A Foice e o Nada | Poema de Leo Barth

 por  Leo Barth__


Foto de Jr Korpa na Unsplash


A Foice e o Nada


A Foice igualou os homens

Ao fio da pedra Ao troco da paga

— a Verdade sacrificada

O Nada enlouqueceu poetas

Ao fio da palavra À paga de tão pouco

 Tão pouco por

— Beleza suplantada


Nove vezes fora ar

Divisa da sílaba em sintaxe-mar


Lâmina furiosa Nada latente


Contrastantes Oblíquos

Antigos dissidentes


Até o abraço O mundo a girar 

O espaço da Dança de Abismos

Cortando areias

No tempo Algaravias

Mundo a gemer

Coral dos Escravizados

— mudos a cantar


II


O Nada cerceou a Foice

Em lâminas destruiu a lâmina

Redobrou 

Recobriu

Em nova Pedra

Em nova lâmina 

Uma Âncora


Que comeu as folhas de uma árvore

Da Árvore


Como minou a Palavra

No mais pleno domingo

Distinto

Dos lances

E rubros de carradas

Amontoado

Do fel e néctar


Mudo supremo escárnio


III


Dobrar reconducriar O sim do não

Nadizendo sim

Foicenadeando

Livreprendendo


Cavalo perdeu Asas


E regurgitou uma Palavra


O Sol foi ver-lhe na lama

Derretido pela Massa

— o Choro

Mas não conseguiu negar o instante

Morrendo lúcido


O Coral dos Aleijados dança


— embasbacados





Leo Barth, nasceu em 1984. Delmirense dividido entre sertões e capital do caos. Começou a escrever por causa da Teologia. “Homem que nasceu morto, e que se acha em cada esquina, poeta de bêbados e esquizofrênicos, delimitado pelo caos particular, e autor de nada”. É notável entre os novos poetas trágicos-febris, um dos nossos maiores poeta do underground alagoano. Tem uma filosofia existencial-literária parecida com o grande Macedônio Fernandez, que escrevia compulsivamente sem muito importar-se com publicações. Boêmio, Machadiano e acadêmico, o autor possui centenas de poemas inéditos, produzindo-os desde 2001. É co-fundador do grupo “Arborosa”, de poesia, arte visual e fotografia, e editor do staff da Edições Parresia. Publicou na Utsanga (Itália) revista de poesia experimental, e em revistas brasileiras.