Um mercado inteiro para chamar de seu | Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro__










Sabe aquele local que você trata como o quintal da sua casa, onde você se sente muito à vontade, onde você conhece cada cantinho especial e, apesar de parecer ‘confuso’, você não se perde? Esse local existe e fica bem ‘pertin’, a uns 450 quilômetros do Rio, tem nome e sobrenome e uma juventude quase secular; é o Mercado Central de Belo Horizonte.

O Mercado é uma festa de sabores e aromas, um espetáculo visual no vai e vem dos corredores, sempre recheados de pessoas que sabem exatamente o que querem ali. 

Paira uma memória afetiva no ar. O espaço, bem no Centro de BH, é um verdadeiro templo da baixa gastronomia com opções incríveis para ninguém pôr defeito. Dá para ‘discutir’ futebol com o Jorge que, de tal torcedor que é pelo América Mineiro, batizou seu restaurante, que serve o melhor da culinária mineira – o frango ao molho pardo, com quiabo e a rabada com batata são imperdíveis – de Jorge Americano. 

Antes, para abrir os trabalhos, uma passada imperdível na Tradicional Limonada, que para além do delicioso refresco temperado com groselha, há uma variação com gengibre e uma caipirinha inspiradora, a Caipi Vô. Comandada pelo Rai, a casa mantém a receita do elixir dos deuses, criada por seu avô, seu Gabriel, desde 1939 quando foi fundada. 

As sobremesas podem ser um belo tasco de abacaxi gelado ou um bolo de fubá com Guaramão. A primeira está na praça homônima e dá a sensação de se estar degustando mel gelado; a segunda fica na Frau Bondan onde você complementa o quitute (em Minas chamam de quitanda) com um ‘cafezin’ coado na hora.

Energia reposta uma boa volta para ‘fazer a digestão’. Lá você encontra absolutamente tudo, tudo mesmo; pensou? A resposta é tem! Dá para levar umas lembrancinhas, cachaças, quitandas, doces, compotas, tapetes, vinis, colecionáveis, carnes, ferragens, hortifrutigranjeiros, memorabília, calçados, enchidos, fumo de rolo e, obviamente, o queijo. São muitos e bons e a variedade é infinita. Claro que o destaque vai para o Queijo Minas Artesanal (QMA). A primeira parada e obrigatória é no Empório Herança Mineira. O pessoal de lá sabe tudo dessa iguaria trazida, pelos açorianos, às terras das Gerais. 

Degustar cada um deles é como ler um poema de Drummond, é lembrar das aventuras de Riobaldo, é ter o “Coração Disparado” partindo da caneta de Adélia, é beber na fonte de Conceição, Macaé e Carolina. É simplesmente forrar o coração da mais pura e genuína alegria.

Esse quintal é meu, é seu, é dos mineiros e do mundo inteiro.



C
arlos Monteiro
 é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.