E assim se passaram cinco anos | Crônica de Carlos Monteiro

por Carlos Monteiro__


Fotografia de Carlos Monteiro


Era 11 de marco de 2020, o mundo entre espanto, alarde e medo recebia a notícia fatídica naquela quarta-feira: “Consideramos que a Covid-19 esta sendo qualificada como uma pandemia”.  Logo o burburinho se formou, a cidade em pânico, meio sem saber o que fazer passou a se cumprimentar com os cotovelos e andar mais ressabiada. Na sexta-feira, 13 de março (não há nada aí de superstição), fotografava um bate-papo entre Ruy Castro e Heloísa Seixas na Livraria Janela do Jardim Botânico. Anda que impactado com as ‘novas’, o público presente não parecia tão amedrontado com o porvir. 

Foi o último evento ‘aberto’ que participei naquele ano. Na terça-feira seguinte veio o lockdown. Estávamos no novo-normal. Muita desinformação, muita descrença, muito negacionismo e por aí vai...

Neste período, sem poder sair para minhas Alvoradas Cariocas, criei o projeto Alvoradas da Janela Lateral, algumas fotos diárias, ‘apresentando’ o amanhecer daqueles dias sombrios, mas cheios de sol e luz. Foram mais de 430 dias ininterruptos fotografando o arrebol carioca da janela ‘do quarto de dormir’, publicados nas mídias sociais e em alguns portais da internet.

No silêncio da madrugada eu refletia como seria o futuro, ouvia o cantar dos pássaros que voltaram a gorjear, via a natureza mais exuberante e a atmosfera mais limpa, com menos UV, apostava em um mundo melhor, em um mundo onde houvesse mais empatia, solidariedade. Um mundo antirracista, sem xenofobia, misoginia, etarismo, preconceitos. Um mundo em que as pessoas pensassem mais no coletivo esquecendo o egoísmo e seu próprio ‘eu’. Um mundo efetivamente melhor... pena, pois este ‘mundo melhor’ se tornou um mundo de egoísmo, mais preconceituoso, mais negacionista, mundo que segundo alguns é até plano.

Triste saga da humanidade.





Fotografias de Carlos Monteiro


Carlos Monteiro é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.