Logo ali | Crônica de Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro__





                      
Semana destas ‘conversava’, por troca de mensagens, com uma coleguinha — assim chamamos nossos pares jornalistas — acerca do filho de outra coleguinha, que está em visita ao país numa daquelas viagens que levam 48 horas para se chegar em solo brasileiro. Solto um É logo ali!” de pronto. Mineira, como manda o figurino, já escrevia: “Logo ali de mineiro, né?” e reforça: “Quem conhece sabe como é. Já fiquei brava com muita gente por ir a pé a um determinado destino porque era ‘logo ali’.

Imediatamente me veio uma passagem em que eu, por conta de trabalho fotográfico, me deslocava por estradas vicinais mineiras, daquelas que é uma casa ali e outra acolá. Havia recebido as instruções de como chegar, pois nem o GPS do celular funcionaria. Claro: fiz a fatídica pergunta: “É perto?”. A resposta foi certeira: “É logo ali, não tem o que errar!”. 

A referência era que quando chegasse ao ‘grupo’ pegasse à esquerda e mantivesse essa posição até a porteira da fazenda. Estrada de terra, cortando ‘o nada’, buscava atentamente o ‘o grupo’, que na minha concepção (errada evidentemente) seria a sede da banda marcial do distrito ou algo assim. 

Quilômetros e quilômetros rodados nada aparecia senão uma fazenda ali e outra acolá, até que me deparo com uma cooperativa na beira da estradinha, “opa!”, bradei; minha tábua de salvação. Estaciono, comprimento os presentes com um sonoro “bão”, no que fui imediatamente correspondido em coro, como é de praxe da atenciosa educação e hospitalidade mineira. Havia no ar uma sensação de alívio e, ao mesmo tempo ansiedade, pois eu saberia se estava perdido ou no caminho certo. Inicialmente descobri que ‘o grupo’ era a escola que estava um ‘cadin’ à frente, que a fazenda que eu procurava era “mais um pouco de estrada”… De repente, ouço uma voz tonitruante bradar do fundo da venda: “Vai para o Quilombo? Uai, cê tá longe ‘bagarai’!”… logo pensei: “Vou ter que atravessar o estado até o Mato Grosso para chegar lá!

Na verdade, não foi tanto, mas também não foi pouco — umas três horas e meia em estrada de terra batida. Por isso criei uma tabela com distâncias mineiras, assim, nenhum outro desavisado ficará se achando ‘perdido’:

  • Dá para ir a pé: de 1 a três quilômetros
  • Pertin: de 3 a 5 quilômetros
  • Logo ali: de 6 a 10 quilômetros
  • É um cadin longe: 30 quilômetros no mínimo
  • É longe ‘bagarai’ a partir de 200 quilômetros

 
                                                         
                                                              
                                                        
                                                   
                                                       
                                                              
                                                                             
                                                                      
                                                      



Carlos Monteiro é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.