Ele, quem sabe, passarinho | crônica de Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro__











O maior cronista brasileiro de todos os tempos, há trinta e cinco anos, bateu asas e vou para os pomares celestiais. Metamórfico, é passarinho ou borboleta amarela no firmamento.

O Poeminho do Contra, de Mario Quintana, bem que poderia ter como fonte de inspiração Rubem Braga. Amante incondicional da natureza, Rubem morava numa cobertura no 22° andar na rua Barão da Torre, no bairro carioca de Ipanema, cercado de aquários de peixes, pássaros que criava soltos, flores, uma horta para lá de aromática, um pomar com pitangueiras e jabuticabeiras de dar inveja a muitos sitiantes, onde eram colhidas pequenas frutas. Um verdadeiro Jardim Suspenso de Ipanema que lhe rendeu o apelido, dado por Paulo Mendes Campos, de: “O único lavrador de Ipanema”.

Em 1932, cobriu a Revolução Constitucionalista, deflagrada em São Paulo, para os “Diários Associados”; foi preso. Ali começava, de fato, sua carreira como jornalista. 

  Em 1936, lançou O Conde e o Passarinho, seu primeiro livro de crônicas e em 1938 fundou, junto com Azevedo Amaral e Samuel Wainer, a revista Diretrizes que, por ordem do governo Vargas, foi tirada de circulação em 1940. 

Durante a Segunda Guerra Mundial, atuou como correspondente junto à Força Expedicionária Brasileira – FEB, pelo Diário Carioca, na cidade italiana de Monte Castelo. Lá viveu os horrores do combate ao lado de outros jornalistas como Thassilo Mitke, da Agência Nacional, Egydio Squeff, do O Globo e, em especial, do jornalista Joel Silveira de quem se tornou grande amigo. 

Morou com ninguém mais ninguém menos que Graciliano Ramos numa pensão no Catete, bairro da Zona Sul carioca, numa casa no Posto 6 em “Ai de ti, Copacabana” e, finalmente, na cobertura-oásis da Barão da Torre. Suas sutilezas eram de uma genialidade de olhos postos, via plectro, no simples bater de asas de uma borboleta amarela avistada no Centro da capital carioca 

Em minhas fotos das Alvoradas Cariocas, me ‘apropriei’ deste trecho como inspiração para as imagens que capto através das lentes de minha câmera: “Acordo cedo e vejo o mar se espreguiçando; o sol acabou de nascer. Vou para a praia; é bom chegar a esta hora em que a areia que o mar lavou ainda está limpinha, sem marca de nenhum pé. A manhã está nítida no ar leve; dou um mergulho e essa água salgada me faz bem, limpa de todas as coisas da noite”.

Foi ser borboleta amarela no páramo!



Carlos Monteiro é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.