The Tower | Crônica de Marcela Elisa

 por Marcela Elisa__



Olho que tudo vê e boca cheia de dentes afiados lançando um fogaréu para cima daquilo que a ruge na estruturada destroçada. Pessoas caem (ou se jogam) lá de cima, de cabeça para baixo. A carta toda está desenhada em vermelho, amarelo e preto e mesmo até o mais tarólogo mais otimista sabe: vem bomba por aí!

Era um dia comum na vida de uma mãe solo, divorciada e solteira. Divorciada e solteira é um troço engraçado de ser porque as pessoas me perguntam se é meu estado civil ou meu estado relacional e eu falo que é meu estado emocional mesmo. Divorciada e solteira. Mas aí, a taróloga renomada e com voz doce me conta que em 2025 a natureza do meu caminho será a Torre. 

Porra, mano, a torre? Já não basta ser divorciada, solteira, mãe solo e professora?

Bom, ao que parece, essa carta significa libertação, mas não é do tipo silenciosa e alegre, não. É daquelas que faz muito barulho, tem sangue, suor e lágrimas por onde quer que passe. E não dá para fugir, dar um olé, tentar ser mais ruidosa? Não, disse ela. É preciso pegar o que está desmoronado e de duas uma, ou você constrói alguma fortaleza a partir dos restos do que caiu ou você deixa a torre ruir sem que isso atrapalhe seu trabalho diário. 

Porra, mano, mas nem para atrapalhar tudo, pedir licença da escola, deixar filho com o pai e tirar trinta dias de férias na praia?

Segundo ela, o ariano não tem um dia de paz, é a vida, amore, sacode a poeira e dá a volta por cima. Fico olhando as cartas na mesa, o olhar poético daquela menina de voz doce e não sei, ao certo, se ela está cantando um samba da Beth Carvalho, se está decorando um para-choque de caminhão ou se, realmente, está traçando meu destino com uma placa de aviso pendurada no pescoço: vai cair, vai cair!

E sabe o pior, meus amigos? Eu já caí. Não é nem fevereiro e eu já estou esborrachada no chão, com dois vidros de ansiodon no armário azul e mais um curso de meditação comprado em 10x sem juros. Já estou com os joelhos ralados, com o cabelo alvoroçado e só não machuquei as palmas das mãos porque segurava as apostilas do 1º ano C e, portanto, elas me protegeram do infortúnio em ter dificuldades em segurar um mísero copo de água. 

Então, é isso. Resta saber da volta por cima. Pode ser que surja hoje ou amanhã, enquanto troco o curativo dos cotovelos que, na queda, sofreram arranhões superficiais, mas que nenhum band-aid dá conta.



Me chamo Marcela Elisa e sou mãe do Francisco, além de escritora, professora na educação básica e pesquisadora da Linguística Aplicada. Atualmente, moro no sul da Bahia e me dedico a ensinar Língua Portuguesa para a comunidade de Taipu de Dentro, enquanto escrevo meu primeiro livro sobre as experiências de ensinar e aprender pelo Brasil afora.  No mais, gosto de tarot, de ir a shows e de suar na corrida.