por Sheila Carvalho__
Foto de Ross Parmly na Unsplash
O piloto anuncia, em seu microfone abafado: “Tripulação, preparar para a decolagem!”. Estou de volta ao Galeão, agora como passageira, levando na mala expectativas de uma boa viagem. É sábado de manhã ensolarada no Rio. Conforme a aeronave ganha altitude, mais vou me entortando na poltrona e colando a testa na janela do avião a fim de capturar com os olhos todos os detalhes possíveis em meu olhar de sobrevoo. Brinco de identificar lugares na paisagem. Logo desponta o Pão de Açúcar, o Corcovado, a Ponte Rio-Niterói e minha querida São Gonçalo. Localizo minha casa e até consigo ver o aceno da minha mãe em sua janela, dizendo: “Vai com Deus, filha!”
O avião dá meia volta, passa pela minha escola e segue viagem margeando os recortes e reentrâncias do litoral carioca sobre o Oceano Atlântico, com a benção da Rainha do Mar. Rumo à Curitiba, a viagem é tão rápida que mal dá tempo para escrever uma crônica. Logo, o piloto faz novo anúncio: “Preparar para a aterrissagem!” É hora de recolher a mesinha, guardar o bloco de notas e aguardar aquele momento tenso em que as rodinhas tocam o solo. No mais, é reunir as bagagens e abrir o coração para o que esta cidade puder me oferecer de extraordinário. Contudo, o ordinário já me basta, satisfaz e encanta.
Sheila Carvalho é uma carioca de nascença, criada em Niterói e moradora de São Gonçalo. É cronista, geógrafa, professora de geografia e pesquisadora de doutorado interessada em abordagens geoliterárias, especialmente nas geografias machadianas na cidade do Rio de Janeiro. Gosta de música, de plantas, de pôr do Sol, de rua e gentes; e de observar e escrever sobre as sutilezas e pequenices cotidianas.