por Alessandro Caldeira__
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O beijo, Klimt |
Contei várias histórias sobre Lygia e Carlos, tentando convencer Guilherme de que minha amiga só havia se casado por amor. No início, viviam em pé de guerra, como completos desconhecidos, mas agora faziam planos juntos e compartilhavam o futuro publicamente. Seus atritos, que poderiam sugerir uma relação instável, na verdade, apenas confirmavam o quanto se tornaram marido e mulher.
Para manter o controle da narrativa, adicionava detalhes sempre que sentia que a história poderia perder o ritmo. Às vezes acelerava, outras vezes prolongava trechos que considerava importantes, esperando que Carlos se apegasse a eles. Mas a verdade era que eu queria magoá-lo o suficiente para que sua tristeza o fizesse desistir de Lygia e, quem sabe, voltasse sua atenção para mim.
Queria que enxergasse que eu era a única que realmente lhe dava o valor que merecia, a única que se deslocara de Santa Cruz até Bela Ilha apenas para vê-lo, enquanto Lygia vivia intensamente seu romance. Mas não bastou. Guilherme permaneceu irredutível, impenetrável e confiante de que um dia Lygia lhe confessaria seu amor.
Então ele me perguntou, como se finalmente tivesse encontrado as palavras que buscava no fundo da memória:
— Você tem certeza de que eles estão bem? — indagou, incrédulo.
— Sim — respondi. — Estão muito bem e até planejando voltar para Santa Cruz para se casar.
Guilherme parecia não acreditar no que acabara de ouvir. Balançou a cabeça, como se tentasse reorganizar seus pensamentos.
— Como assim, casar? — perguntou.
— Já marcaram a data para o mês que vem.
De súbito, ele retrucou:
— Como ela vai se casar se ontem me beijou?
Fiquei sem palavras diante daquela revelação inesperada. Guilherme parecia se iluminar ao recordar o momento.
Ele narrou o encontro com olhos brilhantes, descrevendo cada detalhe: estavam nadando na praia quando ele demonstrava novas técnicas de natação para ela. Em certo momento, encontraram uma pedra no caminho e decidiram se sentar para admirar o mar. Ele ofereceu as costas para que ela subisse, mas escorregou; num impulso, virou-se para ela e a beijou.
— Acho que a assustei — explicou. — O beijo foi forte, sem pausas… devo ter machucado seus lábios.
Foi um beijo desesperado, de quem já não suportava mais o desejo que alimentava por minha amiga. Tentei disfarçar a dor e respondi, fingindo frieza:
— Ela não se machuca fácil.
Ele sorriu. E aquele sorriso me feriu profundamente.
De repente, minhas tentativas de apagar Lygia de seus pensamentos foram substituídas por uma sensação de impotência. Percebi que minha amiga era mais forte do que eu. Mesmo que eu vestisse uma armadura para enfrentá-la, bastaria um sopro seu para me desarmar. Levantei-me sem pensar e disse que minha mãe me esperava na cozinha. Despedi-me de forma desajeitada e fui embora, pisando em obstáculos imaginários pelo caminho.
Quando cheguei em casa, encontrei Lygia me esperando na porta da sala, de braços cruzados, com um olhar penetrante. Tive a impressão de que ela sabia do meu encontro com Carlos. Talvez tivesse me seguido, assistindo à cena patética em que eu tentava convencer Carlos de que ela não se importava com seus sentimentos. Cruzei por ela, sentindo seu olhar pesado sobre mim, esperando — com alguma submissão — suas humilhações.
— Já decidi! Não vou mais encontrá-lo — declarou, em tom imperativo, como se quisesse expulsar a culpa que sentia.
Mas, ao invés de continuar, parou. Esperava minha aprovação, uma resposta que sustentasse sua decisão. Permaneci calada. Meu olhar refletia a satisfação pelo seu desespero, e certamente ela perceberia se me encarasse. Esperava que entendesse, por si mesma, que meu silêncio era o consentimento que ela precisava naquele momento.
— Eu não sei o que está acontecendo comigo — murmurou, caminhando em minha direção. — Apesar de dizer que não quero vê-lo, agora mesmo minha vontade é de abraçá-lo novamente, sentir sua pele lisa, suas mãos finas, seu tronco delgado e fugir. Sim, eu fugiria com ele. Porque confio nele... e é a primeira vez que sinto isso por alguém.
Por um momento, achei que estivesse brincando comigo. A ideia era absurda, até mesmo para Lygia.
— Fugir não vai adiantar, Lygia — disse, tentando me impor. — Carlos está voltando de viagem, e tudo o que você sente por Guilherme vai passar.
Queria fazê-la perceber que Guilherme era apenas mais um, como tantos outros que havíamos conhecido na escola. Mas minhas palavras pareciam se perder no ar antes de chegarem a ela. Esforcei-me para não demonstrar nenhum desespero que pudesse fazê-la pensar que eu sentia inveja por Guilherme ter se interessado por ela, e não por mim.
