Poemas do livro Dentro do meu corpo mora um rio, de Rena Faber

 por  Rena Faber__




                 
1. Mulher anfíbio 

Uma mulher terra e água

uma mulher peixe-pássaro

uma mulher anfíbio


Uma mulher que guarda

dentro de si os segredos 

de sobrevivência das mulheres

que vieram antes dela


Uma mulher que é calma

como um rio e tem a força

de um mar revolto


Uma mulher que morre todos os dias

mas só o necessário para poder

dar luz em meio às ruínas


Uma mulher que cultiva

excesso, falta, medo

e ainda assim vai à dança


Uma mulher que aprendeu a amar

escutando o barulho que a chuva

causa nas folhas 


Uma mulher que nunca está só

porque dentro dela

canta uma aldeia inteira



2. A forma como balanço os cabelos 

O futuro nasce no corpo
é onde a vida acontece
em cada centímetro da pele
no meu cansaço 

ou desejo

O corpo é feito criança
que ainda não aprendeu as palavras
e precisa de outros caminhos para dizer

Ele chora

dói
dança e

sabe ter a fúria do mar

Nunca esqueci do que um pai 

de santo uma vez me disse

o corpo vem antes
dos búzios, do tarot, da borra de café

Basta olhar o jeito 

que uma pessoa anda
para onde se inclina
como usa as mãos
para desvendar o que o corpo
já adivinhou há muito tempo 





Rena Faber — Nascida em Belo Horizonte, capital mineira, é graduada nos cursos de Publicidade & Propaganda e Jornalismo, ambos pela PUC Minas. Recentemente, concluiu uma pós-graduação em Psicanálise pela PUC do Rio Grande do Sul. Além de lançar "Dentro do meu corpo mora um rio", Rena tem participação na antologia Nós, do Selo off Flip, e na Coletânea 45 Escritoras Neolatinas Contemporâneas, da Philos. “Dentro do meu corpo mora um rio (Editora Patuá, 108 págs.), como a própria autora diz, é uma obra de coragem e um voto de confiança nas palavras que pulsam dentro.