Água e óleo | Conto de Adriano Espíndola Santos

 por Adriano Espíndola Santos__

Foto de Jr Korpa na Unsplash


Marlene tem uns troços esquisitos. Quando comecei a namorar não tinha nem ideia do que poderia ser. Mas os meses foram se passando e notei que a exigência dela para a transa era algo surreal. Tem umas paradas em transar no elevador, no carro, em posto de gasolina (porque adora o cheiro de combustível, a excita), e tem uma tara ainda muito mais louca, que é transar nos monumentos de guerra, espalhados pelo mundo. Onde já se viu?! Não tô a fim de ser preso. A mulher despirocou geral. Agora quer viajar para o Egito e trepar naquelas pirâmides. Porra, tem uma torre aqui perto de casa, e poderia até fazer um sacrifício… Mas não tem acordo com ela, tudo tem de ser do seu jeitinho: maluco. Pior ainda é que sou tremendamente apaixonado pela mulherzinha. Acho que, pelo fato de ter namorado mulheres comportadinhas, me dá um frenesi só de pensar no nosso sexo. Heitor, nosso filho, ainda com seis anos, não sabe de nada. Mas, e quando ele souber que a mãe maluca dele inventou de transar em algum monumento? E quando souber que foi comigo, o seu pai amigão para todas as horas? Puxa, que vergonha! Não sei mais o que fazer. Já pensei em interná-la, mas o médico disse que não é caso de internação, e sim de psicanálise, terapia. Mas, porra, isso demora muito; até lá, ela vai encher o meu saco pra trepar desenfreadamente. O melhor é que é transuda, gostosa pra cacete. Onde poderia encontrar uma nova mulher assim? Ela colocou o ultimato: “Charles, estamos em fevereiro, mas em julho ou agosto já quero estar no Egito, onde as ninfas se banhavam de sexo, e eu quero ser como elas, está entendido?”. Porra, essa mulher é brasa demais. São dez anos de relacionamento. Dez anos não são dez dias, não se pode terminar de qualquer jeito, ainda mais por uma briguinha besta de amor nas pirâmides. É o jeito, vou fazer, mas, que fique bem claro, se for preso, ela vai se foder na prisão, porque não tenho dinheiro para soltá-la. Ela diz: “Amorzão, é amor escondidinho, de leve, ninguém vai perceber, já vou de saia para facilitar”. Então, ficamos assim, para o que der e vier. O negócio é o que vem, que é sempre um desejo muito forte. Parece que a mulher tem libido para mil, nunca vi. E eu me considero um cara normal, mediano; por mim, fazíamos amor três vezes por semana e estava satisfeito. Será que estamos diante de um empecilho para continuarmos juntos? Um médico amigo me disse que com o tempo isso pode cansar, e a gente se separar, pois temos de ter os desejos parecidos, para não ficar pesado para nenhum dos dois. Ele bem que tem razão, viu… Mas eu não consigo deixar Marlene. Ela é a mulher da minha vida, faz um sexo gostoso demais. O que seria de mim sem Marlene? E o que seria dela sem o seu amorzão? Somos água e óleo, mas “convivemos” muito bem.




Adriano Espíndola Santos é natural de Fortaleza, Ceará. Em 2018 lançou seu primeiro livro, o romance “Flor no caos”, pela Desconcertos Editora; em 2020 os livros de contos, “Contículos de dores refratárias” e “o ano em que tudo começou”, e em 2021 o romance “Em mim, a clausura e o motim”, estes pela Editora Penalux. Colabora mensalmente com as Revistas Mirada, Samizdat e Vício Velho. Tem textos publicados em revistas literárias nacionais e internacionais. É advogado civilista-humanista, desejoso de conseguir evoluir — sempre. Mestre em Direito. Especialista em Escrita Literária e em Revisão de Textos. Membro do Coletivo de Escritoras e Escritores Delirantes. É dor e amor; e o que puder ser para se sentir vivo: o coração inquieto. instagram: @adrianoespindolasantos | Facebok:adriano.espindola.3 email: adrianoespindolasantos@gmail.com