Para minha surpresa, Lygia riu, como se tivesse escutado uma piada inesperada. Mas logo percebi que suas gargalhadas eram de pura satisfação com tudo o que estava acontecendo.
— Não é engraçado? — disse, como se vigiasse meus pensamentos. — Guilherme é seu amigo desde a infância. Vocês frequentavam os mesmos lugares, os mesmos restaurantes chiques. Ele namorou aquela loira esnobe… Mas, no final, ele quer ficar comigo.
Essas palavras encerraram meu desejo de permanecer ali. Subi para o quarto e me joguei na cama, tentando entender em que momento deixei escapar para Lygia meus sentimentos por Guilherme. Passei a suspeitar que sua satisfação com esse romance repentino — que mais parecia uma fantasia adolescente regada pelo risco e pelo prazer do perigo — tinha a ver com os beijos que ele havia me dado no passado.
O primeiro foi na escola. Ao subir a escada que dava para a sala de aula, Guilherme me parou, agarrou meus braços e me encostou contra a parede. Antes que eu pudesse reagir, encostou seus lábios nos meus e sibilou um pedido de namoro. Assustada, apenas me desvencilhei e me tranquei na sala.
O segundo beijo foi ainda mais doloroso. Eu estava na casa da professora Arlete, discutindo Shakespeare, quando terminei e vi Guilherme do outro lado da rua, organizando sua mudança para Bela Ilha. Assim que me viu, correu até mim.
— Estava te procurando — disse.
— Por quê? — tentei conter a alegria de revê-lo, ao mesmo tempo, em que sabia que ele estava indo embora.
— Não queria partir sem me despedir. Faz tempo que não nos vemos.
Àquela altura, não nos víamos desde o episódio do beijo na escola. A lembrança me envergonhou e mantive os olhos no chão.
— Para onde vai? — perguntei.
— Para Bela Ilha — respondeu com melancolia.
— Não está feliz?
— Não quero morar com eles. Principalmente com meu pai.
O convite veio de súbito:
— Quer ir comigo?
Aquelas palavras me atingiram como um trovão. Ele sabia que era impossível, que eu estava presa a Santa Cruz.
— Então, pode me abraçar? — pediu.
Aceitei mecanicamente. Quando ele finalmente soltou meu corpo, me beijou. Mas aquele beijo não carregava amor; era um aceno para me lembrar de que seu pedido de namoro ainda pairava no ar.
Agora, restava uma dúvida: há quanto tempo Lygia e Guilherme se encontravam às escondidas? Antes ou depois do beijo na praia? E por que ela nunca mencionou nada para mim?
Naquela noite, Lygia bateu na porta do meu quarto, implorando para que eu a ajudasse a encontrar Guilherme novamente.
— Você está maluca? Carlos pode te pegar com ele!
— Isso não vai acontecer porque você vai me ajudar. Tenho um plano.
— Não, Lygia. Dessa vez, eu me recuso a satisfazer seus caprichos.
— Então, quer dizer que você já não é mais a minha amiga?
— Como assim?
— Se você não me ajuda, então quer dizer que não quer o meu bem. Que amiga é essa?
Eu conhecia bem essa tática de Lygia ao lidar com uma recusa. Ela tinha plena convicção de que eu era incapaz de deixá-la sem atender aos seus desejos. Desde a infância, quando me obrigou a invadir a casa do vizinho após jogar minha boneca no porão dele, percebi que ela compreendia o poder que exercia sobre mim. A sensação de impotência diante de sua personalidade efervescente me enraivecia. Por que eu sempre cedia? Por que, apesar de me irritar com suas chantagens, nunca conseguia resistir?
Naquele instante, mesmo sentindo vergonha, obedeci outra vez. Tudo o que eu precisava fazer, segundo ela, era convencer sua mãe de que uma amiga de infância chamada Maria Helena nos convidara para um jantar em Alba, com nossos ex-colegas de escola e a professora Arlete. Assim que Rose, mãe de Lygia, chegou em casa, coloquei o plano em prática.
Contei tantas mentiras que me envergonhei do quanto eram absurdas. A principal personagem dessa farsa era a própria professora Arlete, de quem eu nem sabia a real condição de saúde. A última vez que a vi, estava sendo retirada de casa numa maca e levada para uma ambulância. Mesmo assim, continuei com o teatro, e o prazer de convencer Rose sem a ajuda de Lygia me motivava ainda mais.
— Ontem, fomos convidadas por Maria Helena, nossa amiga de infância, para um jantar na casa dela — disse. — Todos os nossos antigos colegas de escola também foram chamados, inclusive a professora Arlete.
— Todos em Alba? — perguntou Rose, desconfiada.
— Sim, o jantar será lá.
— Você sabe que Lygia não pode ir. Carlos está chegando.
