Três poemas de Vitória Teles

por Vitória Teles__ 


Foto de Spenser Sembrat na Unsplash


Sete sentinelas


Os maiores incêndios

são guardados a sete chaves 

desconhecidos pelos milhares


E quando aparecem surpreendem os insensatos,

que com sua falta de braveza, se acham exatos 

quando rebaixados, engolem o fracasso


Inacessível, como alguém poderia fazer isso?

me destrancaram, que impossível!


Um novo corpo celeste que depende de mim

novas descobertas que acabaram o meu fim


Estranheza bate a porta

não quero atender, mas estou curiosa


O que seria uma grande aposta?

talvez um molho de chaves, e um grande cadeado 

ou um candelabro com sete pequenas velas ao lado


Acenda e aceite 

a existência de um novo concorrente 


É fato que sou onipresente 

mas não a ponto de achar conveniente


Sem freios


Tenho medo de não conseguir escrever meus poemas

de não colocar meu sentimento em palavras 


Que não fazem sentido 

para quem não sente


Enigmática

Quero ser uma poeta sem freio


Desejo que minhas escritas nunca terminem ruins

sem vontade ou inspiração


Quero usar toda minha criatividade

Usufruir

sem medo de esgotar


Para voar sem asas pela minha cabeça

quero ler e sentir

do mesmo jeito que fiz quando me senti só


Quero me decepcionar e amar

quero ser feliz

do jeito que eu sempre quis


Metamorfose


Como Raul Seixas

eu quero ser uma metamorfose de pés às vezes no chão


Inspiradora e fascinante, 

ao menos para mim mesma 

— consigo leva a vida de forma desleixada 


Aprendendo a existir como um imigrante 

fugindo dos constantes perigos 


Eu quero ser essa metamorfose 

de pés às vezes no chão


Que procura conforto nas suas opiniões

perante pessoas ignorantes 


Que dizem ser donas da razão

quando não há nexo entre suas palavras

e suas ações de encher balões furados


Quando julgam sem conhecer

e mesmo quando conhecem abominam o meu ser 


Eu prefiro ser aquela metamorfose ambulante


Que Raul Seixas cantou 

quando queria se libertar daquele conceito ignorante



Domínio do querer


O domínio da arte de saber 

me faz querer acordar 


Para o agora

para o depois

para o passado e futuro


A tudo aquilo que promete ser inumerável…


Tenho esse propósito

e anseio ser assim para sempre


Continuamente

sem pontos finais, apenas vírgulas, ou reticências...


Com exagero e emoção

sigo sendo uma perpétua poeta imprudente


Que busca entender toda a infinidade 

que tem sede de saber mais

mesmo sentindo apreensão do imenso 


Que nada sobre inúmeros rios e riachos

mares e oceanos


Me inundado 

do entendimento


Todos os dias

sem arrependimento






Vitória Teles nasceu em São Paulo, em 2007. Gosta de Chico Buarque e filmes como “De Repente 30” e “Coraline”. Dança desde criança e entende a música numa perspectiva de movimento. Começou a escrever em 2021, mas não como escape de amor ou paixão a alguém — quem sabe tudo é ficção. Publicou na Revista Tyrannus Melancholicus. Faz parte do Sarau da Biblioteca Municipal Ieda Damaceno. Participou do V Encontro de Poetas Delmirenses (2024), como a poeta mais jovem à ocasião. Publlicou O Tutto o Niente, livro de poesia pela Edições Parresia em 2024.