Três poemas para Sophia de Mello Breyner Andresen – por Manoel T. R.-Leal

 por Manoel Tavares Rodrigues-Leal_





Sophia de Mello Breyner Andresen (06/11/1919 – 02/07/2004)
                                                    
“Que poema, de entre todos os poemas,

Página em branco?”


Do livro Coral (Sophia)

Inscrição no caderno Limae Labor, de M.T.R.-Leal.

1

À Sophia 


invoco a tua figura fugidia

antiga como a perfeição de um dia


Lx.ª 16/11/92 – Inédito – 1º versão  

2

À Sophia


invoco a tua figura fugidia

antiga como a concepção de um dia


Lx.ª 16/11/92 – 2ª versão 

3

À Sophia, em Lagos


aquela rapariga que inclinasse sua fronte pura


sobre a praia branca


essa busca de solidão na sombra do verão


aqui te visito e de ti me lembro perfeita e pura

Lx. 11/11/92

Fotograma do filme de João César Monteiro: Sophia de Mello Breyner Andresen (1972)



“Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar”


Sophia de Mello Breyner Andresen


Manuscrito dos poemas 1 e 2. Do lado esquerdo da imagem um poema dedicado a Fernando Pessoa.



Manuscrito do poema 3. À direita uma nota: “À Sophia de Mello Breyner Andresen, minha prima [M. T. R.-Leal era primo de Francisco Sousa Tavares, marido de Sophia]. Passagem por Lagos em 1968, com o Eduardo Jorge de Freitas: encontro com a Maria Andresen de Sousa Tavares [filha de Sophia].”




Nota — O micropoema 2 foi publicado num artigo da revista Caliban: “Seis poemas inéditos a Sophia de Mello Breyner Andresen — I”. Qual dos dois poemas ou das duas versões do mesmo poema é a mais interessante? Fica ao critério do leitor.


https://revistacaliban.net/evocando-sophia-seis-poemas-in%C3%A9ditos-de-manoel-tavares-rodrigues-leal-42013d071dcf

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*Três poemas (um inédito) coligidos do caderno (Des)construção da fala (1992) por Luís de Barreiros Tavares




Manoel Tavares Rodrigues-Leal (Lisboa, 1941-2016) foi aluno das Faculdades de Direito de Lisboa e de Coimbra, frequentando até ao 5.º e último ano, mas não concluindo. Em jovem conviveu com Herberto Helder no café Monte Carlo frequentando com ele “as festas meio clandestinas, as parties de Lisboa dos anos 60 e princípios de 70”. Nesses anos conviveu também com Gastão Cruz, Maria Velho da Costa, José Sebag, entre outros. O seu último emprego foi na Biblioteca Nacional, onde trabalhou durante longos anos (“a minha chefe deixava-me sair mais cedo para acabar o meu primeiro livro, A Duração da Eternidade”). Publicou, a partir de 2007, cinco livros de poesia de edição de autor. As suas últimas semanas de vida foram muito trágicas, caído no quarto, morrendo absolutamente só no Natal e passagem do Ano 2015-2016.