagem Audiovisual. Roteirista, atua em direção e produção cinematográfica, criadora das revistas digitais Laudelinas e Mirada, e do Selo Editorial Mirada. Dirigiu o documentário “Clarice Lispector - A Descoberta do Mundo” Publicou Coisa Perdida (Mirada, 2023) livro de poemas.