Ficamos em silêncio. Dessa vez, Lygia interveio com a mesma audácia de sempre:
— Se ninguém contar a ele, ninguém saberá.
— Não se mente para o marido, Lygia.
— Mas, mamãe, Carlos só chega na próxima semana. Não há perigo.
— Ele sempre acaba descobrindo.
— Não descobre nada.
— Descobre, sim, Lygia. Chega desse assunto. Não quero te ver metida em encrenca com seu marido. Fernanda pode ir, você não.
Mesmo diante da negativa, insistimos. Usei um tom mais dramático:
— Dona Arlete está muito doente e conseguiu tirar um dia de folga para nos ver juntas novamente. Quem sabe quando teremos outra oportunidade?
Lygia reforçou:
— Foi ela quem me ajudou a ser quem sou hoje, me ensinou a ler, a escrever, sempre dizia que eu era a melhor aluna da turma. Não acha que devo isso a ela?
Rose hesitou, mas permaneceu firme, até que Lygia fez um apelo inesperado:
— Quantas vezes você mentiu para o papai? Não por maldade, mas porque sentia que devia? Porque era o certo a se fazer?
No começo, ela negou, mas Lygia insistiu:
— Nem uma vez? Anda, mamãe, fala a verdade!
A pressão a fez explodir:
— Tá bom, Lygia! Já tive que mentir uma ou duas vezes... algumas vezes.
Com raiva, foi cedendo e, melancólica, questionou a filha:
— O que fiz quando você nasceu? Bateu com a cabeça? Por que é tão diferente das outras?
— Isso quer dizer que posso ir? — perguntou Lygia, eufórica.
— Pode. Mas quero que volte sexta-feira antes das 21h. Deus me livre se Carlos chegar e você não estiver.
Lygia, exultante, abraçou a mãe, distribuiu beijos e fez promessas de que chegaria na hora.
Ao sairmos de casa, Rose reforçou o horário:
— Voltem sexta, antes das 21h, nem um minuto a mais.
Concordamos. Ela nos lançou um último olhar desconfiado antes de entrar.
II
Assim que nos distanciamos, Lygia me agradeceu com entusiasmo e prometeu que nunca esqueceria o que fiz por ela. Mas, àquela altura, eu já estava arrependida. O prazer de contar mentiras e ver Rose acreditar em cada palavra desapareceu. Passei a pensar na professora, que coloquei no centro dessa farsa sem sequer saber se estava melhor. Fiquei triste ao lembrar como era enérgica, sempre ressaltando nosso potencial — tão diferente daquela mulher que vi ser levada de ambulância.
Por que eu sempre me deixava envolver pelos caprichos de Lygia? Mesmo resistindo de início, acabava cedendo às suas confusões.
Lygia estava decidida a se desvencilhar da condição de mulher casada, de Senhora Bergamaschi. Para isso, fazia questão de se envolver com outro homem, encontrá-lo de forma cada vez mais ousada. Entrava de cabeça em uma relação proibida apenas para violar o laço sagrado do matrimônio, nem que isso lhe custasse a própria vida.
De repente, imaginei minha amiga dilacerada como uma fotografia, dividida em várias partes com precisão até se despedaçar.
Quando chegamos à praia, Guilherme já aguardava. Perguntou, apreensivo:
— E então?
— Sim.
Eles se abraçaram entusiasmados e correram para o mar, alheios à minha presença. O vento carregava o cheiro salgado, e as ondas quebravam com força na areia. O céu oscilava entre o cinza e breves tremores de luz.
Mergulharam sem hesitar. Lygia soltava gritinhos alegres enquanto Guilherme a puxava para dentro d’água, brincando de afogá-la. Os dois se abraçaram e se beijaram.
III
Enquanto isso, eu permanecia sentada na praia, sentindo-me como uma criada contratada para satisfazer os desejos da patroa. Minha função era encobrir o adultério, permitindo que os dois se entregassem reciprocamente. Tentei me transportar para um lugar mais seguro, imaginando meu futuro na universidade, mas a cabeça começou a latejar. Afundei os pés na areia, buscando alívio na temperatura agradável abaixo da superfície. Olhei para o horizonte, mas os dois já haviam se transformado em pequenos pontos negros, indistinguíveis entre si. Um pensamento me atravessou: queria que morressem.
IV
Uma voz me chamou. Ao me virar, reconheci imediatamente o primo de Lygia, Paulo Ferrari, acompanhado da esposa, Giovanna, que puxava o irmão mais novo de quatro anos. Lembrei que Lygia e Paulo não se suportavam. Minha amiga sempre afirmava que o casamento do primo era de fachada, uma estratégia para ocultar sua homossexualidade e evitar ser deserdado pelo pai, que lhe havia passado a empresa de costura, mas jamais aceitaria — como dizia — "um viado" frequentando sua casa.
