por Vamberto Spinelli Jr*__
ESTADO DE SÍTIO
ao som de Silvio Rodriguez
os pelos eriçam ao toque
teu governo em pânico
a língua prospera o golpe.
O MESMO REFRÃO
dirão:
— O SOL INCENDEIA
O NOSSO VIVER
na batida de um sacro samba
(o mesmo refrão)
até não restar mais
senão alegria
senão carnaval
(o mesmo refrão)
no entanto,
suamos
um cansaço denso
numa tarde infinita e sem saída
absoluto canavial
NÃO PASSARÃO!
a serpente insana
deflagra
estado de natureza
encarniçada
luta darwiniana
querendo-se infinda
lança-se e sobra
como sem volta,
mas morde a si
e se enrosca
enquanto, a tempo,
flora, pulsa e vigora,
uma primavera que já inflama
e os ovos da serpente
devora.
DEPRESSÃO
para Frederico Barbosa
minha vontade de persuadir
foi zerada,
cubo de gelo
minha nação-território,
quarto e sala,
reduzida a nada
o olhar da multidão amorfa
também zerou,
vidra em vida
zero na escala
zero na chegada
zero na partida
pela janela falha
o inverso da ternura
um deserto absorvente
emudece e se espalha
nada salva
nada cura.
QUARENTENA
uma tarde
que tara
uma imensa primavera
aérea dobra-se sobre nós
rara e clara
de pernas
extraordinárias
e quentes
incendiando a quarentena
e o medo
: do vírus, do câncer, do desespero,
do estado de exceção.
no vapor corpóreo do gozo,
dentro do esquecimento de tudo,
apenas apelo:
— continue, meu amor,
continue!
salvemo-nos
por hoje!