por Adriano Espíndola Santos__
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Foto de Jr Korpa na Unsplash |
Estou no trabalho, sentado, olhando a tela do computador. Com fones, escuto uma música para acalmar. A tensão ainda é grande. Depois que retornei, com a liberação do INSS, não tenho me acostumado com o ritmo de vida sufocante. Os trabalhos empilham na mesa. Parece que o tempo em que estive afastado foi somente um recesso — assim entendem os meus chefes. Avalie eu falar em férias — foi o que tive vontade de pedir logo na primeira semana. A copeira, muito atenciosa, traz uma xícara de café — já é a terceira que tomo só no começo do dia. Estou me tremendo, acho que é um nervosismo intrínseco. O meu médico só está marcado para o próximo mês, ele não tinha vaga. Agora tento acalmar o coração. Meus chefes saíram, mas não sem antes deixarem recomendações extravagantes. Tenho que terminar uma planilha ainda hoje, e eu não consigo olhar para uma planilha. Fico pensando se o que ganho compensa estar trabalhando aqui. Ganho o razoável para viver. As notícias são desalentadoras: faltam vagas de emprego, e eu já tenho quarenta e cinco anos. Para a média de empregos, quarenta e cinco anos já está fora da faixa de trabalho. É como se eu fosse um objeto descartável, mesmo depois de tantos cursos que fiz. Tenho um currículo bom, sou mestre em Economia. Mando-o para diversas empresas, mas não obtenho respostas; ou, quando, sim, dizem que vão guardar o meu currículo para uma próxima oportunidade. O ambiente me impregna de desgosto. Subitamente, uma tendência leve para a calmaria toma conta do meu corpo. Deito a cabeça na mesa, por alguns segundos, que se estendem por minutos. César, meu colega, vem perguntar se tudo está bem. Todos sabem que tenho depressão em alto grau. Não quero que tenham pena de mim, quero que entendam que tenho limitações. Quando retornei ao trabalho, meus chefes me perguntaram se eu estava pronto para recomeçar. Fui sincero, disse que mais ou menos. Dante, o patrão linha dura, me olhou meio cismado. “Ihhhh, esse aí não tem jeito!”. Noto que querem me pôr para fora por justa causa. Não arranjam um motivo satisfatório. Retomo a me distanciar do trabalho, coloco a cabeça sobre a mesa. César está incomodado, me cutuca. “O que é que houve, cara?!”. Não é só César que presta atenção em mim. Inara, do outro lado da sala, não para de olhar para mim, mas com uma cara de enjoo, como se eu fosse um escroto fingidor. Levanto levemente para ir ao banheiro e lavar o rosto. Deusimar dá dois tapinhas nas minhas costas e diz: “Ânimo!”. As pessoas não sabem, definitivamente, o que é depressão. Balanço a cabeça, em sinal positivo, para Deusimar. Ele me olha com cara de pena, como se tivesse lido o meu pensamento. Saio do banheiro um pouco confuso. Digo a Deusimar que preciso ir à farmácia, que fica logo à frente do escritório. Na verdade, arranjo uma desculpa para fugir dali. Pego um Uber e vou à casa de Marta, minha noiva, para chorar e declarar a minha insuficiência emocional. Pode ser que ela não tenha paciência comigo. Pode ser que o mundo esteja cansado de pessoas “preguiçosas”. Pode ser que eu não me encaixe aqui.
Adriano Espíndola Santos é natural de Fortaleza, Ceará. Em 2018 lançou seu primeiro livro, o romance “Flor no caos”, pela Desconcertos Editora; em 2020 os livros de contos, “Contículos de dores refratárias” e “o ano em que tudo começou”, e em 2021 o romance “Em mim, a clausura e o motim”, estes pela Editora Penalux. Colabora mensalmente com as Revistas Mirada, Samizdat e Vício Velho. Tem textos publicados em revistas literárias nacionais e internacionais. É advogado civilista-humanista, desejoso de conseguir evoluir — sempre. Mestre em Direito. Especialista em Escrita Literária e em Revisão de Textos. Membro do Coletivo de Escritoras e Escritores Delirantes. É dor e amor; e o que puder ser para se sentir vivo: o coração inquieto. Instagram: @adrianoespindolasantos | Facebook: adriano.espindola. e-mail: adrianoespindolasantos@gmail.com