Mulheres | crônica de Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro__



                                                        
                                                                 
                                                                       
                                                               
                                                                        
                                                                        
                                                                               
                                                                       
                                                                          
                                                                           
                                                                  
                                                   
Mulheres


Com a polêmica de um suposto plágio da música Million Years Ago, interpretada pela cantora britânica Adele, Mulheres, composta por Toninho Arraes e interpretada por Martinho da Vila, fiquei pensativo em relação ao tema central ‘mulher’.

Como o poema de Vinícius de Moraes, Receita de Mulher – aquele em que apregoa ser a ‘beleza fundamental’ em detrimento ‘às muito feias’ - e que me perdoe Vininha, mas isso foi um tanto quanto machista, repito mais uma vez: não existe o feio e bonito como forma física. Também não existe o lugar comum de “quem ama o feio, bonito lhe parece”. Afinal o que é a beleza? Basta um sutil sorriso, um olhar encantador que se torna avassalador, uma palavra, muitas vezes uma única e relevante palavra doce e inteligente na hora certa. A beleza é intrínseca, é sutil, muitas vezes exótica e quase sempre avassaladora. A beleza está nos olhos, no que captam os olhos. É o conjunto da obra, ímpar em singularidade, plural em consequência.

É morena, cabelos avermelhados soltos ao vento, discretos olhos castanhos amendoados, quase esverdeados, encantos tamanhos, como são grandes pecados. Verdes ou azuis  de mar, violetas talvez, quase Elizabethanos. Loura, ruiva, grisalha, azuis, abóboras, negros... a beleza é, simplesmente, beleza, apenas isso, nada além do que nunca será uma ilusão. Sorriso que explode em alegria. Preta, branca, vermelha ou amarela, não importa, apenas um olhar para entender, para apaziguar o coração. E como é bela!

Francisco Buarque de Hollanda nos dá uma ‘fórmula’ composta em verso e canto, sublime em sua personificação, assim como se fosse uma poção mágica, com ingredientes muito especiais, para ‘construção’ da mulher. Não uma receita, mas sutis detalhes que compõem essa obra-prima que nos deixam à flor da pele, será que será!

São Ritas, Carolinas, Genis, Beatrizes, Anas, Joanas, Rosas, Iolandas, Marias e Marietas, Cecílias, Cristinas, Helenas, Teresas, Bárbaras, e como são bárbaras, Luízas, Angélicas e tantas outras das indígenas, do oriente, do ocidente, francesas, de Amsterdã, de Angola, havanesa, de aquém e além-mar amar, do Rio, São Paulo, acolá, cidade submersa, estranhas civilizações.

São fortes, são frágeis, mas, acima de tudo, são lindas! Mulheres de Athenas. Lindas sirenas, morenas, que se perfumam, se banham com leite, se arrumam em suas melenas. Mulheres! Querem ver o astronauta descer na televisão. Moças decididas sempre a se supermodernizar. 

Roubam sentidos, violam ouvidos com tantos segredos lindos e indecentes. Lindas, absolutamente lindas! Musas obtusas, musas do fado, mães gentis por todo ano, não só por um abril. Que nos deixam, no fundo, sentimentais e com uma boa dosagem de lirismo em rendas do Alentejo. Tanto mar amar com cheirinho de alecrim. Que fazem o coração fechar os olhos e sinceramente choram e redimem, são mais, muito mais, são poços de bondade de açúcar e afeto.

Outro ingrediente fundamental da mulher de Chico é o seu amor e um jeito manso que é só delas. Mulheres, que ao conhecer, sonhamos, fazemos tantos desvarios, rompemos com o mundo, queimamos nossos navios em travessuras de noites eternas. Queremos ficar em seus corpos feito tatuagem, que nos dá coragem, para seguir nossas viagens, quando a noite insiste em chegar caindo do páramo, poema à beira-mar. 

E assim se faz magia, roda-viva, roda-mundo, roda-gigante em que se (e)leva esse amor. Consta nos astros, nos signos, nos búzios, está lá no Evangelho, garantem os orixás: mulher, serás o meu amor, serás a minha paz. Que eu seja o terceiro a chegar sem nada levar, sem nada dizer, apenas te chamando de mulher... e agora que cheguei, eu quero a recompensa, eu quero a prenda imensa dos carinhos teus!

E o dia nasceu em paz com todas as mulheres de Chico!



Carlos Monteiro
 é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve “Fotocrônicas”, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.