por Carlos Monteiro__
Fotos de Carlos Monteiro |
Sentidos
Aprendemos na escola, nas aulinhas de ciências, que o sistema sensorial é composto por cinco os sentidos.
A bióloga e documentarista — National Geographic e Discovery Channel — britânica Jackie Higgins, discípula do biólogo evolucionista Richard Dawkins, em seu livro Sentient — What Animals Reveal About Our Senses, defende que são 12. Creio que ela tenha razão, pois quando se retorna das Gerais são essas sensações que temos: audição, visão, olfato, paladar, tato, cor, prazer, desejo, equilíbrio, tempo, direção e corpo.
A audição está no sotaque charmoso e na forma de apocopar frases e expressões que, para bons entendedores, bastam.
A visão e a cor nas paisagens paradisíacas, na luminosidade brilhante, no colorido do pôr do sol e do amanhecer.
O olfato está no cheiro inebriante da comida recém-saída do fogão a lenha cosida em panelas de ferro fundido.
O paladar, ah este está na comida maravilhosa, nos doces fantásticos como o rocambole, recheado com ‘dodileite’, da pacata Lagoa Dourada ou no sabor inconfundível dos diversos refrigerantes produzidos por lá. Os queijos são um caso à parte como os QMAs, premiadíssimos, inclusive fora do país, que estão em dez microrregiões catalogadas pela Emater assim como a cachaça produzida no mais antigo alambique brasileiro em funcionamento, na cidade de Coronel Xavier Chaves.
O tato está na produção incrível do artesanato sem igual, com destaque para o Vale do Jequitinhonha, das tecelagens de Resende Costa e das bonecas da dona Neide de BH.
O prazer em estar cercado de gente hospitaleira, simpática e agradável não tem preço, assim como o desejo de voltar cada vez mais e esperar que o tempo não passe para aproveitar cada segundo, com equilíbrio, dando direção ao corpo para as coisas maravilhosas que Minas tem.
Eu arriscaria desafiar à ciência e acrescentar, como sentido, a sensação de pertencimento, de um amor profundo pelas terras outrora chamadas de Cataguá.
Quando se volta das Gerais se traz na bagagem, para além da saudade, uma quantidade enorme de ótimas lembranças fotográficas, gravadas em cartões digitais, impressões fidedignas da suntuosidade que as cidades que se descortinam para nós — arriscaria até a dizer que se desnudam expressando um grau imenso de afetividade, alguns doces, queijos, frutas, grãos, refrigerantes, pingas, embutidos, farinhas, artesanato…
Carlos Monteiro é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.