Imaginei os problemas que Lygia enfrentaria se Paulo a flagrasse com Guilherme. Torci para que fossem embora rapidamente, que apenas me cumprimentassem e seguissem outro rumo. Mas Giovanna começou a estender um lençol na areia e se deitou confortavelmente, fitando-me:
— Eu sabia que era você, Fernanda! Há quanto tempo está aqui?
Sem alternativas, recebi-os com entusiasmo, tentando desviar suas atenções do mar.
— Que surpresa! Estou aqui há um mês, eu acho. Mas não sabia que vocês viriam.
— Ah, estou grávida, e o médico recomendou que eu frequentasse mais a praia para o bem do bebê.
Talvez pelo calor do momento, nem notei que sua barriga já começava a crescer. Dei-lhe os parabéns, pedi para tocar e ouvir os chutes. Minha encenação de euforia pela gravidez foi tanta que, de repente, me reprimi e passei a perguntar sobre seus pais, se via os meus, o que fazia em Santa Cruz. No entanto, percebi que Paulo procurava algo no horizonte. Com certeza, estava ali por causa de Lygia. Alguém do bairro, pensei, deve tê-los visto de mãos dadas em um de seus passeios e ele veio confirmar os rumores.
Controlei-me. Tentei incluí-lo na conversa, mas, à medida que o tempo passava, sentia-me sufocada com a impressão de que a qualquer momento ele alcançaria seu objetivo. Criei situações para convencê-los a sair dali e me acompanharem para outro lugar.
— Não querem ir até a barraca de coco? — sugeri apressada.
Mas Giovanna se lembrou de Lygia.
— Lygia veio com você?
Dessa vez, Paulo demonstrou interesse na conversa:
— É mesmo, Fernanda? Onde está minha prima?
Tentei disfarçar, fingindo surpresa por minha amiga não estar ao meu lado. Inventei que ela devia ter voltado para casa e que chegaria a qualquer momento. Então me lembrei da história que contei para Rose e não queria reviver aquela sensação de submissão. Permaneci em silêncio.
Paulo, no entanto, parecia ter esquecido da própria pergunta e voltou a encarar fixamente o horizonte, como se aguardasse alguém. Vi ali uma chance de retomar a conversa.
Fui efusiva. Movimentava os braços em gestos exagerados enquanto falava, bombardeava Giovanna com perguntas na tentativa de chamar atenção, principalmente de Paulo. Sem sucesso. Ele permanecia imóvel, focado na busca.
Então, de repente, reconheci a voz da minha amiga se aproximando. O trinado das gaivotas à frente deles parecia harmonizar-se com suas risadas.
Vinham radiantes, sem perceber que saíram do mar de mãos dadas e assim seguiram em nossa direção. Paulo arregalou os olhos, surpreso, e foi o primeiro a se manifestar:
— Estávamos te procurando — disse ele com uma voz irônica, mas tentando ser cordial.
Minha amiga soltou-se das mãos de Guilherme como um golpe, mas era difícil não percebê-los, tamanha a beleza que eram os dois juntos. Lygia, por exemplo, parecia ter saído do mar ainda mais bonita. Guilherme, por sua vez, voltou a olhar para mim como se quisesse me dizer alguma coisa ou confirmar o que estava acontecendo.
Quando os dois resolveram se juntar a nós, Paulo perguntou:
— O que estava fazendo?
— Fui dar um mergulho. Você não viu?
Paulo a olhou com satisfação, como se já esperasse o tom ríspido e sentisse orgulho disso.
— Por que você não apareceu mais em casa? Meu pai gostaria de te oferecer um emprego na fábrica.
— Não preciso de nada de você ou do seu pai.
Giovanna, que curiosamente havia se calado na frente de Lygia, chamou o marido algumas vezes, tentando convencê-lo a ir tomar uma água de coco na barraca. Ele, no entanto, respondeu que ficaria apenas mais alguns minutos, mas, na verdade, acabou debatendo por uma hora.
— Meu pai quer te oferecer uma vaga na costura. Na verdade, você será a chefe do departamento.
— Sendo chefe ou não, quero que vocês dois vão para o inferno.
A partir desse momento, Paulo pareceu ceder à resistência de Lygia e olhou para Guilherme com expressão de interesse:
— Você é o escritor? — perguntou, sem esconder o desprezo.
Guilherme tentou se manter neutro, mas estava visivelmente desconfortável.
— Sim — finalmente respondeu. — Mas acho que não te conheço.
— Não precisa. Só quero te dizer que o livro que escreveu sobre a minha família está errado. Talvez você não saiba, mas quem escolhe o que deve ou não circular em Santa Cruz sou eu.
Guilherme não quis estender a conversa e apenas assentiu com um leve tédio. Paulo, então, voltou para Lygia:
— Não encontramos ninguém melhor do que você. Além disso, você é da família.
— Há muitas outras da família — respondeu Lygia, impaciente, claramente incomodada com sua presença e toda aquela tentativa de persuadi-la.
