As maiores riquezas | Crônica de Sara Klust

 por Mirada__


Foto de Jack B na Unsplash

O que leva alguém a se arruinar na busca por prêmios instantâneos: desespero, ingenuidade, ganância?

Impossível saber ao certo a razão. Assim como as pessoas, as motivações também são distintas. Mas uma coisa é certa: os jogos de apostas online estão destruindo a vida de muitos brasileiros.

Ao encontrar de forma aleatória uma reportagem no YouTube sobre a enfermeira que fugiu da casa onde morava com os pais após contrair uma dívida de mais de vinte mil reais por causa de jogos, fiquei perplexa. “Que estupidez atirar dinheiro no lixo!”. Vi ali, temerosos, seu pai e sua mãe aos prantos, ignorando o paradeiro da filha e sofrendo com a hipótese de que algo grave a houvesse vitimado. Após dez dias de refúgio em outro estado, ela voltou, envergonhada. Se por um lado os pais ficaram aliviados com seu retorno, por outro, continuaram apreensivos: não podiam ajudá-la a saldar o que devia.

A história dessa moça, infelizmente, não é a única.

Pesquisei no aplicativo de vídeos e encontrei outros casos: homem que deixou a família com fome após gastar todo o salário em jogos, mãe que desviou dinheiro do leite dos filhos para fazer uma “fezinha”, filho que roubou dos pais para jogar no Tigrinho, jovem que abriu mão da graduação pelas apostas nas bets, filha que penhorou a casa da mãe enferma para jogar nos aplicativos. E não é só no Brasil: em um país asiático, houve pai vendendo o próprio filho por uma aposta online.

Especialistas alertam para os perigos dessas plataformas de jogos, que exploram sobretudo os mais pobres. Na aflição em solucionar dificuldades financeiras, as pessoas não atinam para um fato elementar: jogo nenhum existe pra enriquecer o apostador!

Enviei um desses vídeos para minhas irmãs e meu irmão no Brasil com um alerta: se querem manter a saúde mental e o equilíbrio financeiro, fiquem longe dessas apostas na internet. Vocês já possuem tudo: saúde, moradia, emprego, alimento farto na despensa e na geladeira, pessoas que os amam.

E, embora pareça clichê — e de fato é —, essas, sim, são as maiores riquezas que alguém pode ter na vida.



Sara Klust — 
Graduada em Comunicação Social, trabalhou nas rádios Cidade e Manchete FM, na assessoria de imprensa do DETRAN e no Jornal do Commercio, antes de se mudar, em 1994, para a Europa. Em 2020 publicou Um novo começo em Hamburgo, e, em 2022, A mãe brasileira, disponíveis apenas na Alemanha e Áustria. É uma das organizadoras da antologia de contos Tinha que ser mulher, cujas vendas são revertidas à Associação Fala Mulher. Mora com o filho e o marido na região do Vale do Ruhr, no oeste do país.