Mineiralidades | Crônica de Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro___










Mineiralidades


Contigo aprendi, povo de Minas, que hospitalidade, gentileza, empatia e simpatia fazem parte do DNA de quem nasce na Gerais. É um cadinho de casa de vó, um cadinho do ‘cafezin fresquin passado na hora’ ao gosto do acolhido; sim acolhido porque mineiro não recebe, mineiro promove o mais incrível acolhimento.

Aprendi que o sotaque é charmoso, que a forma criativa de apocopar as palavras é incrível, que as expressões, sim expressões, ‘nó’ e ‘nu’ dependem do quantitativo, que um ‘troço’ é uma coisa e um ‘trem’ é outra completamente diferente sendo primas entre si.

Aprendi o que todos já sabiam nas Gerais: o queijo de lá, a forma de fazê-lo o transforma no melhor do mundo. Que a amburana é uma árvore frondosa e não serve só para fazer barril; sua casca mergulhada na pinga deixa a ‘marvada’ com um sabor inconfundível.

Aprendi que comida feita no fogão de lenha tem um sabor inconfundível e que recusar um almoço, um ‘cafezin’, ‘um bolo de mi’, uma broa ou um ‘torresmin’ é uma ofensa, uma desfeita sem precedentes que não tem perdão.

Reaprendi que “logo ali” você deve se preparar para uma maratona e que quando te dizem que é “longe dimass da conta, sô” você deve se preparar para cruzar o Estado em seus 853 municípios. Aprendi que a relação de lateralidade é extremamente importante; sempre vão dizer: “Vai sempre à direita, não entra à esquerda de jeito nenhum; sempre à direita.”

Ouvi frases maravilhosas, fora o “com Deus”, benção geral do mineiro independentemente de sua (nossa) religiosidade. Ouvi, destas senhorinhas maravilhosas que lembram nossas queridas mães: “Que Deus te acompanhe, porque Ele estará sempre com você; se eu disser ‘vai com Deus’, para onde você irá?”

Aprendi que Abacatinho é o melhor refrigerante do Universo real e paralelo, que carne de porco é bem mais saudável que qualquer outra, que galopé dá sustância, que ‘dodileite’ caseiro é um manjar criado em parceria pelos deuses Deméter e Zao Jun, que Guaramão e Xeque-Mate são a novidade do momento…

Aprendi que há no coração do mundo uma mina de amor incondicional (em) Gerais!




Carlos Monteir
o
 é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.