Paulo ainda fez algum sinal de que insistiria, mas, de novo, olhou para Guilherme, se levantou e deu um último aviso:
— Melhore os seus livros.
Guilherme assentiu mais uma vez. Quando Paulo foi embora, ele perguntou para Lygia:
— Quem é ele?
— Apenas um idiota.
Eu, porém, sabia o quanto era importante Guilherme entender o que acabara de presenciar, então contei que Paulo era primo de Lygia e que ele comandava a fábrica de costura junto com o pai, Sidnei Ferrari.
— Os dois não vivem bem — falei. — Porque Lygia não quer acompanhar os negócios da família e ele acredita que ela é a única capaz de continuar o legado.
— Existe alguma chance de ele falar da gente, Lygia?
— Não. A única coisa que importa para ele é a porcaria da família.
— Lygia — interferi —, não minta. Você sabe muito bem que, se Paulo encontrar seu marido em Santa Cruz, ele vai contar que viu vocês.
Ela deu de ombros. Quis saber se Guilherme também queria pegar um coco, mas naquele momento sabíamos que era melhor irmos embora. Mas Lygia nos interrompeu quando já estávamos prontos para partir e perguntou para Guilherme, fazendo carinho em seu rosto:
— Você não quer mais?
— Estou preocupado com você.
— Ele é apenas um merda que acha que manda. Mas nós não viemos aqui para ficarmos juntos?
Guilherme se convenceu e se curvou para beijá-la. Mas, enquanto isso, eu já projetava a catástrofe que aquele encontro provocaria. Paulo voltaria para Santa Cruz e contaria tudo. Carlos viria até aqui. Rose diria que Lygia estava em Alba. Ele viajaria até lá e não a encontraria.
Lygia, pense bem. Assim você arruína tudo que conquistou com esse casamento. Além disso, também me arruína. Não percebe o que está em jogo?
Lygia, no entanto, sorriu: — Nanda, gostaria tanto que você vivesse esse momento que estou passando. É maravilhoso. Não me importa o que vai acontecer amanhã.
Deixei pra lá. Voltamos para a casa de praia, e Lygia arrumou tudo, lavou a casa, fez a janta, ligou para a mãe e disse várias vezes o quanto estava feliz e que, a partir de agora, tudo seria diferente para ela.
— Lygia, você é uma filha especial. Não me faça me arrepender da minha decisão de deixar você fazer essa viagem.
— Tá tudo bem, mamãe. Nanda tá cuidando de mim — desligou.
V
No dia seguinte, acordei ainda aturdida com tudo o que acontecera. Lygia me despertou com um entusiasmo que já estava me irritando. Passei a dizer que não valia a pena ficar mais um dia só para passar a noite com Guilherme. Mas ela não me ouviu e pediu para acompanhá-la até a casa da professora, de onde partiria rumo aos braços de Guilherme. Levantei imaginando os dois trepando na cama.
Quando cheguei, fui recebida com afeto por Lúcia Oliveira, mãe de Maria Helena. Logo pedi desculpas pela pressa de ter ido sem avisar, explicando que hoje não conseguiria ficar na casa de Lygia porque ela viajara, então preferi passar o dia com eles. Ela, porém, se mostrou bastante benevolente com a minha visita e me convidou para entrar. A casa era bonita, a sala grande, e os móveis vintage davam a impressão de que eu estava na Europa. Lúcia me trouxe um chá e me convidou para sentar.
— É um prazer te receber, Fernanda. Raramente saio de casa desde que me mudei para cá, e como Maria Helena vive estudando e Antônio mal para em casa, não tenho ninguém para conversar.
Ela aproveitou para me contar sobre a professora Arlette, sua irmã, falou sobre os últimos dias de vida dela e o quanto ligava para saber de mim. Fiquei comovida, senti vontade de abraçá-la, mas tudo mudou quando Lúcia disse que Arlette também estava preocupada com a companhia da minha amiga.
— Ela sempre me perguntava se eu a havia visto, se você me fazia visitas — contou. — E quando soube da sua amiga, queria que você se afastasse dela para vir morar comigo.
Fiquei curiosa com esse alarde da professora Arlette.
— O que ela dizia?
— Primeiro, ela elogiou muito a sua amiga, disse que era a aluna mais brilhante que havia conhecido.
— É verdade — concordei, incomodada com a lembrança da minha infância.
— Mas ela também dizia que vocês duas têm caminhos diferentes e que o seu é o mais correto.
Lúcia me falou animada, esperando que eu me sentisse bem e respondesse algo positivo sobre a visão da sua irmã, mas não foi o que ocorreu. As lembranças da minha amiga ficaram na professora e, por mais que ela se preocupasse comigo, percebi que Lygia era a sua frustração.
— Não é verdade. Lygia é realmente brilhante, mas preferiu parar de estudar. Se não fosse por isso, tenho certeza de que seria alguém muito importante, uma cientista ou escritora.
