Laudelinas XVIII

 por Taciana Oliveira__



A primeira edição da Laudelinas foi publicada em março de 2020, um ano marcado pela pandemia e pelo crescente número de mortes, reflexo do descaso de um governo abertamente fascista e negacionista. Criada como um espaço de acolhimento para vozes femininas em suas diversas formas de atuação, a publicação homenageia Laudelina de Campos Melo (1904–1991), ativista negra pioneira na organização das trabalhadoras domésticas e na luta por seus direitos no Brasil. 


A partir do segundo volume, Laudelinas se consolidou no formato de revista. Desde então, a Mirada disponibilizou gratuitamente 17 edições da sua “nova” revista digital. Em suas páginas, mulheres cis e trans de todas as regiões do Brasil contribuíram com narrativas nos mais diversos formatos literários e artísticos. Laudelinas se tornou um veículo afetivo e agregador, uma plataforma de fomento a pautas progressistas. Sim, nossa proposta central sempre foi esta: promover o diálogo e manter a resistência diante de iniciativas que estimulam a segregação e a censura. É preciso sair do nicho e, de fato, atender às demandas urgentes, ampliando nossa atuação para além da superficialidade. Como afirmou Paulo Freire em sua obra Pedagogia do Oprimido (1968): “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão.” Essa máxima reafirma a necessidade de caminharmos juntas, construindo redes de apoio e fortalecendo as lutas sociais com responsabilidade e compromisso coletivo. Enquanto nos afogamos em um emaranhado de comentários rasos nas redes sociais, a extrema-direita se fortalece. Perdemos, assim, o que de fato importa: a construção de mudanças concretas e duradouras.


Nossa primeira edição física da Laudelinas nasce, então, com a obrigação de não se fechar à escuta e ao acolhimento. É preciso somar, não dividir. Ir à raiz do problema sem nos afogar nos extremismos do corpo e da palavra, sem nos distanciar de quem pode agregar aos valores democráticos. É preciso valorizar a vida, e não a extinção. Que nosso compromisso com a transformação não se perca no radicalismo. Que a luta continue, mas que seja construída com abertura, inteligência e humanidade.


É preciso não se calar. Não perecer diante do inimigo que tenta nos esmagar na essência. É preciso ouvir os pássaros, sobreviver à necropolítica, que sorri descaradamente diante da morte. É preciso respirar liberdade em pátrias devastadas pelo ódio e devolver aos bons o prazer da sua existência.



Taciana Oliveira, criadora das revistas digitais Laudelinas e Mirada.


*Quem adquiriu a versão impressa da publicação a receberá nos próximos dias. Devido ao feriado nacional de Carnaval e do estadual Carta Magna de Pernambuco, a expedição dos exemplares ainda não foi concluída pela gráfica. No decorrer eles serão enviados pelos correios assim que chegarem em nossas mãos (a previsão é a partir de 15 de março). A versão em PDF, disponível para download gratuito, só será disponibilizada ao final do mês.


capa da versão física 



Abaixo segue a versão digital, disponível apenas para leitura.



*Clique nos três pontos abaixo, à direita, para acessar a plataforma em tela cheia.



Participam dessa edição: Adri Aleixo, Adriane Garcia, Amanda Vital, Bruna Sonast, Carol Sanches, Cinthia Kriemler, Conceição Rodrigues, Deborah Dornellas, Elisha Silva de Jesus, Germana Accioly, Iaranda Barbosa, Juliana Meira, Márcia Sandy, Patrícia Gonçalves Tenório, Rosa Morena, Silvana Guimarães, Taciana Oliveira, Thara Wells e Viviane Melo de Mendonça.