por Manoel Tavares Rodrigues-Leal_
Jean-Arthur Rimbaud (20/10/1854 – 10/11/1891) – Fotografia de Étienne Carjat (Dezembro de 1871) |
“Je veux être poète et je travaille à me rendre Voyant […] Il s’agit d’arriver à l’inconnu par le dérèglement de tous les sens. […] C’est faux de dire: ‘Je pense’. On devrait dire: ‘On me pense’. […] Je est un autre.” (Rimbaud – Lettre à Georges Izambard, 13 Mai 1871)
“Le poète se fait voyant par un long, immense et raisonné dérèglement de tous les sens” ( Rimbaud – Lettre à Paul Demeny, 15 Mai 1871).
Duas passagens das chamadas cartas do “vidente” [voyant] na página de rosto do caderno onde se inclui o presente texto: (Des)construção da Fala – (“in Memoriam de Rimbaud”)
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Publica-se agora a primeira versão de um texto em prosa poética. A segunda versão já havia sido publicada na Revista Triplov.
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Texto telúrico sobre Rimbaud
“Moi pressé de trouver le lieu et la formule.” (Rimbaud, “Vagabonds”, Illuminations – inscrição no livro A Imperfeição da Felicidade)
Rimbaud conquistou a plenitude (a perfeição) da palavra, o que significa a lendária sabedoria humana, condição essencial do acesso ao “divino” e ao absoluto intransigente.
Rimbaud significa a revelação divina e eterna do Homem, enquanto ser frágil e transeunte, porém ávido de beleza que busca concretizar na sua vida efémera. Também ele realiza a revolução verbal: o misticismo crucial insere-se no seu discurso “amoroso” que é o alheio quotidiano breve.
Rimbaud “É” porque é essencial à visceral vivência do divino, enquanto homem abastardado pelo bestiário de vida que supera (“a sua mítica condição”) através da exploração dos ilimites da linguagem poética que se enxerta na sua sede do absoluto, na invocação divina, na ascensão ao coração de cristal das coisas, na busca de beleza que se cifra na errância do ser e na invenção irreal da vida.
Inédito – Lx.ª 23-11-92 – 24-11-92 – caderno (Des)construção da Fala (In Memoriam de Rimbaud)
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Manuscrito com as duas versões. A presente versão à esquerda na imagem. |
Antecede o manuscrito desta primeira versão uma frase e uma nota:
“O espectro da morte atormenta todo o espírito lúcido, por mais ilógico e desregrado que seja…” 24/11/92
“Este texto sobre Rimbaud foi escrito às 7.30, mais ou menos, da manhã [23-11-92]. E foi “reescrito”, “emendado”, mais ou menos às 13.30 da tarde do dia 24/11/92.”
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Manoel Leal em criança, com cerca de 7–8 anos de idade. São extraordinárias as parecenças com o adolescente Rimbaud (ver imagem de apresentação). |
“Elle est retrouvée! / Quoi? — l’Éternité. / C’est la mer mêlée / Au soleil”
(Rimbaud, “Délires II – Alchimie du Verbe”, in Une Saison en Enfer – versos inscritos na abertura do livro A Duração da Eternidade)
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Sobre as duas versões. Para comparar as diferenças, leia-se a outra versão deste poema em prosa já publicado num estudo na Revista Triplov: “Vinte e dois poemas, quatro prosas poéticas e três cartas de Manoel Tavares Rodrigues-Leal evocando e ecoando Jean-Arthur Rimbaud”
https://triplov.com/revistaTriplov/vinte-e-dois-poemas/
Aproveitamos para fazer duas correcções na versão publicada na Triplov:
Na primeira linha, em vez de “Rimbaud conquista a plenitude (a perfeição) da palavra”, é “Rimbaud conquistou a plenitude (a perfeição) da palavra”.
Na quinta linha, em vez de “revelação verbal”, é “revolução verbal”.
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Referências
[Jean-Arthur Rimbaud] Rimbaud, Poésies – Une saison en enfer – Illuminations, préface de René Char, édition établie par Louis Forestier, Gallimard, 1991.
[Jean] Arthur Rimbaud, Obra Completa, edição bilingue, prefácio de Francisco Vale, tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Lisboa, Relógio d’Água, 2018.
Manoel Tavares Rodrigues-Leal. A Duração da Eternidade, posfácio e desenhos de Luís de Barreiros Tavares, Lisboa, Edição de autor (com o pseudónimo “Manoel Ferreyra da Motta Cardôzo”), 2007.
Manoel Tavares Rodrigues-Leal, A Imperfeição da Felicidade, posfácio e ilustração de Luís de Barreiros Tavares, Lisboa, Edição de autor (com o pseudónimo “Manoel Ferreyra da Motta Cardôzo”), 2007.
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*Inédito coligido do caderno (Des)construção da fala (1992) por Luís de Barreiros Tavares