Ela riu, debochada.
— Ah, Nanda, um dia você vai perceber que é uma pessoa muito melhor que a sua amiga. Mas posso te dar um conselho?
— Claro.
— Tome cuidado.
— Por quê?
— Por mais que ela possa ser sua amiga, quando a conheci, não gostei dela. A Sra. Bergamaschi é tão diferente que dá até medo. Sinto que ela é má.
Dessa vez, quem riu fui eu.
— Ela não é maldosa, só gosta de fazer as coisas do jeito dela.
— Tudo bem — admitiu. — Sei que você a conhece mais do que eu, mas ela pode até não ser má, mas sabe como se aproveitar de uma situação.
Nós duas rimos dessa observação. Fiquei satisfeita com a visão de Lúcia sobre mim e com o fato de a professora Arlette querer me proteger, mas pensei que, se tudo fosse fácil assim, muita coisa seria diferente. Eu sabia que, entre nós duas, nada era simples.
Durante o dia que se seguiu, brinquei com Lúcia, fiz ela rir, falei que Lygia era capaz de grandes coisas, inclusive de fazer as pessoas odiá-la sem nenhum motivo. Caímos na risada.
— Ela era uma peste na escola — lembrei. — Fazia crianças e adultos correrem atrás dela desejando matá-la. Mas, desde a infância, tinha o pensamento rápido, provocava com sua língua afiada e sua inteligência. Todos a odeiam, mas também querem ser como ela.
Lúcia se divertiu, encarava minha visão como um entretenimento, e fez um último comentário.
— Olha, pode até ser, mas posso te contar uma coisa? Às vezes imagino a sua amiga como uma bruxa que faz o negócio de todos os homens caírem, ou então ela arranca com uma faca para mexer no seu caldeirão.
Ela continuou rindo, mas dessa vez sua fala me perturbou. No final do dia, eu encontraria minha amiga de novo.
Passei a imaginar os dois deitados, fazendo juras, enquanto seus corpos se enlaçavam e caíam no chão, se beijando. Guilherme, no ápice do prazer, urrava sobre Lygia, e minha amiga se debatia, declarando que ele era o único homem da sua vida.
Percebi, então, que não odiava nenhum deles. Pelo contrário, eu os admirava—especialmente pelo momento que viviam. Não os odiava. Quem eu desprezava era a mim mesma. Eu me odiava.
Estava diante de Lúcia, sentindo o cheiro amadeirado, doce e seco do chá, mas era como se estivesse ausente, mortificada, sempre debruçada sobre razões que não eram minhas. Sim, eu vivia para os dois, amava ambos, e a cena deles fazendo amor não saía da minha cabeça. O amor deles me consumia. E nada era mais importante agora do que esse sentimento avassalador—e a raiva que sentia de mim mesma.
Eu precisava me afirmar, me sentir, mas estava cega pelo que sentia por Lygia e Guilherme. Pensei que seria tão bom se alguém pudesse me matar por piedade.
VI
Naquela tarde, quando seu marido e Maria Helena chegaram, Lúcia me convidou para acompanhá-los à praia. Aceitei.
Quando chegamos, Maria Helena quis saber sobre meu futuro na universidade.
— Ainda falta um ano para terminar — respondi. — A espera está sendo interminável.
— Já sabe o que fará depois? — perguntou ela, segurando a filha, que não parava de se mexer, fascinada por uma pipa no céu.
— Gostaria de ser professora. Dei aula algumas vezes e, ultimamente, só penso nisso.
— Lembro de quando nos conhecemos na escola. Você era a melhor da turma. Minha tia te admirava.
Maria Helena tinha um brilho nos olhos que há tempos eu não via em ninguém. Aquilo, de certo modo, me contagiou.
Contei sobre os bons momentos que passei com a professora Arlette, do quanto ela depositara confiança em cada um de seus alunos e que ainda não havia encontrado uma professora na universidade em quem eu pudesse confiar tanto.
— O tempo passa rápido — continuei. — Você mesma agora é casada, tem uma loja e ainda uma filha.
— A gravidez, na verdade, foi o momento mais difícil — confessou. — Enquanto ela estava dentro de mim, seus chutes pareciam socos. Era como se estivesse brava comigo. Várias vezes declarei a Jorge minha insatisfação com a gravidez. Eu não a queria mais. Normalmente, dizem que as mães expulsam os filhos, mas, no meu caso, era ela quem estava me expulsando. Parecia que eu estava atrapalhando seu crescimento.
— Mas ela é tão linda — tentei amenizar.
Maria Helena sorriu, mas seu olhar permaneceu distante.
— Eu a acho tão feia, Fernanda. Quando ela nasceu, chorei de pena: de mim, por ter de carregá-la; e dela, por nascer me odiando.
De repente, sua expressão mudou. Seu rosto se apagou como uma nuvem cobrindo a luz do sol.
