Em HQ, busquei a agilidade das histórias em quadrinhos | Cláudio Sérgio Alves Teixeira

 por Divulgação__



Entrevista | “HQ”: escritor Cláudio Sérgio Alves Teixeira fala sobre processos e bastidores para escrita de obra com ação intensa e atmosfera noir


Autor paulista constrói uma narrativa que reflete sobre perdas, obsessão e os limites da justiça; obra foi publicada pela editora Labrador


Cláudio Sérgio Alves Teixeira, promotor de justiça e escritor natural de Guarulhos, lança “HQ”, seu segundo livro, publicado pela Editora Labrador. Com um estilo narrativo ágil e carregado de humor mordaz, a obra acompanha a história de Rafaelle Nakamura, um dentista que leva uma vida comum até ser abalado pelo assassinato brutal da filha de um amigo. Movido por sentimentos de vingança e pela necessidade de entender a tragédia, Naka se vê mergulhado em uma trama repleta de personagens intrigantes e situações inesperadas, em uma jornada que coloca a amizade e a moralidade à prova.

Desde a infância, Cláudio transita entre o mundo real e o imaginário, o que influenciou sua escrita ao longo da vida. Embora formado em Direito, sua paixão pela literatura o levou a cursar Letras e a se inspirar em grandes nomes como Alan Moore, Jorge Luís Borges, Rubem Fonseca e F. Scott Fitzgerald. Seu primeiro livro, Miragem (2021), já trazia reflexões sobre morte e transformação, temas que retornam em HQ, mas agora com um ritmo narrativo inspirado nas histórias em quadrinhos. Escrito ao longo de 18 meses, o livro revela uma linguagem precisa e encadeada, mantendo o leitor preso até a última página.

Apesar da estrutura que remete ao romance policial, HQ não se prende ao gênero tradicional. O mistério não está no crime em si, mas nas reações das personagens aos acontecimentos trágicos. A obra constrói uma atmosfera neo-noir, onde a tensão é constante, e a justiça se entrelaça com questões subjetivas. Leia a entrevista abaixo, com o autor, e saiba mais detalhes sobre o processo de criação da obra. 

1. Quais temas centrais você destacaria em "HQ" e como eles se entrelaçam ao longo da narrativa?

“HQ” é um romance sobre amizade e vingança. As amizades são o tempero da existência humana, sem dúvida. No livro, porém, uma pessoa envereda por jornada vingativa, o que influi na vida de muitos ao seu redor, notadamente seus amigos.

2. O que te motivou a explorar os temas e escrever o livro?

Ao me aproximar dos 50 anos (estava ainda com 48), resolvi fazer um balanço da minha vida e, de certa forma, prestar homenagens aos muitos amigos a mim concedidos pela vida, os quais foram decisivos na minha formação pessoal.


3. Em sua análise, quais as principais mensagens e reflexões que “HQ” pode despertar no leitor? 

Não tenho a menor pretensão de transmitir qualquer mensagem. Literatura não é pregação ou proselitismo, é fruição. Um romance é uma obra aberta à interpretação do leitor, o qual pode encontrar diversas coisas lá, mas eu mesmo não nutro aspirações didáticas.


4. Como foi o processo de escrita do livro? Como foi sua rotina criativa e quais desafios você enfrentou?

Levei cerca de 18 meses para escrever, sem contar outros 6 meses de revisão. Eu escrevia diariamente, por algumas horas, antes ou após o trabalho e outras atividades. Eu não tinha motivo para escrever este livro, tinha necessidade — algo dentro de mim fervilhava e buscava o mundo externo, daí nasceu o romance.


5. Você tem algum ritual de preparação?

Não preciso de ritual para escrever, apenas de tempo. Na verdade, como não faço questão de escrever sempre, bem ao contrário, apenas de ler, somente escrevo quando estou realmente tomado por uma ideia da qual não posso fugir, ocasiões em que largo tudo e me debruço sobre a escrita, mas não ocorre sempre.

6. O que a publicação de “HQ” representa para você, considerando sua trajetória literária e a experiência com “Miragem”?

“HQ” é minha afirmação como escritor. Quando publiquei “MIragem” (2021), foi uma experiência de “parto”, de nascimento como escritor. Agora é minha tomada de posição frente à literatura, uma indicação de que o livro anterior não foi somente uma aventura. Cada livro tem sua própria história de escrita, mas a experiência anterior me deixou mais tranquilo para trabalhar este romance de forma mais racional, afinal eu já tinha um livro publicado, não me sentia mais tão ansioso pela publicação.

7. “HQ” traz elementos que remetem ao romance policial, mas não se limita ao gênero. O que te atraiu nessa estrutura narrativa e como buscou diferenciar sua abordagem?

Não me prendo a gêneros. Escrevi um romance que se assemelha ao gênero “policial” por conta da violência nele ínsita, mas não creia que meu livro seja romance policial. Não há mistério nele, por exemplo, tudo é claro e narrado para o leitor. Não importam tantos fatos misteriosos a serem descobertos, sim, a reação das personagens aos fatos trágicos.

8. Quais escritores e obras marcaram sua formação literária e, de alguma forma, influenciaram a construção de "HQ"?

Passei minha existência lendo livros de variados gêneros, então posso elencar diversas influências, a depender da fase da vida. Porém, o argentino Jorge Luís Borges, o brasileiro Rubem Fonseca e o americano Scott Fitzgerald são leituras perenes e, por isto, muito influentes.


9. Como você definiria seu estilo de escrita? Que tipo de estrutura você adotou ao escrever a obra?  


Busco um estilo claro e objetivo, embora sem descurar do sarcasmo e dos jogos de palavras. Em “HQ”, eu busquei a agilidade das histórias em quadrinhos, então há muita ação. Inclusive, a última palavra de cada capítulo é também a primeira do seguinte, uma forma de manter toda a trama encadeada e avançando sem perder o ritmo do que ocorria.

 

10. Como você começou a escrever? 

Escrevo esporadicamente desde os 20 anos, mas minha predileção sempre foi e sempre será a leitura. Escrevo porque leio muito.

11. Com “HQ” recém-lançado, há alguma nova ideia germinando ou planos relacionados à escrita?

Meu projeto atual é apenas continuar lendo e, quando possível, divulgar “Miragem” e “HQ”, sem planos de um terceiro livro, pelo menos por enquanto. Em tempo, eu não tinha planos para um segundo livro, mas “HQ” está aí.