A péssima revista | Crônica de Sara Klust

por Sara Klust__


 

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Depois de muito tempo — muito tempo mesmo! —, resolvi comprar uma revista feminina impressa, para ler algo diferente além dos livros. Ah, preciso ressaltar que não se tratava de uma revista para adolescentes: era destinada a mulheres adultas.

Sempre gostei de revistas. Há alguns anos, carregava um exemplar dentro da bolsa: lia na sala de espera do consultório médico, no dentista, no café ou bistrô, enquanto aguardava alguma amiga para o bate-papo, ou no trabalho, durante a pausa do almoço. Apesar de minha preferência pelos livros, achava as revistas ideais para esses momentos, quando podia simplesmente folheá-las sem precisar estar muito concentrada. Talvez pelo fato de as ler nesses contextos, nunca havia percebido de fato o teor do conteúdo.

Mas dessa vez foi diferente. Já o sumário estava longe de atender às minhas expectativas: ali tive a impressão que os interesses das mulheres, ao menos das supostas leitoras da revista, se resumem a qual corte de cabelo está atualmente na moda, qual roupa vestir no outono/inverno, ou o quão atraente ela precisa ser para atrair um parceiro.

Claro, as mulheres, mesmo aquelas de mesma faixa etária, têm interesses distintos. No entanto, acho preocupante quando o foco de uma revista feminina se restringe a aspectos superficiais, como beleza, moda e conquistas amorosas, sem considerar as experiências e desafios que as mulheres modernas enfrentam no dia a dia. Gosto, sobretudo, quando os meios de comunicação promovem discussões sobre temas que nos empodera, como carreira profissional, independência financeira, independência emocional, autoconhecimento, política, direitos.

Ao retornar para minha mesa de escrita, refleti por um momento se a revista seria tão ruim, ou se sempre foi assim e eu nunca percebi. Peguei o exemplar novamente, recomecei a folhear, desta vez de trás para a frente. Afinal, por que ser tão inflexível?

Não. Eu me arrependo dos quatro euros jogados fora: não tenho mais paciência para coisas do tipo “as sobrancelhas finas estão de volta!”


Sara Klust - Nascida em Recife, Pernambuco, e graduada em Comunicação Social, Sara Klust é escritora e tradutora. Trabalhou nas rádios Cidade e Manchete FM, na assessoria de imprensa do DETRAN e no Jornal do Commercio até 1994, quando então se mudou para a Europa. Em 2020, publicou a novela Um novo começo em Hamburgo, e, dois anos depois, o romance A mãe brasileira, ambos de forma independente. Em dezembro de 2022, organizou e publicou, ao lado de mais dezesseis escritoras, a antologia de contos Tinha que ser mulher, cujas vendas são revertidas à Associação Fala Mulher. Criou no Instagram o perfil Escritoras Brasileiras no Exterior (@escrevendonoexterior), onde divulga o trabalho de outras autoras brasileiras espalhadas pelo mundo. Também contribui com textos, como crônicas, para jornais e revistas literárias, ampliando sua presença no cenário literário. Mora atualmente na região do Vale do Ruhr, no oeste da Alemanha.