Esperei que dissesse algo. Como permaneceu calada, perguntei:
— O que foi?
— Agora me ocorreu algo engraçado.
— O quê?
— As coisas com Jorge mudaram depois dela.
— Você não se sente bem com ele?
— A princípio, sim. Sinto-me envolvida pelas palavras dele, e como me toca sempre me comove.
— E depois?
— Depois… — hesitou, como se escolhesse as palavras certas. — Tenho a sensação de que estou virando outra pessoa. Não sei se por culpa minha ou dele. No auge da nossa relação, sinto como se, enquanto ele me toca, minha pele se modificasse, tornando-se lisa, escorregadia, e nas minhas costas se formassem garras e nadadeiras.
Ela se inclinou para mais perto de mim, como se estivesse prestes a revelar um segredo.
— Uma vez, achei que meus olhos tinham ficado completamente pretos, porque era impossível enxergar o que estava à minha frente. Discutimos feio. Senti que estava mudando, ficando mais fria e inconsistente com ele. Acho que Jorge não percebe, porque essa mudança não vem de fora. É algo que acontece dentro de mim.
— Sempre é assim? — perguntei, absorvendo cada detalhe da sua confissão.
— Não há um só dia que não seja. Não importa quantas vezes ficamos juntos.
Ela suspirou, desviando o olhar para o mar.
— Uma noite, sonhei que um monstro estava esperando para me possuir — continuou. — Tanto que já sonhei com ele me beijando, enfiando o troço dele em mim até que explodisse de prazer.
Fiquei quieta, temendo interromper seu fluxo de pensamentos.
— O que me assusta — confessou, num tom mais baixo — é que, no sonho, eu também estou delirando de prazer. Quero mais daquele ser animalesco, de corpo escamoso e cor cinza. Às vezes, penso que ele é até mais bonito do que o Jorge.
A revelação de Maria Helena foi, para mim, o anúncio de algo que estava prestes a acontecer. Não a ela, mas a mim. Enquanto descíamos para a praia – eu, ela e Célia – e brincávamos com sua filha, que finalmente conseguiu encontrar a pipa que tanto perseguia, me acalmei. Parei de pensar em Lygia e Guilherme. Acreditei que tudo ficaria bem. Paulo não contaria nada ao marido dela, talvez nem se lembrasse da conversa. Talvez eu estivesse apenas me equivocando, sempre pronta para uma tragédia. Mas, depois que me cansei e tirei meu chinelo, percebi que tudo se escurecia. Vi nuvens negras se aproximando, suas sombras engolindo tudo em seu caminho.
Quanta imensidão. O céu, com as nuvens rompidas produzindo feixes de luz, me lembrava quando Lygia dissera que, para ela, o céu representava algo monstruoso. Estamos aqui embaixo, e parece que estamos abrigadas por uma cobertura negra. Aquilo me aterrorizava, como se estivesse sendo abraçada por uma criatura silenciosa, porém hostil, de olhos esbugalhados, que sabe tudo sobre nós. Naquele momento, sozinha, tentando apagar da memória a imagem de Carlos dormindo no quarto, enquanto sua mulher e minha amiga se entregavam a outro homem que eu tanto desejava, concordei com suas palavras. O céu apenas abrigava nossos medos, e a praia era o seu trono. Quem ficasse ali, seria sua melhor vítima. Mesmo sentindo meus pés cobertos de areia fria, aquela beleza me provocava uma sensação de assombro. Agora, eu era a soma desse terror. Ah, essa beleza era só o prenúncio de uma fúria que alimentaria a violência do dia seguinte.
Mais tarde, encontrei Lygia. Nenhuma de nós conseguiu dizer nada além de um cumprimento rápido. Notei-a diferente, um tanto apreensiva. Como já estava cansada, sugeri que voltássemos, e ela concordou.
VII
No dia seguinte, aconteceu o que eu temia: Carlos voltou sem avisar. Isso significava que o primo de Lygia não hesitou em contar que a viu de mãos dadas com outro homem. Ele entrou em casa sem alarde. Quando Lygia o viu, tentou entretê-lo com carinhos e beijos. Perguntou que horas saíra de Santa Cruz, como fora a viagem, mas ele apenas acenava com a cabeça. Ainda assim, conseguiu demonstrar desenvoltura ao lado dele, como se, no dia anterior, não estivesse nos braços de outro.
— Eu mesma vou preparar o almoço para você, deve estar cansado — disse, alegre.
Eu, no entanto, sentia a hostilidade aumentar. Lygia apenas adiava o inevitável. Carlos, então, perguntou-lhe, com um sorriso no rosto e um gesto largo:
— Onde esteve na noite passada?
Lygia, com sua habitual dissimulação, respondeu:
— Fiquei em casa e dei algumas voltas pela praia para diminuir a solidão.
Carlos fez uma pergunta imediata:
— Fernanda, você a acompanhava nesses passeios?
