por Patrícia Tenório__
Sobre *Ponto de luz, de Iaranda Barbosa
Minha ciência não é maior que Deus. Mas o mundo qual ele me deu. (Barbosa, p. 34)
Uma bioficção, Iaranda Barbosa nos apresenta em Ponto de luz. E, através de técnicas apuradas de escrita — na elegância da escolha das palavras, nos pontos finais para marcar o ritmo do tambor —, Iaranda traduz a biografia de Daniel Dias para perto de nós.
Traz o “abraço ancestral” de nossas raízes africanas para o centro de uma mesma mesa de jantar, e irmana raças, une classes sociais, ressignifica dores.
Através das entidades personificadas em Daniel, Iaranda confirma que em nossas veias de povo brasileiro corre sangue negro, indígena, branco. Que não podemos fugir de quem somos, nem de nossas responsabilidades.
“Observo o meu reflexo no vidro e analiso o homem que me tornei após parar de rejeitar o dom e a responsabilidade a mim concebidos desde antes de nascer” (p. 56).
Congratulo-me com Bongbogirá, quando afirma, sob a voz de Daniel, que fala pela boca de Iaranda, que reverbera em Patricia…
“Somos donas de nós mesmas, desvairadas para uns, invejadas por outros, desejadas por todos” (p. 62).
A décima quarta e penúltima resenha de autoria contemporânea de 2024 no meu blog traz a alegria do sincretismo religioso, de raças, classes sociais, gêneros literários ou de identidade, e nos encanta com esse “ponto de luz que me aquece” (p. 33), que aparenta ser o “ponto de luz dos fracassados” (p. 61), mas, exatamente o oposto, é o ponto de luz que nos revela seres belos por fora e por dentro, quando realizamos a máxima que ultrapassa religiões, divindades, nos faz sonhar com um mundo melhor onde “faz-se o bem sem olhar a quem, e não se passa por cima de ninguém”.
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*Ponto de luz: narrativas bioficcionais para a dramaturgia encenada por Daniel Dias, de Iaranda Barbosa. Ilustrações: Cria de Baleia. Capa: Marcelo Accarini. Projeto gráfico e diagramação: Fred Caju. Coordenação editorial: Taciana Oliveira. 1ª ed. Recife, PE: Selo Mirada, 2024.
Iaranda Barbosa é professora, escritora e crítica literária, doutora em teoria da literatura pela UFPE. É autora dos livros Salomé (2020) e Palavras de Silêncio (2022). Organizou e foi curadora das coletâneas: Antologia das Mulheres Pretas (2021), Artemísias: vozes de libertação (2021) — traduzido para o espanhol —, As várias faces da Perna Cabeluda (2023) e Nativas, mestiças e transoceânicas: o poderio feminino em Abya Yala (2023). Atualmente é professora adjunta da Universidade Estadual da Paraíba e está com o livro Ponto de Luz em pré-venda.