Yôlinda 2 | Crônica de Anthony Almeida

 por Anthony Almeida__





                 
            1.


2. 

Cantamos. Aliás, gritamos. Berramos:


“Olinda! Quero cantar a ti esta canção

Teus coqueirais, o teu sol, o teu mar

Faz vibrar meu coração, de amor a sonhar

Em Olinda sem igual


Salve o teu Carnaval!”


A orquestra de frevo estronda e o povo pipoca. É uma multidão, um espreme-espreme que se atiça com a continuação da frevança e com o 


“som dos clarins de Momo

O povo aclama com todo ardor

O Elefante exaltando as suas tradições

E também seu esplendor”.


O Elefante de Olinda, branco e encarnado, clube carnavalesco misto, fundado em 12 de fevereiro de 1952 — leio numa das camisetas vermelhas dos foliões — arrasta a gente pelo começo da noite deste domingo de Carnaval de 2024. Olinda, o ano inteiro, espera para se incendiar com algumas troças. Essa é uma delas. Sob o sopro dos trombones e o tremelique das platinelas, aclamamos:


“Olinda, este meu canto

Foi inspirado em teu louvor

Entre confetes e serpentinas

Venho te oferecer

Com alegria o meu amor”.


Meu amor e minha alegria se inflamam não somente por causa das serpentinas e confetes. É que voltei a Pernambuco para morar, viver e carnavalizar. Voltei para ferver e frevar, dançar e suar — chorar. Retornei faz ano e pouco e queria ter carnavalizado no ano passado. Queria carnavalizar como jamais carnavalizei. Mas, no ano passado, de ombro na tipoia, recém-renascido em cirurgia, meu carnaval foi é na fisioterapia.


Carnavalizo, enfim. No Recife, virei noite na chuva, ao som de Gilberto Gil, e cortejei os muitos quilômetros do Galo da Madrugada debaixo do sol e de mais chuva, fervoroso, do cabo, às 09h, ao rabo, às 17h. Agora, em Olinda, entre os casarios históricos e coloridos, me pinto com as cores do Elefante. 


Antes de entrar na folia, golei duas garrafas de Axé Yô, me energizei. Daqui de dentro, depois de ter subido e descido ladeiras em catarse, sigo o ritmo e a condução da tuba em frevo. Seus sopros graves se embrenham no meu juízo, me relembram o quanto quis, o quanto desejei estar aqui. Estou vivo.


Vou me serpentinar pela troça, cruzar a turma, vou lá dar um beijo no estandarte do Elefante. Vou e sei que, ao conseguir — e vou conseguir —, eu vou chorar. Não escondo.


— Olinda. Fevereiro, 2024.




Anthony Almeida nasceu em 1989, em Caruaru/PE. É cronista, geógrafo, professor e editor-adjunto da RUBEM – Revista da Crônica. Atualmente desenvolve pesquisa de doutorado em Geografia Literária na UFPE, campus Recife, sobre o tema ‘Geograficidades do mundo vivido-escrito na crônica brasileira’. É autor do livro “Um pé lá, outro cá” (Aboio, 2024). Escreve para a Revista Mirada. Saiba mais em: https://linktr.ee/anthonypaalmeida