Tentei manter a tranquilidade e respondi:
— Às vezes ia com ela à praia.
Falei o mínimo possível, tentando não demonstrar o nervosismo que me tomava.
Carlos permaneceu sentado, observando Lygia com um sorriso irônico. Depois de um longo silêncio, disparou:
— Então, quer dizer que não é verdade que você e aquele escritor ridículo estavam passeando de mãos dadas? Que vocês estavam grudadinhos e trocando sorrisos como um casal?
Lygia mudou de atitude, mas não se deixou abater:
— Quem te contou essas coisas?
— Giovanna mencionou isso durante o jantar na casa do irmão dela. Disse que aquele escritorzinho vinha até aqui só para vocês ficarem de mãos dadas.
Lygia reagiu com fúria:
— Você é um imbecil! Não percebe que ela tem inveja? Que está tentando tomar meu lugar na fábrica? Eles querem me afastar porque sabem que sou melhor do que ela!
Carlos se levantou e, com uma força descomunal, a pressionou contra a parede, apertando seu pescoço com tanto ódio que, por um instante, enxerguei os seus braços se multiplicando ao redor de seu corpo, como se suas mãos fossem atraídas por uma força maligna.
— Fala, vadia! Me diz que é mentira que Giovana e Paulo Ferrari vieram aqui para falar de suas oportunidades na fábrica e te encontraram de mãos dadas com aquele imbecil do Guilherme! Responda, se tiver coragem!
Lygia retomou seu tom sarcástico:
— Sim, é verdade! Quer saber mais? Guilherme vinha até aqui só para me ver. Todos os dias tomávamos banho juntos na praia. Desde que ele chegou, deixei que me possuísse. Gozei com ele — algo que você nunca conseguiu, porque sinto nojo do seu corpo, da sua pele, do seu cheiro de vendido. Está satisfeito agora?
Carlos lhe deu uma bofetada tão forte que a derrubou. Se fosse eu ou qualquer outra pessoa, teríamos desmaiado. Mas Lygia riu e continuou a provocá-lo. Eu e sua mãe, Rose, imploramos para que ele a deixasse em paz. Avisamos que, se ele batesse nela outra vez, chamaríamos ajuda. Rose, então, o ameaçou:
— Se você não parar, eles vão te matar, e eu vou agradecer por isso, Carlos! Você está ouvindo?
Mas Carlos já não escutava. Jogou minha amiga no quarto e trancou a porta. Tentei entrar, mas não consegui.
Os socos e os gritos de Lygia ecoavam pelo apartamento. Batia na porta, chorava, implorava para que ele a soltasse. Rose correu atrás do zelador para conseguir uma cópia da chave, mas ele não estava. O prédio inteiro parecia deserto, tomado pelo terror imposto por Carlos.
Horas passaram. A tortura prosseguia até que, enfim, os gritos cessaram. Eu e Rose adormecemos ao pé da porta, esperando que ela ainda estivesse viva.
Enquanto ouvia os golpes, percebi que as mãos de Carlos não eram só um delírio. Ele realmente havia se transformado. Seu corpo não lhe pertencia mais. Agora, pertencia ao seu pai. Primeiro, as mãos foram possuídas. Depois, o resto. No quarto, trancado com Lygia, não estava apenas Carlos, mas Alberto Bergamaschi. Carlos, que nunca mencionava o pai porque se sentia um filho inútil, agora servia como instrumento de sua raiva.
Quando acordei, murmurei, encostada na porta:
— Lygia, fala comigo.
No dia seguinte, voltamos para Santa Cruz. Lembrei de quando éramos jovens e do entusiasmo que sentíamos ao ver uma nova construção na cidade. Para nós, aquilo significava progresso. Finalmente, nossa cidade poderia se igualar a Bela Ilha. Eu, Lygia e os outros corremos pelo asfalto esburacado do bairro, ansiosos para chegar.
A gente analisava o esqueleto do edifício como se fosse uma maravilha:
— Olha como é grande! Como cabe algo assim em uma cidade como a nossa?
Sob nossos corpos infantis, aquele prédio nem tão alto se tornava um arranha-céu. Lá no topo, pensava que talvez pudéssemos desaparecer dali. Quem sabe alcançaremos os anjos e viveríamos com eles.
Passei a caminhar todos os dias pela rua onde ficava aquele esqueleto, admirando sua estrutura. Sentia, confesso, um certo orgulho da minha cidade. Prometi a mim mesma que um dia levaria minha família para vê-lo, para compartilharem do meu encanto. Imaginava turistas boquiabertos diante do nosso monumento. Mas, de repente, a construção parou. A estrutura começou a se deteriorar.
O que antes era um símbolo de esperança se tornou um retrato da ineficiência. E mais uma vez, tudo o que eu queria era fugir daqui.
Alessandro Caldeira é jornalista, santista e nas horas vagas prefere postergar qualquer um desses títulos para se dedicar à literatura, música e cinema.