Poemas do livro Caixa de Vazios, de Vicente Humberto

 por Vicente Humberto__




Azul


Estou surpreso

Com esta minha surpreendente

Vulnerabilidade

Ontem estava totalmente

Seguro

Havia tomado a decisão

Hoje acordei vulnerável

Como um poeta

Absolutamente sujeito

A chuvas e trovoadas

E nem percebi que lá fora

Fazia um dia azul




Capim


No

Vazio

Verde

Do capim

Que pasto

E brota

Em mim

Aparo

Masco

Horas

A fim

À espera

Interminável

Acerca do fim




Ensaio


Socorro

Sou eu de novo!

Vou dormir na biblioteca

Até apagar o quadro de minha

Incurável psicose

Eu que sempre imaginei

No alto das minhas percepções

Que saberia a esta altura

Apartar ovelhas

Dei neste penhasco de mim

Sem sequer saber medir

A distância entre a lucidez

E a insônia

Sim, sou eu de volta

As voltas, dando voltas

Em volta de mim

Obediente, atendo ao chamado

Da sirene da fábrica

Versos inúteis

Escrevo como quem escreve

A doença prazerosa

De estar entre

Aurora e escuridão

Amanheci melhor

Consciente



Vicente Humberto (@vicentehumbertoo) nasceu em Uberaba, Minas Gerais. Durante sua vida, viveu em diferentes cidades, como Goiânia, Pires do Rio, Ipameri, Inhumas, São Paulo, Ouro Preto, Belo Horizonte, Ituiutaba e Rio de Janeiro. Atualmente reside em Araxá (MG) e Catalão (GO).  Poeta, se formou em Engenharia de Minas, pela UFMG, e em Letras, pela UFG. Sua estreia literária aconteceu em 1983 com o livro “Folhas levadas”. Também publicou “Perpendiculares” (Editora Arte Pau Brasil, 1986), “Abacates no Caixote” (Ficções Editora, 2020)  e “Borboletas no Repolho” (Editora Ficções, 2021). Seu novo livro “Caixa de Vazios” (Ficções Editora, 2024) tem a percepção de mundo do poeta como guia para pensar a falta, a solidão e os fins e começos. Além disso, lançou álbuns de músicas com seus poemas. Eles estão disponíveis nas plataformas de streaming, como Spotify e Deezer.